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Dívida não é problema

Ao ler o título deste artigo, talvez você ache que eu enlouqueci ou então que sou um sujeito absolutamente insensível, especialmente se considerarmos que mais de 60% das famílias brasileiras têm dívidas (segundo a Confederação Nacional do Comércio em Janeiro de 2013) e que o número de pessoas superendividadas vem crescendo de maneira preocupante. Mas a verdade é que, independente do grau de sofrimento e angústia que elas causam, as […] Leia mais

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Você e o Dinheiro

Publicado em 19 de fevereiro de 2013 às, 09h44.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 09h08.

Ao ler o título deste artigo, talvez você ache que eu enlouqueci ou então que sou um sujeito absolutamente insensível, especialmente se considerarmos que mais de 60% das famílias brasileiras têm dívidas (segundo a Confederação Nacional do Comércio em Janeiro de 2013) e que o número de pessoas superendividadas vem crescendo de maneira preocupante.

Mas a verdade é que, independente do grau de sofrimento e angústia que elas causam, as dívidas não são um problema. Elas são a CONSEQUÊNCIA.

O endividamento, em si, não passa de um mero “fenômeno aritmético”. Ganhamos “X” e gastamos “Y”. Se “Y” for maior que “X”, vai faltar dinheiro e essa falta precisa ser coberta de alguma forma, simples assim.

O que causa o endividamento é, então, o desequilíbrio financeiro. O desequilíbrio é o VERDADEIRO problema. E as causas do desequilíbrio financeiro podem ser extrínsecas ou intrínsecas.

Causas extrínsecas

O desequilíbrio tem causas extrínsecas quando a pessoa vive em uma situação de equilíbrio financeiro, mas esse equilíbrio é perturbado por algum evento externo inesperado de efeitos catastróficos, como uma perda repentina da fonte de renda, um problema de saúde complexo (e caro), uma decisão judicial desfavorável ou outros eventos negativos sobre o qual não temos controle.

Causas intrínsecas

Quando o desequilíbrio não é causado por algum evento “disruptivo”, dizemos que ele tem causas intrínsecas. Isso significa, sem meias palavras, que a pessoa endividada é responsável pela sua situação (ainda que não perceba desta forma), seja por adotar um estilo de vida economicamente insustentável (sempre gastando mais do que ganha), seja por puro descontrole financeiro (muito comum hoje em dia, as pessoas vão acumulando “parcelinhas” mensais e, quando se dão conta, estão afundadas em dívidas) ou então por querer dar um passo maior que a perna.

Quando o desequilíbrio tem causas extrínsecas, faz todo sentido a pessoa adotar medidas financeiras, como renegociação de débitos ou troca de dívidas caras por outras mais baratas e de prazo maior, para restabelecer o equilíbrio financeiro que JÁ EXISTIA antes do evento catastrófico. Temos aí um problema puramente financeiro.

Agora quando o desequilíbrio é intrínseco, fruto de um estilo de vida insustentável, adotar medidas financeiras como renegociação de dívidas só vai fazer com que a pessoa leve um pouco mais de tempo para “quebrar” de vez. Isso acontece porque esse tipo de desequilíbrio não é um problema financeiro, é um problema comportamental. Não se pode consertar problemas comportamentais com ferramentas financeiras. Problemas comportamentais são consertados com, bem… Mudanças de comportamento!

Apenas quando o comportamento muda e a pessoa adota um estilo de vida adequado às suas possibilidades é que passamos a ter um problema financeiro, que é resolver as dívidas que ficaram pendentes. Aí sim, e só neste momento, as ferramentas financeiras têm verdadeira utilidade.

Eventos catastróficos acontecem, mas a maioria das pessoas endividadas atualmente é vítima de um desequilíbrio financeiro intrínseco, em geral associado ao consumo inconsequente que temos presenciado nos últimos anos.

O mundo das finanças pessoais é fascinante, pois pelo menos 90% dos problemas financeiros não são verdadeiramente financeiros, e sim comportamentais, emocionais ou até mesmo morais.

Muito se escreve e se fala sobre finanças pessoais. Não faltam blogs (como este), livros, programas de TV, cursos etc. Mas nada disso seria necessário (e praticamente 100% dos problemas financeiros do mundo sumiriam da noite para o dia) se as pessoas passassem a observar e seguir a sabedoria contida em apenas quatro palavras:

“VIVA CONFORME SUAS POSSIBILIDADES”