O famoso “Rally de Natal”
O rally Paris-Dakar (que hoje chama-se apenas “Dakar”, e passa bem longe de Paris ou de Dakar, no Senegal), uma das mais prestigiosas competições automobilísticas do mundo, é famoso, entre outras coisas, por ser um evento esportivo de máxima relevância que ocorre praticamente no momento da virada do ano. Mal começa um novo ano e os intrépidos pilotos lá estão, desafiando a natureza com suas motos, carros e caminhões. Mas […] Leia mais
Da Redação
Publicado em 14 de novembro de 2011 às 08h01.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 09h44.
O rally Paris-Dakar (que hoje chama-se apenas “Dakar”, e passa bem longe de Paris ou de Dakar, no Senegal), uma das mais prestigiosas competições automobilísticas do mundo, é famoso, entre outras coisas, por ser um evento esportivo de máxima relevância que ocorre praticamente no momento da virada do ano. Mal começa um novo ano e os intrépidos pilotos lá estão, desafiando a natureza com suas motos, carros e caminhões.
Mas existe um outro “rally” que ocorre mais ou menos na mesma época, longe das areias do deserto africano ou das vias tortuosas da América do Sul. É um rally que ocorre no ambiente (hoje em dia) frio e asséptico das bolsas de valores, onde a outrora exaltação e gritaria dos operadores foi trocada por computadores de alta capacidade em data-rooms silenciosos, mantidos a temperaturas baixas por equipamentos de ar condicionado de capacidade igualmente alta. O “rally de fim de ano”, ou “rally de Natal” (chamado pelos americanos de Santa Claus Rally ), é um fenômeno algumas vezes observado nas bolsas de valores ao redor do mundo, que se manifesta através de uma alta pronunciada dos ativos financeiros alguns dias antes do Natal, e tal movimento se estende até meados de Janeiro (alguns estudiosos também se referem ao fenômeno como “Efeito Janeiro”).
Pessoas leigas em finanças e investidores iniciantes (e até mesmo alguns operadores experientes) podem não estar familiarizados com o termo mas, entre seus vários significados, “rally” designa uma súbita melhora na saúde ou vigor de uma pessoa, especialmente após alguma doença. O termo rally é usado, com esse mesmo sentido, nos mercados financeiros, para se referir a vigorosos movimentos de alta em ativos financeiros, especialmente após uma queda pronunciada.
Por exemplo: quando os mercados como um todo estão em tendência de baixa de longo prazo, as subidas esporádicas que acontecem são chamadas de bear market rally (rally de mercado de baixa, em tradução livre), e geralmente são aqueles momentos em que o mercado “levanta a cabeça para respirar”, para logo em seguida mergulhar novamente…
Mas voltando ao “rally de Natal”, os estudiosos financeiros que estudam esse fenômeno sazonal costumam atribuir a ele algumas possíveis causas, a seguir:
– Otimismo geral das pessoas com as perspectivas de um novo ano e (por que não?) o “espírito natalino”;
– Queda geral nos volumes negociados nas bolsas, em especial por parte de grandes investidores institucionais. Mercados com volumes pequenos costumam ser mais voláteis;
– Pessoas físicas investindo seus bônus de final de ano e, mais comum aqui no Brasil, o 13º salário;
– O fato de ser uma “profecia autorrealizável” – Uma grande massa de pessoas acredita que esse movimento vai acontecer e acaba alimentando-o;
– Planejamento fiscal, onde grandes investidores vendem as ações com performance fraca ou perdas antes do final do ano, para gerar prejuízos que ajudem a reduzir, como um todo, a taxação de um portfolio. Esses investidores preferem vender ações “micadas” (geralmente ações de segunda linha, que não compõem os grandes índices como o S&P500 e o Dow Jones) para gerar prejuízo, e utilizam o valor resultante dessas vendas na compra de outras ações mais sólidas e que apresentam performance histórica melhor, empurrando, assim, os índices para cima. Essa estratégia é conhecida, no exterior como tax loss selling.
Essa última razão, a do planejamento fiscal por parte dos investidores, não se aplica tanto ao Brasil, pois aqui os lucros com operações na bolsa são apurados e recolhidos mensalmente. Mas a nossa bolsa é fortemente influenciada pelos movimentos das bolsas americanas; então, se questões fiscais influenciam os mercados americanos, de alguma forma elas se refletirão aqui.
Se fizermos um estudo histórico da performance dos índices americanos e do Ibovespa no período compreendido pelo “rally de Natal”, poderemos observar que, EM MÉDIA, ele é real. Inclusive, alguns estudiosos americanos afirmam que, nos últimos anos, comprar ações em Novembro e vender em Maio tem sido uma estratégia de timing consistentemente vencedora. Não posso afirmar isso porque nunca realizei alguma simulação séria para testar essa hipótese. Via de regra, prefiro operar a favor da tendência e não dar importância a supostos fenômenos cíclicos e sazonais, que são controversos e carregam alta dose de subjetividade.
Como foi dito anteriormente, na média, o fenômeno é observável, mas isso pode ser de pouca valia para o investidor. Nada impede que, por uma longa sequência de anos, o fenômeno “falhe”.
Aliás, os mercados financeiros costumam ser particularmente cruéis com comportamentos cíclicos e padrões. Quando um padrão se desenvolve no mercado, cada vez mais pessoas o identificam e começam a explorá-lo e, com o tempo, a estratégia deixa de ser eficaz, pois todos tentam antecipar seus movimentos. Essa é uma das razões pelas quais muitos sistemas e estratégias de negociação baseadas em análises técnicas e de ciclos tendem a perder sua eficácia com o tempo. Como já dizia Max Gunther, no famoso livro “Os Axiomas de Zurique”: “o caos não é perigoso até começar a parecer ordem”.
Seja o rally de Natal um verdadeiro fenômeno sazonal bem fundamentado ou apenas um mito, apoiado em uma simples média de observações, o fato é que o investidor que resolver tirar proveito do espírito natalino dos mercados financeiros deve fazê-lo com todos os cuidados e precauções habituais, definindo estratégias, objetivos e seguindo um gerenciamento de riscos rigoroso. As recomendações de fim de ano são: mantenham as perdas sob controle (afinal, uma das formas mais fáceis de ter mais dinheiro é “não perdendo dinheiro”); não “teimem” com o mercado caso ele resolva tomar um rumo diferente do esperado, e tenham um excelente e próspero 2012!
O rally Paris-Dakar (que hoje chama-se apenas “Dakar”, e passa bem longe de Paris ou de Dakar, no Senegal), uma das mais prestigiosas competições automobilísticas do mundo, é famoso, entre outras coisas, por ser um evento esportivo de máxima relevância que ocorre praticamente no momento da virada do ano. Mal começa um novo ano e os intrépidos pilotos lá estão, desafiando a natureza com suas motos, carros e caminhões.
Mas existe um outro “rally” que ocorre mais ou menos na mesma época, longe das areias do deserto africano ou das vias tortuosas da América do Sul. É um rally que ocorre no ambiente (hoje em dia) frio e asséptico das bolsas de valores, onde a outrora exaltação e gritaria dos operadores foi trocada por computadores de alta capacidade em data-rooms silenciosos, mantidos a temperaturas baixas por equipamentos de ar condicionado de capacidade igualmente alta. O “rally de fim de ano”, ou “rally de Natal” (chamado pelos americanos de Santa Claus Rally ), é um fenômeno algumas vezes observado nas bolsas de valores ao redor do mundo, que se manifesta através de uma alta pronunciada dos ativos financeiros alguns dias antes do Natal, e tal movimento se estende até meados de Janeiro (alguns estudiosos também se referem ao fenômeno como “Efeito Janeiro”).
Pessoas leigas em finanças e investidores iniciantes (e até mesmo alguns operadores experientes) podem não estar familiarizados com o termo mas, entre seus vários significados, “rally” designa uma súbita melhora na saúde ou vigor de uma pessoa, especialmente após alguma doença. O termo rally é usado, com esse mesmo sentido, nos mercados financeiros, para se referir a vigorosos movimentos de alta em ativos financeiros, especialmente após uma queda pronunciada.
Por exemplo: quando os mercados como um todo estão em tendência de baixa de longo prazo, as subidas esporádicas que acontecem são chamadas de bear market rally (rally de mercado de baixa, em tradução livre), e geralmente são aqueles momentos em que o mercado “levanta a cabeça para respirar”, para logo em seguida mergulhar novamente…
Mas voltando ao “rally de Natal”, os estudiosos financeiros que estudam esse fenômeno sazonal costumam atribuir a ele algumas possíveis causas, a seguir:
– Otimismo geral das pessoas com as perspectivas de um novo ano e (por que não?) o “espírito natalino”;
– Queda geral nos volumes negociados nas bolsas, em especial por parte de grandes investidores institucionais. Mercados com volumes pequenos costumam ser mais voláteis;
– Pessoas físicas investindo seus bônus de final de ano e, mais comum aqui no Brasil, o 13º salário;
– O fato de ser uma “profecia autorrealizável” – Uma grande massa de pessoas acredita que esse movimento vai acontecer e acaba alimentando-o;
– Planejamento fiscal, onde grandes investidores vendem as ações com performance fraca ou perdas antes do final do ano, para gerar prejuízos que ajudem a reduzir, como um todo, a taxação de um portfolio. Esses investidores preferem vender ações “micadas” (geralmente ações de segunda linha, que não compõem os grandes índices como o S&P500 e o Dow Jones) para gerar prejuízo, e utilizam o valor resultante dessas vendas na compra de outras ações mais sólidas e que apresentam performance histórica melhor, empurrando, assim, os índices para cima. Essa estratégia é conhecida, no exterior como tax loss selling.
Essa última razão, a do planejamento fiscal por parte dos investidores, não se aplica tanto ao Brasil, pois aqui os lucros com operações na bolsa são apurados e recolhidos mensalmente. Mas a nossa bolsa é fortemente influenciada pelos movimentos das bolsas americanas; então, se questões fiscais influenciam os mercados americanos, de alguma forma elas se refletirão aqui.
Se fizermos um estudo histórico da performance dos índices americanos e do Ibovespa no período compreendido pelo “rally de Natal”, poderemos observar que, EM MÉDIA, ele é real. Inclusive, alguns estudiosos americanos afirmam que, nos últimos anos, comprar ações em Novembro e vender em Maio tem sido uma estratégia de timing consistentemente vencedora. Não posso afirmar isso porque nunca realizei alguma simulação séria para testar essa hipótese. Via de regra, prefiro operar a favor da tendência e não dar importância a supostos fenômenos cíclicos e sazonais, que são controversos e carregam alta dose de subjetividade.
Como foi dito anteriormente, na média, o fenômeno é observável, mas isso pode ser de pouca valia para o investidor. Nada impede que, por uma longa sequência de anos, o fenômeno “falhe”.
Aliás, os mercados financeiros costumam ser particularmente cruéis com comportamentos cíclicos e padrões. Quando um padrão se desenvolve no mercado, cada vez mais pessoas o identificam e começam a explorá-lo e, com o tempo, a estratégia deixa de ser eficaz, pois todos tentam antecipar seus movimentos. Essa é uma das razões pelas quais muitos sistemas e estratégias de negociação baseadas em análises técnicas e de ciclos tendem a perder sua eficácia com o tempo. Como já dizia Max Gunther, no famoso livro “Os Axiomas de Zurique”: “o caos não é perigoso até começar a parecer ordem”.
Seja o rally de Natal um verdadeiro fenômeno sazonal bem fundamentado ou apenas um mito, apoiado em uma simples média de observações, o fato é que o investidor que resolver tirar proveito do espírito natalino dos mercados financeiros deve fazê-lo com todos os cuidados e precauções habituais, definindo estratégias, objetivos e seguindo um gerenciamento de riscos rigoroso. As recomendações de fim de ano são: mantenham as perdas sob controle (afinal, uma das formas mais fáceis de ter mais dinheiro é “não perdendo dinheiro”); não “teimem” com o mercado caso ele resolva tomar um rumo diferente do esperado, e tenham um excelente e próspero 2012!