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Entendendo a “financeirização”

A vida financeira vem passando por um processo de aumento de complexidade nos últimos anos. E esse processo tem um nome.

DR

Da Redação

Publicado em 2 de julho de 2014 às 16h02.

Última atualização em 4 de junho de 2018 às 10h12.

Era uma vez um país chamado Brasil… Este país tinha um mercado financeiro peculiar. Por um lado, era extremamente complexo, pois a inflação insana o obrigou a criar práticas e mecanismos de correção monetária únicos.

Mas por outro lado (em particular pelo lado das pessoas comuns, que fazem transações de investimento e financiamento), era extremamente simples. Praticamente, só havia um mecanismo realmente “popular” de financiamento ao consumo: o cheque pré-datado. Cartão de crédito era um artigo de luxo e, quando ele era internacional, vinha escrito “internacional”, e as pessoas mostravam isso com orgulho: era um símbolo de status supremo. Investimentos? Caderneta de poupança e imóveis! Qualquer coisa além disso, só se fosse em um universo paralelo, e a Bolsa de Valores era apenas um cassino para senhores abastados. Seguridade social? Aposentadoria? Deixa que “o governo cuida”…

O tempo passou, as coisas foram mudando e o mercado financeiro brasileiro foi se tornando uma criatura cada vez mais complexa para o cidadão comum. Hoje, as pessoas têm uma abundância de opções de crédito e investimentos, e parece que nenhuma delas é totalmente adequada – todas escondem algum tipo de “armadilha”.

Agora, as pessoas se defrontam com dilemas e decisões financeiras que nunca existiram antes e, frequentemente, tomam decisões erradas, que levam a prejuízos e aborrecimentos. O tema “educação financeira” vem se tornando cada vez mais popular (e necessário), pois não dá mais para simplesmente ignorar os assuntos financeiros – nós podemos fugir deles, mas eles não fogem de nós…

Esse aumento da complexidade financeira do dia a dia é o que chamamos de “financeirização”. Podemos dizer que é um processo em que os assuntos financeiros começam a “permear” os assuntos cotidianos. Até uma simples ida à farmácia envolve decisões financeiras além do mero pagamento (“vai pagar à vista com desconto ou quer parcelar?”).

A primeira vez que ouvi falar em “financeirização” foi quando li o livro “Pound Foolish” (leia meu artigo “O lado negro das finanças pessoais” sobre o livro, clicando aqui ), que foi lançado em 2012 nos EUA (não foi publicado no Brasil, pelo menos até o momento) e causou um grande alvoroço ao “detonar” a indústria das finanças pessoais e a própria educação financeira.

O livro mencionava o processo de financeirização dos EUA como um dos responsáveis pela situação financeira caótica de grande parte dos americanos. De fato, a quantidade de opções de crédito, investimentos, previdência, planos de saúde e outros serviços nos EUA é imensa (muito maior que aqui) e é muito difícil não ficar perdido por lá. Não é à toa que a profissão de “planejador financeiro” (que aqui no Brasil ainda está decolando) é tão popular nos EUA. Não é fácil a pessoa conseguir manter a vida em ordem sem algum tipo de ajuda profissional.

Os EUA estão bem à nossa frente no processo de financeirização; afinal, eles começaram muito antes de nós. E isso pode não ser uma boa notícia para nós, pois se usarmos os EUA como referência, estamos apenas engatinhando, e a tendência é que tudo por aqui fique ainda mais complexo no futuro.

“Pound Foolish” é um bom livro, mas é bastante enviesado ideologicamente e acaba pregando uma simplificação financeira “na marra” (nos EUA), com a criação de produtos financeiros padronizados e, muitas vezes, subsidiados. Eu não sei se algo assim é viável, nem lá e nem aqui. Minha percepção é que “o gênio saiu da garrafa” e agora não é mais possível colocá-lo de volta. Provavelmente, teremos que aceitar que o processo de financeirização é inevitável, e teremos que conviver com isso.

E como conviver com isso? Não há muito a fazer além de seguir a receita clássica de educação financeira, disciplina, planejamento e consumo consciente. Não podemos mais nos dar ao luxo de tratar “finanças” como se fosse um assunto que não faz parte de nossas vidas.

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Era uma vez um país chamado Brasil… Este país tinha um mercado financeiro peculiar. Por um lado, era extremamente complexo, pois a inflação insana o obrigou a criar práticas e mecanismos de correção monetária únicos.

Mas por outro lado (em particular pelo lado das pessoas comuns, que fazem transações de investimento e financiamento), era extremamente simples. Praticamente, só havia um mecanismo realmente “popular” de financiamento ao consumo: o cheque pré-datado. Cartão de crédito era um artigo de luxo e, quando ele era internacional, vinha escrito “internacional”, e as pessoas mostravam isso com orgulho: era um símbolo de status supremo. Investimentos? Caderneta de poupança e imóveis! Qualquer coisa além disso, só se fosse em um universo paralelo, e a Bolsa de Valores era apenas um cassino para senhores abastados. Seguridade social? Aposentadoria? Deixa que “o governo cuida”…

O tempo passou, as coisas foram mudando e o mercado financeiro brasileiro foi se tornando uma criatura cada vez mais complexa para o cidadão comum. Hoje, as pessoas têm uma abundância de opções de crédito e investimentos, e parece que nenhuma delas é totalmente adequada – todas escondem algum tipo de “armadilha”.

Agora, as pessoas se defrontam com dilemas e decisões financeiras que nunca existiram antes e, frequentemente, tomam decisões erradas, que levam a prejuízos e aborrecimentos. O tema “educação financeira” vem se tornando cada vez mais popular (e necessário), pois não dá mais para simplesmente ignorar os assuntos financeiros – nós podemos fugir deles, mas eles não fogem de nós…

Esse aumento da complexidade financeira do dia a dia é o que chamamos de “financeirização”. Podemos dizer que é um processo em que os assuntos financeiros começam a “permear” os assuntos cotidianos. Até uma simples ida à farmácia envolve decisões financeiras além do mero pagamento (“vai pagar à vista com desconto ou quer parcelar?”).

A primeira vez que ouvi falar em “financeirização” foi quando li o livro “Pound Foolish” (leia meu artigo “O lado negro das finanças pessoais” sobre o livro, clicando aqui ), que foi lançado em 2012 nos EUA (não foi publicado no Brasil, pelo menos até o momento) e causou um grande alvoroço ao “detonar” a indústria das finanças pessoais e a própria educação financeira.

O livro mencionava o processo de financeirização dos EUA como um dos responsáveis pela situação financeira caótica de grande parte dos americanos. De fato, a quantidade de opções de crédito, investimentos, previdência, planos de saúde e outros serviços nos EUA é imensa (muito maior que aqui) e é muito difícil não ficar perdido por lá. Não é à toa que a profissão de “planejador financeiro” (que aqui no Brasil ainda está decolando) é tão popular nos EUA. Não é fácil a pessoa conseguir manter a vida em ordem sem algum tipo de ajuda profissional.

Os EUA estão bem à nossa frente no processo de financeirização; afinal, eles começaram muito antes de nós. E isso pode não ser uma boa notícia para nós, pois se usarmos os EUA como referência, estamos apenas engatinhando, e a tendência é que tudo por aqui fique ainda mais complexo no futuro.

“Pound Foolish” é um bom livro, mas é bastante enviesado ideologicamente e acaba pregando uma simplificação financeira “na marra” (nos EUA), com a criação de produtos financeiros padronizados e, muitas vezes, subsidiados. Eu não sei se algo assim é viável, nem lá e nem aqui. Minha percepção é que “o gênio saiu da garrafa” e agora não é mais possível colocá-lo de volta. Provavelmente, teremos que aceitar que o processo de financeirização é inevitável, e teremos que conviver com isso.

E como conviver com isso? Não há muito a fazer além de seguir a receita clássica de educação financeira, disciplina, planejamento e consumo consciente. Não podemos mais nos dar ao luxo de tratar “finanças” como se fosse um assunto que não faz parte de nossas vidas.

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