Economia

A estratégia de Estados Unidos e Iraque para a guerra

Afinal, quais são os objetivos dos americanos e os dos iraquianos na guerra que está para começar? De acordo com a empresa de análise político-militar Stratfor, a lista de metas estratégicas dos Estados Unidos é grande: Substituir o regime de Saddam Hussein por outro alinhado com os interesses americanos; Manter a integridade territorial do Iraque; […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h40.

Afinal, quais são os objetivos dos americanos e os dos iraquianos na guerra que está para começar? De acordo com a empresa de análise político-militar Stratfor, a lista de metas estratégicas dos Estados Unidos é grande:

  • Substituir o regime de Saddam Hussein por outro alinhado com os interesses americanos;
  • Manter a integridade territorial do Iraque;
  • Acabar -- por meio do controle político do Iraque -- com as ameaças iraquianas de uso de armas de destruição de massa;
  • Mudar a percepção que o mundo islâmico tem hoje do poderio americano, alterada desde 11 de setembro;
  • Eliminar qualquer colaboração possível entre Iraque e Al Qaeda;
  • Criar bases militares no Iraque para possíveis futuras campanhas militares na região.

    Ao contrário de George Bush, Hussein tem um único, vital e básico objetivo: a sobrevivência de seu regime político. Claro, ao mesmo tempo ele gostaria que a integridade física do Iraque fosse mantida -- mas isso se der. Ao contrário dos Estados Unidos (que precisam preservar ao máximo o território iraquiano, de forma a não criar ainda mais problemas na área, já sobrecarregada com conflitos étnicos envolvendo os curdos ao norte, e a não correr o risco de deteriorar as relações com a Turquia), Hussein está disposto a pagar o preço na forma de perdas territoriais, se isso permitir que seu poder seja mantido.

    A forma de cada um dos lados tentar conseguir o que pretende é oposta. Os Estados Unidos precisam de uma guerra curta e avassaladora, que atinja somente alvos militares estratégicos de Hussein, para forçar a capitulação -- tudo isso a um custo baixo e com o mínimo de danos à população (e a seu território rico em reservas de petróleo). Cálculos americanos dizem que o alto comando iraquiano poderia ser paralisado em 48 horas. Já o Iraque tem interesse em ganhar tempo. Foi o que Hussein tentou ao fingir que fazia de conta que as armas de destruição de massa que ele sempre afirmou ter tinham sido destruídas e, ao mesmo tempo, dar motivos para que o mundo duvidasse de que isso havia sido feito.

    Hussein, militar e tecnologicamente inferior aos Estados Unidos, bem que preferiria que não houvesse guerra. Então por que a resistência às inspeções? Porque, para ele, elas significam o fim da sua soberania. Assim, por mais que a guerra não seja um bom negócio para o país, ele escolheu a alternativa que lhe parece dar alguma chance de sobrevivência política. Além disso, haveria um efeito positivo, na visão de alguns setores militares iraquianos: desafiar os Estados Unidos poderia aumentar a percepção de poder do Iraque na sua região de influência.

    Como cada um dos lados pretende agir?

    Para resolver a equação que envolve precisão, velocidade e poucas baixas, os americanos contam a tecnologia embarcada em armas teleguiadas de precisão que possam ser apontadas para alvos estratégicos iraquianos, com o mínimo de efeitos colaterais. Essas armas são tecnicamente muito eficazes. Uma vez definido o alvo, é quase certo que ele será destruído conforme o planejado. Mas quem pode ter certeza de que os alvos identificados são os alvos certos?

    O segundo grande risco americano é a possibilidade de eclosão de uma guerra urbana, com conseqüências muito difíceis de prever. A guerra urbana é o cenário contrário ao das armas de precisão: rifles, granadas, facas e danos por todo lado, com possível vantagem para os iraquianos, que conhecem melhor que os americanos o terreno em que estão pisando -- literalmente.

    Há dois pressupostos com que cada um dos lados está lidando. Bush parte do princípio de que o Iraque é incapaz de se defender eficazmente da tecnologia americana. Hussein aposta na possibilidade de que os Estados Unidos se enrolem na sua pretensão. Bem, isso já aconteceu no passado, como na invasão do Afeganistão em 2001 e na operação da Somália, em 1992. Nas duas ocasiões, os fatos se estenderam por muito mais tempo do que o imaginado pelos Estados Unidos. Pelo menos num dos casos, o da Somália, o pressuposto de superioridade americana resultou em vexame. Quem viu o filme Falcão Negro em Perigo, de Ridley Scott, lembra como o que era para ser uma operação de assalto banal desandou para uma série de trapalhadas em que os soldados americanos, com toda a sua tecnologia, ficaram acuados por civis enfurecidos.

    Hussein torce para que um combate prolongado imponha custos políticos externos e internos para os Estados Unidos e seus aliados, criando uma situação em que os americanos aceitassem um cessar-fogo. Veja bem: os iraquianos não acham que a derrota é inevitável. Nessa lógica, Hussein acredita que seu regime político ganharia uma sobrevida -- que é somente o que lhe interessa. Para conseguir isso, vale tudo: ameaças (cumpríveis ou não) com armas químicas, tentar tirar vantagem de tempestades de areia, levantar cortinas de fumaça com a queima de poços de petróleo.

    Finalmente, Hussein acredita contar com o que talvez seja o fator mais difícil de prever em qualquer guerra: a motivação de seus homens. A história das guerras está repleta de derrotas imprevisíveis justamente porque se subestimou o moral do inimigo. O senso comum diz que, desde a Guerra do Golfo, em 1991, a superioridade militar e tecnológica dos americanos em relação aos iraquianos aumentou ainda mais -- e que o sucesso de então possa ser repetido agora. As questões-chave são: até que ponto os americanos conseguirão fazer uma guerra curta e qual a capacidade de resistência dos iraquianos? A resposta a essas questões só vai ser conhecida quando a guerra começar para valer.

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