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O lado negro das finanças pessoais

Uma autora americana mostra que a educação financeira pode não ser tão "pura e inocente" quanto se apresenta...

Pound Foolish
DR

Da Redação

Publicado em 7 de janeiro de 2013 às 08h55.

Última atualização em 2 de janeiro de 2020 às 17h11.

Minha leitura de final de ano foi o recém lançado livro Pound Foolish – Exposing the Dark Side of the Personal Finance Industry , da jornalista americana especializada em finanças pessoais Helaine Olen.

É um livro interessante e muito corajoso, onde a autora expõe a indústria americana de finanças pessoais de uma forma embasada e convincente, mostrando os conflitos de interesse, as fragilidades e as ilusões desse mercado, dando “nomes aos bois” sem nenhum constrangimento.

Atacar a indústria de finanças pessoais, de investimentos, os “gurus financeiros” e a mídia especializada não é nenhuma novidade. Os acadêmicos de finanças já fazem isso há muitos anos, provando “por A mais B” (apesar de o público em geral ainda insistir em não acreditar) que a maioria das coisas ditas pelos profissionais dessas áreas não passa de bobagem ou pura picaretagem, mas é raro alguém que é originalmente da área de mídia de finanças e economia partir para um ataque frontal tão ousado.

É interessante ler um livro sobre o mercado de finanças pessoais americano sob essa perspectiva mais crítica, pois o mercado brasileiro caminha rapidamente para virar algo parecido. O Brasil ainda está em um processo inicial de “financeirização” da vida das pessoas, onde o crédito está se tornando relativamente abundante, os investimentos estão ficando mais complexos, voláteis e menos rentáveis (algo que tende a piorar como resultado da queda nas taxas de juros) e a responsabilidade individual em assuntos como saúde e previdência está aumentando. Essa situação, como é de se esperar, é altamente estressante e geradora de angústia, e deixa muitas pessoas fragilizadas à mercê de gente que vende falsa segurança e fórmulas mágicas em um cenário onde a única certeza é a incerteza.

Esse processo de financeirização já é algo bem mais avançado nos EUA, e segundo a American Psychological Association, 75% dos casos de stress nos EUA estão relacionados a questões financeiras.

O livro começa torpedeando alguns famosos gurus financeiros, como Suze Orman (que era a “consultora financeira” do programa da Oprah Winfrey) e David Bach, que foi o responsável por popularizar aquela baboseira de “economize um cafezinho por dia e fique rico” que tantos “ experts em finanças” gostam de repetir aqui no Brasil, mostrando inconsistências em seus métodos e conflitos de interesse diversos.

Depois, o livro dá uma passada sobre a questão previdenciária nos EUA, lembrando que lá essa é uma das questões que mais geram angústia e insegurança nas pessoas, talvez mais até que o endividamento, e mostra como instituições e agentes diversos se aproveitam dessas angústias para vender produtos financeiros que são verdadeiras “roubadas” e só trazem benefícios a quem os está comercializando. A autora mostra, inclusive, como funciona o processo de venda e promoção desses produtos e, já aviso, qualquer semelhança com algo que seja feito aqui no Brasil NÃO É mera coincidência…

Em um capítulo do livro, ela aborda um pouco da “subcultura trader ”, que eu particularmente conheço bem. Os famosos cursos, seminários e métodos infalíveis que ensinam a operar forex, opções, fazer day trade e outras coisas que povoam as fantasias de quem está louco para dar um “pé na bunda” do chefe ou busca, inocentemente, uma forma de ganhar uma renda extra trabalhando de casa. A autora esculhamba vários gurus e magos financeiros, inclusive alguns que são conhecidos no “mundinho trader ” brasileiro.

Depois vem um capítulo sobre imóveis, e esse é interessante não só pelo tema (afinal nós, brasileiros, amamos imóveis), mas sim por que o principal protagonista é um autor que também é muito popular por aqui: Robert Kiyosaki, que escreveu “Pai Rico Pai Pobre” (um livro pelo qual, devo admitir, tenho uma certa simpatia). A autora esteve em um de seus seminários e a descrição que ela faz do evento é algo assustador. Aquela coisa “autoajuda de baixo nível”, com seminários superproduzidos que têm como único objetivo vender um outro seminário “mais avançado” e por aí vai. Uma rápida pesquisa Google após a leitura mostra que o relato da autora não é exagerado, e fica difícil manter uma imagem respeitável do honorável criador da série “Pai Rico” depois disso…

Por fim, o livro questiona a própria educação financeira, já que há pouquíssimas evidências de que ela é uma coisa realmente eficaz (apesar dos esforços de muita gente séria na área).

Da forma como eu descrevi o livro (obviamente é um review superficial), pode parecer que não passa de um daqueles “livros denúncia” onde o autor (no caso autora) se propõe a jogar pedras em tudo e em todos e fica por isso mesmo, mas não é o caso. É um livro bem pesquisado e com argumentos sólidos e consistentes, apesar de ter um certo enviesamento político para o lado “social”.

De qualquer forma, é uma leitura interessante e altamente recomendável. Podemos aprender muito lendo esse tipo de relato e nos antecipando às armadilhas semelhantes que estão surgindo (ou já surgiram) por aqui.

Minha leitura de final de ano foi o recém lançado livro Pound Foolish – Exposing the Dark Side of the Personal Finance Industry , da jornalista americana especializada em finanças pessoais Helaine Olen.

É um livro interessante e muito corajoso, onde a autora expõe a indústria americana de finanças pessoais de uma forma embasada e convincente, mostrando os conflitos de interesse, as fragilidades e as ilusões desse mercado, dando “nomes aos bois” sem nenhum constrangimento.

Atacar a indústria de finanças pessoais, de investimentos, os “gurus financeiros” e a mídia especializada não é nenhuma novidade. Os acadêmicos de finanças já fazem isso há muitos anos, provando “por A mais B” (apesar de o público em geral ainda insistir em não acreditar) que a maioria das coisas ditas pelos profissionais dessas áreas não passa de bobagem ou pura picaretagem, mas é raro alguém que é originalmente da área de mídia de finanças e economia partir para um ataque frontal tão ousado.

É interessante ler um livro sobre o mercado de finanças pessoais americano sob essa perspectiva mais crítica, pois o mercado brasileiro caminha rapidamente para virar algo parecido. O Brasil ainda está em um processo inicial de “financeirização” da vida das pessoas, onde o crédito está se tornando relativamente abundante, os investimentos estão ficando mais complexos, voláteis e menos rentáveis (algo que tende a piorar como resultado da queda nas taxas de juros) e a responsabilidade individual em assuntos como saúde e previdência está aumentando. Essa situação, como é de se esperar, é altamente estressante e geradora de angústia, e deixa muitas pessoas fragilizadas à mercê de gente que vende falsa segurança e fórmulas mágicas em um cenário onde a única certeza é a incerteza.

Esse processo de financeirização já é algo bem mais avançado nos EUA, e segundo a American Psychological Association, 75% dos casos de stress nos EUA estão relacionados a questões financeiras.

O livro começa torpedeando alguns famosos gurus financeiros, como Suze Orman (que era a “consultora financeira” do programa da Oprah Winfrey) e David Bach, que foi o responsável por popularizar aquela baboseira de “economize um cafezinho por dia e fique rico” que tantos “ experts em finanças” gostam de repetir aqui no Brasil, mostrando inconsistências em seus métodos e conflitos de interesse diversos.

Depois, o livro dá uma passada sobre a questão previdenciária nos EUA, lembrando que lá essa é uma das questões que mais geram angústia e insegurança nas pessoas, talvez mais até que o endividamento, e mostra como instituições e agentes diversos se aproveitam dessas angústias para vender produtos financeiros que são verdadeiras “roubadas” e só trazem benefícios a quem os está comercializando. A autora mostra, inclusive, como funciona o processo de venda e promoção desses produtos e, já aviso, qualquer semelhança com algo que seja feito aqui no Brasil NÃO É mera coincidência…

Em um capítulo do livro, ela aborda um pouco da “subcultura trader ”, que eu particularmente conheço bem. Os famosos cursos, seminários e métodos infalíveis que ensinam a operar forex, opções, fazer day trade e outras coisas que povoam as fantasias de quem está louco para dar um “pé na bunda” do chefe ou busca, inocentemente, uma forma de ganhar uma renda extra trabalhando de casa. A autora esculhamba vários gurus e magos financeiros, inclusive alguns que são conhecidos no “mundinho trader ” brasileiro.

Depois vem um capítulo sobre imóveis, e esse é interessante não só pelo tema (afinal nós, brasileiros, amamos imóveis), mas sim por que o principal protagonista é um autor que também é muito popular por aqui: Robert Kiyosaki, que escreveu “Pai Rico Pai Pobre” (um livro pelo qual, devo admitir, tenho uma certa simpatia). A autora esteve em um de seus seminários e a descrição que ela faz do evento é algo assustador. Aquela coisa “autoajuda de baixo nível”, com seminários superproduzidos que têm como único objetivo vender um outro seminário “mais avançado” e por aí vai. Uma rápida pesquisa Google após a leitura mostra que o relato da autora não é exagerado, e fica difícil manter uma imagem respeitável do honorável criador da série “Pai Rico” depois disso…

Por fim, o livro questiona a própria educação financeira, já que há pouquíssimas evidências de que ela é uma coisa realmente eficaz (apesar dos esforços de muita gente séria na área).

Da forma como eu descrevi o livro (obviamente é um review superficial), pode parecer que não passa de um daqueles “livros denúncia” onde o autor (no caso autora) se propõe a jogar pedras em tudo e em todos e fica por isso mesmo, mas não é o caso. É um livro bem pesquisado e com argumentos sólidos e consistentes, apesar de ter um certo enviesamento político para o lado “social”.

De qualquer forma, é uma leitura interessante e altamente recomendável. Podemos aprender muito lendo esse tipo de relato e nos antecipando às armadilhas semelhantes que estão surgindo (ou já surgiram) por aqui.

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