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4 grandes problemas colocam pressão sobre o Vale do Silício

Já estamos começando a ter um mapa bastante claro dos lugares do mundo onde as empresas de tecnologia enfrentam os maiores problemas

Vale do Silício: tensões geopolíticas, oscilações cambiais e turbulências econômicas podem afetar o lucro de uma companhia (Wikimedia)
DR

Da Redação

Publicado em 27 de abril de 2015 às 20h50.

A temporada de divulgação de lucros acaba de iniciar e nós já estamos começando a ter um mapa bastante claro dos lugares do mundo onde as empresas de tecnologia enfrentam os maiores problemas.

O desempenho financeiro de uma empresa global de tecnologia não depende apenas da quantidade de aparelhos ou anúncios que ela é capaz de vender.

Tensões geopolíticas, oscilações cambiais e turbulências econômicas podem afetar o lucro de uma companhia.

Alguns novos empreendimentos globais poderiam criar grandes efeitos dominó, como a disputa do Google com os órgãos reguladores antitruste da União Europeia, e as contínuas transições de mercado com as quais as empresas ainda estão lidando, como o desejo dos mercados emergentes por smartphones mais baratos.

Nós condensamos a lista em quatro fatores principais que estão encolhendo os lucros das empresas de tecnologia dos EUA no momento.

1. O dólar forte

Quando o valor do dólar americano é alto na comparação com as outras moedas, isso normalmente significa que a economia dos EUA está em boa forma e que o dinheiro dos turistas é direcionado muito mais para as férias.

Embora a condição seja boa para o americano médio, ela atinge as empresas de tecnologia dos EUA bem onde mais dói: nas receitas. O setor de tecnologia é especialmente vulnerável a flutuações cambiais porque é um setor muito globalizado.

As vendas internacionais são menores quando as moedas locais desvalorizadas são convertidas em dólares. O Facebook perdeu 7 pontos porcentuais de crescimento de receita para os efeitos de um dólar forte no último trimestre, segundo a empresa.

Na IBM, o impacto foi de 8 pontos. A Microsoft sofreu uma perda de 3 pontos porcentuais e a expectativa é que a situação piore no trimestre atual, quando a empresa deverá registrar um corte de 4 pontos porcentuais, segundo previsão da diretora financeira da Microsoft, Amy Hood.

A VMware culpou o câmbio -- e apenas o câmbio -- por sua projeção reduzida, conforme enfatizado mais de uma vez pelo diretor financeiro Jonathan Chadwick em uma conferência com analistas. “Notem que não houve mudança na previsão de receita para 2015, exceto para se ajustar ao aumento do impacto da moeda”, disse ele na teleconferência da empresa no dia 21 de abril.

As empresas aguentaram as pontas durante a ascensão inicial do dólar, no ano passado, mas realmente começaram a ter problemas em dezembro, diz John Lovelock, analista-chefe da firma de pesquisa de mercado Gartner.

Foi aí que técnicas financeiras como a proteção cambial, uma prática comum para minimizar os riscos da desvalorização das moedas, perderam a força para muitas empresas. “A rápida mudança no dólar de dezembro a fevereiro pegou todo mundo com a guarda baixa”, diz Lovelock.

“As empresas ficaram sem nenhuma carta mais para jogar”. Para lidar com os efeitos do câmbio, as empresas americanas poderão ter que elevar os preços, como fez a Apple na Rússia em novembro passado, ou tentar baixar o nível dos produtos em determinados países para baratear sua produção -- por exemplo, colocando menos memória nos telefones ou menos serviços incluídos no pacote de produtos, diz Lovelock.

2. Ressaca do imposto sobre vendas do Japão

O Abenomics não está perdendo fãs apenas em seu país. As fabricantes internacionais de eletrônicos e as empresas de e-commerce estão sendo punidas pela taxa sobre o consumo que o primeiro-ministro Shinzo Abe impôs em abril de 2014.

Os gastos dos consumidores caíram imediatamente depois (o que era de se esperar) e a economia ainda não se recuperou totalmente (não se esperava).

O aumento do imposto, de 5 por cento para 8 por cento, esvaziou a recuperação econômica que vinha ganhando impulso no Japão em 2013, empurrando o país para a recessão no ano passado.

A Apple e a Amazon reportaram desacelerações no país, atribuídas ao novo imposto aplicado aos consumidores.

Nesse ponto, o problema pode ser mais significativo para a Microsoft, que conta com o Japão como seu maior colaborador geográfico em receitas após os EUA. As vendas caíram US$ 550 milhões no último trimestre.

Diferentemente de alguns países, onde as corporações contratam licenças de vários anos para os programas da Microsoft, a maior parte das receitas obtidas com o Office e o Windows no Japão vem de aquisições pontuais. Quando ninguém compra, eis um problema de verdade. “O Japão é um mercado muito importante para nós”, diz Hood, da Microsoft. “A fragilidade macroeconômica do Japão certamente vai continuar”.

3. Antagonismo com reguladores da China

A complicada relação entre a China e os EUA muitas vezes se reflete no setor privado e as empresas de tecnologia enfrentam o peso de distúrbios diplomáticos e políticos com os quais têm pouco a ver.

Desde maio, quando os EUA condenaram cinco militares chineses sob acusação de terem roubado segredos corporativos, Pequim aumentou a pressão sobre as empresas dos EUA.

Recentemente, Apple, Google e Microsoft foram alvos de críticas da mídia estatal. A China eliminará tecnologias estrangeiras dos bancos, das Forças Armadas, de empresas estatais e de agências importantes do governo até 2020, disseram fontes informadas sobre o assunto à Bloomberg, em dezembro.

Os investigadores chineses antimonopólio estão indo atrás da Microsoft e deram batida em seus escritórios em quatro cidades no terceiro trimestre do ano passado. O governo classificou a Microsoft como sonegadora de US$ 150 milhões em impostos e o Windows 8 foi excluído da lista de compras oficiais do governo.

Nos últimos dois trimestres, a Microsoft reportou que os problemas geopolíticos na China estão prejudicando as vendas no país e Hood diz que não espera que as condições mudem neste trimestre.

O CEO da Cisco Systems, John Chambers, disse recentemente a analistas que a empresa continua vendo desafios para as vendas de equipamentos de redes na China, levando a um declínio de 19 por cento em seus negócios no país no último trimestre.

A fornecedora de espaço de armazenagem EMC culpou a China, além da Rússia (falaremos mais a respeito depois), por um déficit em seu principal negócio, dizendo que as vendas mais baixas que o esperado no país se “devem a uma maior repressão às aquisições de tecnologia americana no governo e nos setores de serviços financeiros”.

Mas não se desespere demais. É possível retornar de uma briga com reguladoras chinesas com apenas alguns hematomas. Uma investigação antitruste da fabricante de chips para aparelhos móveis Qualcomm resultou em uma multa de US$ 975 milhões e em novas condições para que as fabricantes de smartphones possam licenciar a tecnologia da companhia.

Dois meses depois, a Qualcomm reportou progresso em seus negócios na China. Durante sua teleconferência, no dia 22 de abril, a Qualcomm disse que vai assinar novos contratos de licenciamento no país que deverão garantir futuros negócios por lá.

4. A ira de Putin

A relação gelada da Rússia com os EUA está deixando muitas empresas de tecnologia lá fora no frio. O conflito com a Ucrânia e as sanções resultantes disso, impostas pelo presidente Barack Obama, fizeram o rublo despencar e colocaram o presidente russo, Vladimir Putin, em modo de defesa.

O rublo fraco não torna os negócios na Rússia apenas menos desejáveis. O país está buscando diminuir sua dependência em relação aos softwares estrangeiros -- em parte em resposta às sanções e em parte pelo medo de espionagem desencadeado pelos vazamentos de Edward Snowden. No início deste mês, o ministro das Relações Exteriores, Nikolay Nikiforov, assinou um plano para substituir um software produzido fora da Rússia até 2025.

Essa é uma má notícia para Hewlett-Packard, IBM, Microsoft, Cisco e Oracle, além da SAP, da Alemanha, que tiveram uma receita combinada de 285 bilhões de rublos (US$ 8,1 bilhões) na Rússia em 2013, segundo estimativas da Academia Russa de Ciências.

Empresas americanas como a Microsoft e a EMC estão começando a sentir o aperto. A EMC disse no dia 22 de abril, que a economia russa afetou seus lucros no último trimestre.

Em fevereiro, a diretora financeira da HP, Cathy Lesjak, ressaltou os “desafios contínuos” na Rússia, “onde os temores políticos e econômicos são permanentes”. Até mesmo empresas menores como a F5 Networks, de Seattle, estão sendo prejudicadas.

O novo CEO, Manny Rivelo, diz: “A Rússia é jogo duro para todos devido ao ambiente político. Já não é tão fácil conseguir receitas lá como há alguns anos”.

Além do orgulho nacional, para os russos comprar produtos locais é mais atrativo quando a moeda está desvalorizada porque os produtos domésticos são relativamente mais baratos, diz Lovelock, da Gartner.

Embora haja um limite para aquilo que a Rússia pode produzir em tecnologia, “eles estão tendo algum sucesso”, diz ele. “Mas não existe um Windows russo ou um banco de dados Oracle russo, nem um Hadoop russo”.

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A temporada de divulgação de lucros acaba de iniciar e nós já estamos começando a ter um mapa bastante claro dos lugares do mundo onde as empresas de tecnologia enfrentam os maiores problemas.

O desempenho financeiro de uma empresa global de tecnologia não depende apenas da quantidade de aparelhos ou anúncios que ela é capaz de vender.

Tensões geopolíticas, oscilações cambiais e turbulências econômicas podem afetar o lucro de uma companhia.

Alguns novos empreendimentos globais poderiam criar grandes efeitos dominó, como a disputa do Google com os órgãos reguladores antitruste da União Europeia, e as contínuas transições de mercado com as quais as empresas ainda estão lidando, como o desejo dos mercados emergentes por smartphones mais baratos.

Nós condensamos a lista em quatro fatores principais que estão encolhendo os lucros das empresas de tecnologia dos EUA no momento.

1. O dólar forte

Quando o valor do dólar americano é alto na comparação com as outras moedas, isso normalmente significa que a economia dos EUA está em boa forma e que o dinheiro dos turistas é direcionado muito mais para as férias.

Embora a condição seja boa para o americano médio, ela atinge as empresas de tecnologia dos EUA bem onde mais dói: nas receitas. O setor de tecnologia é especialmente vulnerável a flutuações cambiais porque é um setor muito globalizado.

As vendas internacionais são menores quando as moedas locais desvalorizadas são convertidas em dólares. O Facebook perdeu 7 pontos porcentuais de crescimento de receita para os efeitos de um dólar forte no último trimestre, segundo a empresa.

Na IBM, o impacto foi de 8 pontos. A Microsoft sofreu uma perda de 3 pontos porcentuais e a expectativa é que a situação piore no trimestre atual, quando a empresa deverá registrar um corte de 4 pontos porcentuais, segundo previsão da diretora financeira da Microsoft, Amy Hood.

A VMware culpou o câmbio -- e apenas o câmbio -- por sua projeção reduzida, conforme enfatizado mais de uma vez pelo diretor financeiro Jonathan Chadwick em uma conferência com analistas. “Notem que não houve mudança na previsão de receita para 2015, exceto para se ajustar ao aumento do impacto da moeda”, disse ele na teleconferência da empresa no dia 21 de abril.

As empresas aguentaram as pontas durante a ascensão inicial do dólar, no ano passado, mas realmente começaram a ter problemas em dezembro, diz John Lovelock, analista-chefe da firma de pesquisa de mercado Gartner.

Foi aí que técnicas financeiras como a proteção cambial, uma prática comum para minimizar os riscos da desvalorização das moedas, perderam a força para muitas empresas. “A rápida mudança no dólar de dezembro a fevereiro pegou todo mundo com a guarda baixa”, diz Lovelock.

“As empresas ficaram sem nenhuma carta mais para jogar”. Para lidar com os efeitos do câmbio, as empresas americanas poderão ter que elevar os preços, como fez a Apple na Rússia em novembro passado, ou tentar baixar o nível dos produtos em determinados países para baratear sua produção -- por exemplo, colocando menos memória nos telefones ou menos serviços incluídos no pacote de produtos, diz Lovelock.

2. Ressaca do imposto sobre vendas do Japão

O Abenomics não está perdendo fãs apenas em seu país. As fabricantes internacionais de eletrônicos e as empresas de e-commerce estão sendo punidas pela taxa sobre o consumo que o primeiro-ministro Shinzo Abe impôs em abril de 2014.

Os gastos dos consumidores caíram imediatamente depois (o que era de se esperar) e a economia ainda não se recuperou totalmente (não se esperava).

O aumento do imposto, de 5 por cento para 8 por cento, esvaziou a recuperação econômica que vinha ganhando impulso no Japão em 2013, empurrando o país para a recessão no ano passado.

A Apple e a Amazon reportaram desacelerações no país, atribuídas ao novo imposto aplicado aos consumidores.

Nesse ponto, o problema pode ser mais significativo para a Microsoft, que conta com o Japão como seu maior colaborador geográfico em receitas após os EUA. As vendas caíram US$ 550 milhões no último trimestre.

Diferentemente de alguns países, onde as corporações contratam licenças de vários anos para os programas da Microsoft, a maior parte das receitas obtidas com o Office e o Windows no Japão vem de aquisições pontuais. Quando ninguém compra, eis um problema de verdade. “O Japão é um mercado muito importante para nós”, diz Hood, da Microsoft. “A fragilidade macroeconômica do Japão certamente vai continuar”.

3. Antagonismo com reguladores da China

A complicada relação entre a China e os EUA muitas vezes se reflete no setor privado e as empresas de tecnologia enfrentam o peso de distúrbios diplomáticos e políticos com os quais têm pouco a ver.

Desde maio, quando os EUA condenaram cinco militares chineses sob acusação de terem roubado segredos corporativos, Pequim aumentou a pressão sobre as empresas dos EUA.

Recentemente, Apple, Google e Microsoft foram alvos de críticas da mídia estatal. A China eliminará tecnologias estrangeiras dos bancos, das Forças Armadas, de empresas estatais e de agências importantes do governo até 2020, disseram fontes informadas sobre o assunto à Bloomberg, em dezembro.

Os investigadores chineses antimonopólio estão indo atrás da Microsoft e deram batida em seus escritórios em quatro cidades no terceiro trimestre do ano passado. O governo classificou a Microsoft como sonegadora de US$ 150 milhões em impostos e o Windows 8 foi excluído da lista de compras oficiais do governo.

Nos últimos dois trimestres, a Microsoft reportou que os problemas geopolíticos na China estão prejudicando as vendas no país e Hood diz que não espera que as condições mudem neste trimestre.

O CEO da Cisco Systems, John Chambers, disse recentemente a analistas que a empresa continua vendo desafios para as vendas de equipamentos de redes na China, levando a um declínio de 19 por cento em seus negócios no país no último trimestre.

A fornecedora de espaço de armazenagem EMC culpou a China, além da Rússia (falaremos mais a respeito depois), por um déficit em seu principal negócio, dizendo que as vendas mais baixas que o esperado no país se “devem a uma maior repressão às aquisições de tecnologia americana no governo e nos setores de serviços financeiros”.

Mas não se desespere demais. É possível retornar de uma briga com reguladoras chinesas com apenas alguns hematomas. Uma investigação antitruste da fabricante de chips para aparelhos móveis Qualcomm resultou em uma multa de US$ 975 milhões e em novas condições para que as fabricantes de smartphones possam licenciar a tecnologia da companhia.

Dois meses depois, a Qualcomm reportou progresso em seus negócios na China. Durante sua teleconferência, no dia 22 de abril, a Qualcomm disse que vai assinar novos contratos de licenciamento no país que deverão garantir futuros negócios por lá.

4. A ira de Putin

A relação gelada da Rússia com os EUA está deixando muitas empresas de tecnologia lá fora no frio. O conflito com a Ucrânia e as sanções resultantes disso, impostas pelo presidente Barack Obama, fizeram o rublo despencar e colocaram o presidente russo, Vladimir Putin, em modo de defesa.

O rublo fraco não torna os negócios na Rússia apenas menos desejáveis. O país está buscando diminuir sua dependência em relação aos softwares estrangeiros -- em parte em resposta às sanções e em parte pelo medo de espionagem desencadeado pelos vazamentos de Edward Snowden. No início deste mês, o ministro das Relações Exteriores, Nikolay Nikiforov, assinou um plano para substituir um software produzido fora da Rússia até 2025.

Essa é uma má notícia para Hewlett-Packard, IBM, Microsoft, Cisco e Oracle, além da SAP, da Alemanha, que tiveram uma receita combinada de 285 bilhões de rublos (US$ 8,1 bilhões) na Rússia em 2013, segundo estimativas da Academia Russa de Ciências.

Empresas americanas como a Microsoft e a EMC estão começando a sentir o aperto. A EMC disse no dia 22 de abril, que a economia russa afetou seus lucros no último trimestre.

Em fevereiro, a diretora financeira da HP, Cathy Lesjak, ressaltou os “desafios contínuos” na Rússia, “onde os temores políticos e econômicos são permanentes”. Até mesmo empresas menores como a F5 Networks, de Seattle, estão sendo prejudicadas.

O novo CEO, Manny Rivelo, diz: “A Rússia é jogo duro para todos devido ao ambiente político. Já não é tão fácil conseguir receitas lá como há alguns anos”.

Além do orgulho nacional, para os russos comprar produtos locais é mais atrativo quando a moeda está desvalorizada porque os produtos domésticos são relativamente mais baratos, diz Lovelock, da Gartner.

Embora haja um limite para aquilo que a Rússia pode produzir em tecnologia, “eles estão tendo algum sucesso”, diz ele. “Mas não existe um Windows russo ou um banco de dados Oracle russo, nem um Hadoop russo”.

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