As condições para Bolsonaro aprovar sua Previdência, mesmo que desidratada
Previsão do Itaú é que após trâmite no Congresso, reforma de Bolsonaro seja aprovada em versão desidratada que garanta metade da economia prevista
João Pedro Caleiro
Publicado em 19 de fevereiro de 2019 às 13h27.
Última atualização em 19 de fevereiro de 2019 às 13h38.
São Paulo – O que torna um governo capaz de aprovar reformas profundas?
Em reunião com jornalistas na manhã desta terça-feira (19), o economista-chefe do Itaú, Mário Mesquita, identificou três condições: a popularidade do presidente, a sua identificação ideológica com o Congresso e a sua capacidade de articulação política.
O governo Dilma Rousseff não preenchia nenhum dos três requisitos: a presidente impopular era de esquerda contra um Congresso de direita e estava fragilizada politicamente.
Já Michel Temer estava ideologicamente alinhado com um Congresso com o qual tinha muita experiência em lidar - mas tinha números de popularidade abissais.
Jair Bolsonaro começa seu governo preenchendo plenamente as condições de popularidade e alinhamento ideológico, mas ainda está construindo seu traquejo político, como mostraram os episódios da última semana envolvendo a demissão do ministro Gustavo Bebianno.
A rapidez desta “curva de aprendizado” pode definir o sucesso ou fracasso da reforma da Previdência, marcada para ser apresentada oficialmente amanhã (19).
O cálculo do Itaú, com base em minutas vazadas para a imprensa e declarações da equipe, é que a reforma será ampla e garantiria uma economia de cerca de R$ 1 trilhão em uma década, números também já apontados pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
A dúvida é se os pontos mais polêmicos e o cálculo de economia vão se sustentar ao longo da tramitação, que será longa pois se trata de uma emenda constitucional.
A aposta do Itaú é que a PEC pode estar pronta para ser votada na Câmara dos Deputados no início do segundo semestre, mas com uma economia reduzida a R$ 500 bilhões em uma década.
O número ficaria então próximo daquele previsto pela reforma de Temer também enfraquecida após uma série de negociações.
"A proposta tende a ser muito mais ambiciosa e faz sentido, porque o Congresso já sinalizou que não terá uma tramitação rápida. Se for pouco desidratada, isso é positivo e ajuda a aumentar a confiança. Se for muito desidratada, é menos positivo", diz Mesquita.
A equipe de economistas destaca que a estimativa do banco é relativamente conservadora e que mesmo esse resultado "não seria ruim", mas que a reforma é parte de um processo longo para o país sair da "UTI fiscal".
“A reforma da Previdência é necessária, mas não suficiente para o ajuste fiscal, que vai depender também de uma nova política para o salário mínimo e para os aumentos do funcionalismo, além de retomada da economia, que gera crescimento de receita, e também possivelmente aumento de impostos”, diz Mesquita.
Enquanto isso, a atividade econômica segue mostrando sinais de fraqueza: o Itaú revisou sua projeção de crescimento do PIB em 2018 de 1,3% para 1,1% e de 2019 de 2,5% para 2%
"Nada sugere grande aceleração do crescimento no primeiro trimestre”, diz o economista Artur Manoel Passos, apesar do cenário internacional estar mais benigno.
O Federal Reserve mudou de rumo e adotou uma postura mais acomodativa; o Itaú prevê uma única alta dos juros americanos neste ano, no segundo semestre. Isso favorece os emergentes, de forma geral, e as projeções de inflação brasileira estão abaixo do centro da meta.
Mas o Itaú não prevê novos cortes de juros no início da gestão de Roberto Campos Neto, o novo presidente do Banco Central, que será sabatinado na semana que vem para assumir o lugar de Ilan Goldfajn. Ele deve aguardar clareza sobre os riscos no trâmite da reforma antes de algum movimento.
“A sustentabilidade do juro baixo depende de aprovar a previdência”, diz Fernando Gonçalves, um dos economistas do Itaú.