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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h35.
A indústria está otimista com as perspectivas de negócios neste ano, mas não descarta uma desaceleração da produção entre janeiro e março. Segundo os resultados prévios da 154ª Sondagem Conjuntural da Fundação Getúlio Vargas, 25% das 501 empresas consultadas esperam aumentar sua atividade neste período, contra 32% que apostam numa queda da produção. O saldo de 7% (diferença entre os que apostam no aumento e os que prevêem queda) é o pior desde janeiro de 2003, quando foi de 9%. No ano passado, o saldo foi também de 9%, mas a favor do incremento da produção.
"Esse é o indicador que sinaliza de modo mais forte um arrefecimento da atividade industrial nos próximos meses", afirma o economista Aloísio Campelo, coordenador da pesquisa. Ontem (11/1), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já havia divulgado uma queda de 0,4% na produção industrial de novembro em relação a outubro.
De acordo com Campelo, ainda é cedo para saber se a desaceleração prevista pelos empresários é o início de uma reversão na tendência de crescimento do país. O mais provável, segundo o economista, é que se trate de um fenômeno passageiro. "O suposto abrandamento da produção pode ser apenas cíclico", diz.
Demanda estável
Alguns dados sustentam essa avaliação. O primeiro é que, apesar de preverem uma possível queda na produção até março, as empresas acreditam que a demanda continuará nos mesmos patamares de anos anteriores. Segundo a sondagem prévia da FGV, 26% das indústrias apostam em aumento de demanda entre janeiro e março, contra 30% que apontaram queda. O saldo (-4% em favor da retração) é o mais favorável desde janeiro de 2002, quando o resultado chegou a -1%.
Quando se abrem os dados da demanda, a conclusão é que o mercado interno é a maior aposta das companhias neste trimestre: 28% delas afirmam que a demanda interna crescerá, contra 32% que apostam em retração. O saldo (-4%) também é o melhor desde janeiro de 2002, quando ficou positivo em 2% (isto é, havia mais empresas apostando em incremento da demanda do que na queda). Segundo Campelo, o que anima os produtores é a expectativa de aumento da massa salarial, estimulada pela redução do desemprego.
Já o recuo dos preços internacionais das commodities, a perspectiva de desaceleração da economia mundial e, sobretudo, o recuo da taxa de câmbio fizeram as empresas ficarem mais desanimadas com a demanda externa: 21% esperam incremento das exportações, contra 23% que acreditam em recuo. O saldo de -2% é o pior desde janeiro de 2002, quando ficou em -3%.
Emprego e preços
Segundo Campelo, o dado mais positivo da sondagem prévia é a disposição das empresas de abrirem novas vagas até março. Tradicionalmente, o primeiro trimestre é um período de baixa atividade industrial no Brasil. Por isso, as dispensas costumam superar as contratações. Mas, neste ano, 13% das empresas estão dispostas a contratar, ante 12% que devem demitir. O saldo positivo de 1% é o melhor desde 1997, quando a FGV iniciou a série histórica.
O recuo das commodities, sobretudo o petróleo, e o câmbio mais favorável para quem importa matérias-primas e equipamentos deixaram as companhias menos propensas a reajustar os preços neste trimestre. Segundo a sondagem, 35% dos participantes afirmaram que elevarão suas tabelas neste período, contra 45% em janeiro do ano passado. "Esse é um resultado bastante razoável", diz Campelo.
Situação atual
As companhias também estão satisfeitas com sua situação atual. Dos 501 participantes da sondagem prévia, 18% afirmaram que o atual momento é bom para os negócios, contra 9% que o consideraram fraco. O saldo (9%) é o melhor desde janeiro de 2001, quando atingiu 11%.
A sondagem prévia da FGV foi elaborada a partir das respostas de 501 empresas. Os dados foram coletados entre 27 de dezembro e 10 de janeiro. O resultado final será divulgado no final do mês, com uma amostra de cerca de 1 000 companhias. Para Campelo, o mérito da prévia é apontar a tendência da indústria, mesmo sem ter os dados finais.