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Soja no Brasil, a face oculta de um cultivo milagroso

O Brasil sonha em chegar às 90 milhões de toneladas da oleaginosa este ano e desbancar os Estados Unidos, primeiro produtor mundial de soja

Soja: grãos dourados que se amontoam nos reboques antecipam mais uma colheita recorde de soja no Brasil, obtida à base de muito sol e chuva, mas também de produtos químicos (Scott Olson/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 18 de fevereiro de 2014 às 19h36.

Sob uma nuvem de poeira, seis colheitadeiras enfileiradas devoram o campo. Os grãos dourados que se amontoam nos reboques antecipam mais uma colheita recorde de soja no Brasil, obtida à base de muito sol e chuva, mas também de produtos químicos.

"Tiro de 55 a 60 sacas (de 60 quilos) por hectare. É uma produtividade histórica para um começo de colheita", comemora Antonio Galvan, vice-presidente da cooperativa agrícola na cidade mato-grossense de Sinop (centro-oeste), confortavelmente instalado em sua máquina climatizada, guiada por GPS.

O Brasil sonha em chegar às 90 milhões de toneladas da oleaginosa este ano e desbancar os Estados Unidos, primeiro produtor mundial de soja.

"O principal fator é o clima: no estado de Mato Grosso choveu bastante e o sol foi abundante", conta o proprietário de 2.500 hectares de terras. "Isto pode acabar, mas por enquanto estamos em lua-de-mel!".

Enquanto isso, em outras regiões do Brasil, a seca e os ataques de pragas podem comprometer parte da colheita.

Um Equador inteiro plantado com soja

O segundo segredo da soja brasileira é a imensidão dos plantios. Sob uma espessa camada de folhas, os grãos da oleaginosa ocupam um total de 290.000 km², uma superfície superior à do território do Equador (283.000 km²).

"A soja tem um impacto indireto na Amazônia", lembra Marcio Astrini, da organização ambientalista Greenpeace.

"Com frequência, ocupa as áreas antes dedicadas à pecuária, que, por sua vez, é empurrada para a selva amazônica", prossegue.


Em alguns locais, os campos produzem duas colheitas ao ano, como os de Antonio Galvan, onde os discos de uma semeadora abrem trincheiras na terra avermelhada.

"Uma única chuva pode mudar tudo, por isso semeamos no mesmo dia da colheita", explica, enquanto tira da terra um grão de milho violeta, acrescentando: "Está coberto de produtos químicos, terminará de crescer em quatro meses".

Esta "pequena colheita" de milho ou algodão é comum na região, mas, em alguns campos colhidos, as folhas de soja já germinam.

"O milho vende barato, os colegas ficam tentados a plantar soja sobre soja. Mas isso aumenta o risco de pragas e empobrece o solo", alerta Galvan. No ano passado, de 80.000 a 100.000 hectares do Mato Grosso foram semeadas duas vezes seguidas com soja, segundo a Aprosoja, associação que representa o setor.

A produtividade brasileira também é grande consumidora de fitossanitários. O Brasil, quinta potência agrícola do planeta, é o primeiro consumidor desses produtos: 852 milhões de litros de pesticidas e 6,7 milhões de toneladas de fertilizantes foram consumidos em 2011, segundo a associação da indústria de proteção vegetal.

"O solo é pobre, deve-se adicionar azoto, fósforo e potássio para torná-lo fértil", garante Silveisio de Oliveira, produtor da vizinha Tapurah.

Assim como 89% da soja produzida no Brasil, as variedades que o ele cultiva são geneticamente modificadas. "Optar pelos OGM reduz os custos com fitossanitários e evita perdas. A variedade Intacta, da Monsanto, por exemplo, resiste aos ataques das lagartas", explica. Esta praga comeu 10% de seus ganhos este ano, lamenta.

O lado negativo dos OGM

Mas o uso intensivo dos OGM tem seu lado negativo. Por exemplo, quando o milho da "colheita pequena" brota entre a soja no ano seguinte.

"Quando o produtor aplica glifosato - um herbicida - elimina os ervas daninhas, mas não a soja, nem o milho de replantio porque ambos são RR" (transgênicos Roundup Ready, ou seja, resistentes ao glifosato), explicou em janeiro Nery Ribas, diretor técnico da Aprosoja Mato Grosso.

O problema é que a presença de dois a quatro pés de milho por metro quadrado de soja pode diminuir o rendimento da oleaginosa em até 50%, segundo o instituto Embrapa Soja.

Segundo previsões do Departamento de Agricultura americana (USDA), o Brasil deve exportar 44 milhões de toneladas do pequeno grão amarelo em 2013-2014, a maior parte para a China.

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"Tiro de 55 a 60 sacas (de 60 quilos) por hectare. É uma produtividade histórica para um começo de colheita", comemora Antonio Galvan, vice-presidente da cooperativa agrícola na cidade mato-grossense de Sinop (centro-oeste), confortavelmente instalado em sua máquina climatizada, guiada por GPS.

O Brasil sonha em chegar às 90 milhões de toneladas da oleaginosa este ano e desbancar os Estados Unidos, primeiro produtor mundial de soja.

"O principal fator é o clima: no estado de Mato Grosso choveu bastante e o sol foi abundante", conta o proprietário de 2.500 hectares de terras. "Isto pode acabar, mas por enquanto estamos em lua-de-mel!".

Enquanto isso, em outras regiões do Brasil, a seca e os ataques de pragas podem comprometer parte da colheita.

Um Equador inteiro plantado com soja

O segundo segredo da soja brasileira é a imensidão dos plantios. Sob uma espessa camada de folhas, os grãos da oleaginosa ocupam um total de 290.000 km², uma superfície superior à do território do Equador (283.000 km²).

"A soja tem um impacto indireto na Amazônia", lembra Marcio Astrini, da organização ambientalista Greenpeace.

"Com frequência, ocupa as áreas antes dedicadas à pecuária, que, por sua vez, é empurrada para a selva amazônica", prossegue.


Em alguns locais, os campos produzem duas colheitas ao ano, como os de Antonio Galvan, onde os discos de uma semeadora abrem trincheiras na terra avermelhada.

"Uma única chuva pode mudar tudo, por isso semeamos no mesmo dia da colheita", explica, enquanto tira da terra um grão de milho violeta, acrescentando: "Está coberto de produtos químicos, terminará de crescer em quatro meses".

Esta "pequena colheita" de milho ou algodão é comum na região, mas, em alguns campos colhidos, as folhas de soja já germinam.

"O milho vende barato, os colegas ficam tentados a plantar soja sobre soja. Mas isso aumenta o risco de pragas e empobrece o solo", alerta Galvan. No ano passado, de 80.000 a 100.000 hectares do Mato Grosso foram semeadas duas vezes seguidas com soja, segundo a Aprosoja, associação que representa o setor.

A produtividade brasileira também é grande consumidora de fitossanitários. O Brasil, quinta potência agrícola do planeta, é o primeiro consumidor desses produtos: 852 milhões de litros de pesticidas e 6,7 milhões de toneladas de fertilizantes foram consumidos em 2011, segundo a associação da indústria de proteção vegetal.

"O solo é pobre, deve-se adicionar azoto, fósforo e potássio para torná-lo fértil", garante Silveisio de Oliveira, produtor da vizinha Tapurah.

Assim como 89% da soja produzida no Brasil, as variedades que o ele cultiva são geneticamente modificadas. "Optar pelos OGM reduz os custos com fitossanitários e evita perdas. A variedade Intacta, da Monsanto, por exemplo, resiste aos ataques das lagartas", explica. Esta praga comeu 10% de seus ganhos este ano, lamenta.

O lado negativo dos OGM

Mas o uso intensivo dos OGM tem seu lado negativo. Por exemplo, quando o milho da "colheita pequena" brota entre a soja no ano seguinte.

"Quando o produtor aplica glifosato - um herbicida - elimina os ervas daninhas, mas não a soja, nem o milho de replantio porque ambos são RR" (transgênicos Roundup Ready, ou seja, resistentes ao glifosato), explicou em janeiro Nery Ribas, diretor técnico da Aprosoja Mato Grosso.

O problema é que a presença de dois a quatro pés de milho por metro quadrado de soja pode diminuir o rendimento da oleaginosa em até 50%, segundo o instituto Embrapa Soja.

Segundo previsões do Departamento de Agricultura americana (USDA), o Brasil deve exportar 44 milhões de toneladas do pequeno grão amarelo em 2013-2014, a maior parte para a China.

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