Economia

Alguns membros do Fed se inclinaram a debate de mudança na política

Autoridades do banco central americano prometeram manter política monetária ultrafrouxa, apostando no caráter transitório da alta da inflação

O FED (Federal Reserve Bank), em português, Sistema de Reserva Federal, é o órgão governamental responsável por regular a economia dos Estados Unidos. (Brendan McDermid/Reuters)

O FED (Federal Reserve Bank), em português, Sistema de Reserva Federal, é o órgão governamental responsável por regular a economia dos Estados Unidos. (Brendan McDermid/Reuters)

R

Reuters

Publicado em 19 de maio de 2021 às 17h19.

Última atualização em 19 de maio de 2021 às 17h34.

"Algumas" autoridades do Federal Reserve pareciam prontas para começar a avaliar mudanças na política monetária dos Estados Unidos com base no rápido e contínuo progresso da recuperação econômica, de acordo com a ata da reunião de abril do banco central dos Estados Unidos, mas dados desde então já podem ter mudado esse cenário.

"Alguns participantes sugeriram que se a economia continuasse a fazer rápido progresso na direção das metas do Comitê poderia ser apropriado em algum ponto das próximas reuniões começar a discutir um plano para ajustar o ritmo de compras de ativos", mostrou a ata, na referência mais explícita até agora a possíveis mudanças nas compras de títulos e nos juros baixos do Fed adotados para o combate à crise.

Mas essa visão pode ter sofrido um golpe quando a criação de vagas de trabalho mostrou-se anêmica em abril. Embora a inflação tenha avançado, também uma preocupação citada na ata, a abertura de apenas 266.000 postos em abril forneceu pouco progresso adicional na direção dos esforços do Fed para fazer a economia retornar ao pleno emprego.

Autoridades do Fed prometeram manter sua política monetária ultrafrouxa, apostando que o salto inesperado dos preços ao consumidor no mês passado se deve a forças temporárias que vão diminuir sozinhas e que o mercado de trabalho dos Estados Unidos precisa de bem mais tempo para fazer as pessoas voltarem aos empregos.

Declarações de autoridades do Fed desde a reunião de 27 e 28 de abril indicaram que os dados de emprego de abril consolidaram a visão de que ainda é cedo demais para se discutir mudanças nas compras mensais de 120 bilhões de dólares em títulos pelo Fed.

O debate sobre o aumento da taxa básica de juro ante o atual nível perto de zero está ainda mais distante.

Potencial conflito

"É muito cedo para abrir a discussão sobre o taper (redução de estímulos)", disse o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, acrescentando que somente depois que a crise da saúde for mais totalmente controlada o Fed deve considerar restringir seu apoio à economia.

"Nas próximas semanas, isso pode ficar mais claro", disse ele a repórteres após participar de evento virtual em um fórum de economia.

As taxas de novos casos e mortalidade por coronavírus vêm caindo em todo o país, embora permaneça alguma preocupação de que, com cerca de 40% dos adultos ainda sem receber a vacinação, o risco relacionado à covid-19 persista.

A ata da reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) indicou que algumas autoridades do Fed, pelo menos naquele momento, consideraram alguma ação para reduzir o apoio à política monetária adotado na primavera passada (nos Estados Unidos) para ajudar a economia durante a recessão desencadeada pela pandemia do coronavírus.

À luz dos dados desde então, entretanto, a ata "está substancialmente obsoleta", escreveram os economistas do Citi Andrew Hollenhorst e Veronica Clark nesta semana.

Hollenhorst e Clark ainda esperam que o Fed comece a cortar suas compras de ativos em dezembro, mas ressalvam que isso depende de um "forte relatório de empregos em maio" que mostre pelo menos 750.000 novas vagas abertas.

Muito dependerá de os números de maio começarem a resolver o dilema apresentado ao Fed em abril.

Os empregos gerados no mês passado foram cerca de um quarto do número esperado por economistas em uma pesquisa da Reuters. O Departamento do Trabalho também informou no início deste mês que as vagas em aberto atingiram um recorde em março.

Para alguns analistas, os dados sugeriam que as pessoas estavam ficando de fora do mercado de trabalho por uma série de razões — desde o medo do coronavírus até os benefícios federais de seguro-desemprego — e que podem demorar mais para voltar ao trabalho do que o esperado.

A inflação, por sua vez, subiu mais rápido do que o previsto em abril, representando um conflito potencial entre os dois objetivos do Fed de maximizar o emprego e, ao mesmo tempo, manter os aumentos de preços sob controle. A inflação mais alta também gerou debate sobre se a política monetária está fora de sincronia com a situação atual da economia.

A fé de que as expectativas de inflação permanecerão moderadas, mesmo com os preços saltando no curto prazo, é fundamental para a perspectiva do Fed, e alguns analistas sugerem que pode ser difícil para as autoridades ignorar quanto tempo levará para que os mercados de bens, commodities e trabalho voltem ao normal.

"Ainda é surpreendente quantos funcionários do Fed descrevem as expectativas como 'bem ancoradas', apesar de as medidas de expectativas estarem em notável movimento", escreveu Karim Basta, economista-chefe da III Capital Management, na semana passada.

Assine a EXAME e acesse as notícias mais importantes em tempo real.
Acompanhe tudo sobre:Estados Unidos (EUA)Fed – Federal Reserve SystemInflaçãoJurosPolítica monetária

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor