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3 vantagens da indústria alemã sobre a brasileira

Economia mais saudável da zona do euro, Alemanha promete mão de obra qualificada e flexibilidade para as indústrias que se instalarem lá

Fábrica alemã da BMW: mão de obra cara, mas competitiva (Miguel Villagran/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 15 de maio de 2012 às 06h00.

São Paulo - A Alemanha está realizando uma ofensiva para motivar empresas brasileiras a investir em seu território, considerado um dos mais competitivos do mundo quando se trata de indústria, setor que anda cambaleante no Brasil. O argumento é que, enquanto os chineses aterrissam no mercado germânico ao ritmo de mais de 150 empresas por ano, o Brasil está instalado, ao todo, com apenas 40 negócios.

A diretoria da Germany Trade and Invest (GTAI), agência de desenvolvimento econômico do país, esteve no Brasil para defender que a parte oriental da Alemanha é hoje interessantíssima para empresários de todas as áreas que queiram começar operações na Europa.

Mas quem topar a empreitada vai encontrar mais do que o trinômio infraestrutura, baixa burocracia e incentivos fiscais. Veja a seguir três exemplos de diferenças que separam o cenário industrial de Brasil e Alemanha, e que tem servido de aprendizado para as empresas nacionais que lá se instalam.

1 – Mão de obra (muito) qualificada
O custo da mão de obra na Alemanha não é nada baixo. Levantamento divulgado em abril pela consultoria KMPG mostra que se gasta cerca de 30% a 35% mais com empregados lá em comparação ao Brasil. Mesmo assim, converse com um empresário alemão e ele não vai sair por aí reclamando a torto e a direito do quanto paga para seus funcionários, como fazem os tupiniquins.

A diferença é que lá o custo elevado parece valer a pena. “Nossos operadores de planta são engenheiros. Aqui, só se exige segundo grau”, afirma o vice-presidente executivo da Unidade de Negócios dos EUA e Europa da Braskem, Fernando Musa. A empresa estreou no mercado germânico em outubro do ano passado, ao comprar duas plantas da Dow Chemicals.

2 – Flexibilidade

Embora a legislação trabalhista do Brasil e Alemanha protejam o empregado, a flexibilidade - palavra que assusta o trabalhador brasileiro - impressiona pesquisadores e empresários que começam operações na nação europeia.



“A Alemanha conta com uma sólida tradição de negociação coletiva. No Brasil, a maioria das regras trabalhistas foi definida em lei e se reservou pouco espaço para os acordos coletivos”, aponta estudo recente encabeçado pelo professor da Universidade de São Paulo, José Pastore.

No Brasil, acordo são desestimulados pela própria justiça trabalhista, que comumente anula negociações do tipo. Na Alemanha, a maioria das negociações são intermediadas não por um sindicato central de uma categoria, e sim por uma comissão de trabalhadores de uma determinada fábrica ou planta industrial.

Como nem tudo está previsto e regido por leis, há outras vantagens competitivas. Na fábrica alemã da Braskem, por exemplo, operadores de processamento petroquímico podem também alimentar as máquinas que fazem a produção funcionar. No Brasil, não, já que são trabalhadores de funções diferentes, que não devem se confundir, mesmo que haja tempo e capacidade para isso.

Entre outras, essa é uma das razões que tornam possível produzir mais com menos. Executivos da Companhia Siderúrgica Nacional têm dito aos membros da agência de desenvolvimento do governo alemão que conseguem, com 700 operários na Alemanha, produzir o mesmo que com mil no Brasil.

3 – Retenção de talentos

Em tempos de mercado de trabalho nacional aquecido, com baixa taxa de desemprego, empresários tem sentido na pele a dificuldade de manter talentos em seus quadros. A situação tem sido motivo de estresse para a área de recursos humanos, que precisam lidar com um grande entra e sai. Na Alemanha, este entrave não existe com a mesma intensidade.


“Observamos que lá a experiência acumulada entre os funcionários é alta e o turnover baixo. Aqui, com a economia crescendo, às vezes não dá tempo de desenvolver isso, o que pode gerar um problema de gestão do conhecimento”, afirma Fernando Musa, da Braskem. Na planta comprada recentemente, a maior parte dos funcionários está desde o início das operações, em 1998.

Estabilidade e inovação parecem conviver sem maiores atritos. A causa, segundo o diretor-executivo da agência de desenvolvimento do governo alemão, Dr. Jürgen Friedrich, é uma questão de mentalidade: a indústria alemã compete sempre com o mundo inteiro. Ou seja, não basta pensar o mercado doméstico, o que garantiria sempre a busca por inovação. “Nossa indústria está acostumada a esta concorrência há décadas”, afirma.

Vantagem competitiva?

O empresário brasileiro pode olhar a lista acima e pensar que as coisas "lá" são mais fáceis que "cá", mas não é bem assim. O último Índice de Competitividade Global da Manufatura, da Deloitte, uma das maiores consultoras do mundo, traz o Brasil na 5ª posição geral do ranking, enquanto a Alemanha ocupa o 8º lugar. O índice indica que, apesar de perder em muita coisa – incluindo burocracia e carga tributária - o Brasil sai na frente quando se trata de perspectiva de crescimento e acesso a recursos naturais. Ou seja, na hora de investir, independentemente das dificuldades, o Brasil é um lugar mais atraente.

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A diretoria da Germany Trade and Invest (GTAI), agência de desenvolvimento econômico do país, esteve no Brasil para defender que a parte oriental da Alemanha é hoje interessantíssima para empresários de todas as áreas que queiram começar operações na Europa.

Mas quem topar a empreitada vai encontrar mais do que o trinômio infraestrutura, baixa burocracia e incentivos fiscais. Veja a seguir três exemplos de diferenças que separam o cenário industrial de Brasil e Alemanha, e que tem servido de aprendizado para as empresas nacionais que lá se instalam.

1 – Mão de obra (muito) qualificada
O custo da mão de obra na Alemanha não é nada baixo. Levantamento divulgado em abril pela consultoria KMPG mostra que se gasta cerca de 30% a 35% mais com empregados lá em comparação ao Brasil. Mesmo assim, converse com um empresário alemão e ele não vai sair por aí reclamando a torto e a direito do quanto paga para seus funcionários, como fazem os tupiniquins.

A diferença é que lá o custo elevado parece valer a pena. “Nossos operadores de planta são engenheiros. Aqui, só se exige segundo grau”, afirma o vice-presidente executivo da Unidade de Negócios dos EUA e Europa da Braskem, Fernando Musa. A empresa estreou no mercado germânico em outubro do ano passado, ao comprar duas plantas da Dow Chemicals.

2 – Flexibilidade

Embora a legislação trabalhista do Brasil e Alemanha protejam o empregado, a flexibilidade - palavra que assusta o trabalhador brasileiro - impressiona pesquisadores e empresários que começam operações na nação europeia.



“A Alemanha conta com uma sólida tradição de negociação coletiva. No Brasil, a maioria das regras trabalhistas foi definida em lei e se reservou pouco espaço para os acordos coletivos”, aponta estudo recente encabeçado pelo professor da Universidade de São Paulo, José Pastore.

No Brasil, acordo são desestimulados pela própria justiça trabalhista, que comumente anula negociações do tipo. Na Alemanha, a maioria das negociações são intermediadas não por um sindicato central de uma categoria, e sim por uma comissão de trabalhadores de uma determinada fábrica ou planta industrial.

Como nem tudo está previsto e regido por leis, há outras vantagens competitivas. Na fábrica alemã da Braskem, por exemplo, operadores de processamento petroquímico podem também alimentar as máquinas que fazem a produção funcionar. No Brasil, não, já que são trabalhadores de funções diferentes, que não devem se confundir, mesmo que haja tempo e capacidade para isso.

Entre outras, essa é uma das razões que tornam possível produzir mais com menos. Executivos da Companhia Siderúrgica Nacional têm dito aos membros da agência de desenvolvimento do governo alemão que conseguem, com 700 operários na Alemanha, produzir o mesmo que com mil no Brasil.

3 – Retenção de talentos

Em tempos de mercado de trabalho nacional aquecido, com baixa taxa de desemprego, empresários tem sentido na pele a dificuldade de manter talentos em seus quadros. A situação tem sido motivo de estresse para a área de recursos humanos, que precisam lidar com um grande entra e sai. Na Alemanha, este entrave não existe com a mesma intensidade.


“Observamos que lá a experiência acumulada entre os funcionários é alta e o turnover baixo. Aqui, com a economia crescendo, às vezes não dá tempo de desenvolver isso, o que pode gerar um problema de gestão do conhecimento”, afirma Fernando Musa, da Braskem. Na planta comprada recentemente, a maior parte dos funcionários está desde o início das operações, em 1998.

Estabilidade e inovação parecem conviver sem maiores atritos. A causa, segundo o diretor-executivo da agência de desenvolvimento do governo alemão, Dr. Jürgen Friedrich, é uma questão de mentalidade: a indústria alemã compete sempre com o mundo inteiro. Ou seja, não basta pensar o mercado doméstico, o que garantiria sempre a busca por inovação. “Nossa indústria está acostumada a esta concorrência há décadas”, afirma.

Vantagem competitiva?

O empresário brasileiro pode olhar a lista acima e pensar que as coisas "lá" são mais fáceis que "cá", mas não é bem assim. O último Índice de Competitividade Global da Manufatura, da Deloitte, uma das maiores consultoras do mundo, traz o Brasil na 5ª posição geral do ranking, enquanto a Alemanha ocupa o 8º lugar. O índice indica que, apesar de perder em muita coisa – incluindo burocracia e carga tributária - o Brasil sai na frente quando se trata de perspectiva de crescimento e acesso a recursos naturais. Ou seja, na hora de investir, independentemente das dificuldades, o Brasil é um lugar mais atraente.

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