Economia

Até quando o dólar vai continuar caindo?

Uma das questões mais importantes para a economia brasileira tem passado ao largo das atenções neste começo de ano: o dólar vai continuar sua trajetória de enfraquecimento no mercado internacional? Pode não parecer, mas muito do cenário econômico nacional em 2004 depende da resposta a essa questão. Antes que alguém estranhe ouvir falar em enfraquecimento […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h05.

Uma das questões mais importantes para a economia brasileira tem passado ao largo das atenções neste começo de ano: o dólar vai continuar sua trajetória de enfraquecimento no mercado internacional? Pode não parecer, mas muito do cenário econômico nacional em 2004 depende da resposta a essa questão.

Antes que alguém estranhe ouvir falar em enfraquecimento do dólar, é preciso explicar que a força de uma moeda importante é medida em relação a sua cotação com outras moedas importantes, como euro ou iene, não em relação ao real.

Pois bem, quando alguém olha para o que aconteceu com o dólar em relação a essas moedas, houve uma desvalorização de quase 15% desde o começo de 2002. O lado bom para o Brasil é que, como o real é geralmente comparado ao dólar, ele também acaba se desvalorizando em relação às moedas da Europa e da Ásia. Com isso, os produtos brasileiros ficam mais competitivos nos mercados europeus e asiáticas, mesmo que a cotação entre real e dólar se mantenha constante. É como se a moeda brasileira se desvalorizasse sem que ninguém percebesse. E isso ajuda a balança comercial brasileira.

Mas a questão é: até que ponto? É verdade que há motivos concretos para apostar na continuidade do enfraquecimento do dólar. Os Estados Unidos estão com um déficit em conta corrente gigantesco que terá de ser ajustado, diz Alexandre Mathias, economista-chefe do Unibanco Asset Management. Isso quer dizer que os americanos precisam melhorar sua balança de comércio e de serviços com o resto do mundo para diminuir esse déficit e, nessa hora, a desvalorização do dólar ajuda muito.

O problema é que Europa e Ásia não parecem estar de acordo sobre quem vai ficar com a maior parte da conta do ajuste americano. Até agora, o euro tem se valorizado diante do dólar muito mais do que o iene, por exemplo. O Banco Central Europeu tem como diretriz não intervir no mercado de câmbio. Já o Japão faz exatamente o contrário e intervém pesadamente. E o outro peso-pesado da Ásia, a China, é um caso mais extremo: mantém o câmbio fixo e artificialmente desvalorizado.

Na prática, Japão e China compram dólares para que seus exportadores continuem abastecendo o mercado americano de produtos baratos. Daí a freqüente queixa americana sobre a exportação de empregos. A desvalorização forçada é uma forma artificial que os asiáticos usam para manter sua competitividade _ situação não muito diferente, segundo alguns economistas, daquela que levou à crise asiática de 1997, com câmbio fixo.

A mensagem dos europeus tem sido clara: será bom para o mundo que o dólar continue a se desvalorizar, mas é preciso que a Ásia faça a sua parte e deixe suas moedas valorizarem, para refletir a força de produção e comércio reais das economias. Na segunda-feira (19/1), o Japão mandou a resposta: o Banco Central ampliou sua meta de liquidez, uma indicação de relaxamento da política monetária o que joga contra os anseios europeus. A China, por sua vez, tem ignorado solenemente qualquer apelo de mudança na política cambial.

Resumo da ópera: há boas razões para que o dólar continue perdendo valor o que seria ótimo para as exportações do Brasil na Ásia e na Europa, que respondem por quase metade da pauta brasileira. Mas há uma briga em curso para saber que país vai arcar com o ônus. Muitos, como a revista britânica The Economist, sugerem que a moeda americana pode já ter se desvalorizado o bastante. Seja como for, trata-se de uma briga de gente grande, e não resta muito às autoridades brasileiras senão esperar. E torcer para que os ventos no mundo das finanças continuem tão bons como têm sido nos últimos meses.

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