Exame Logo

Banco é lugar de investir dinheiro?

A pergunta que usei como título deste artigo provavelmente será feita com frequência cada vez maior daqui para frente. Estamos “apenas” no início de 2013. E 2013 é o primeiro ano após o evento que, na minha visão, representou a morte e o renascimento do mercado financeiro brasileiro: a mudança nas regras da Caderneta de Poupança em três de maio de 2012. No exato momento em que escrevo este artigo, […] Leia mais

DR

Da Redação

Publicado em 4 de março de 2013 às 14h16.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 09h07.

A pergunta que usei como título deste artigo provavelmente será feita com frequência cada vez maior daqui para frente. Estamos “apenas” no início de 2013. E 2013 é o primeiro ano após o evento que, na minha visão, representou a morte e o renascimento do mercado financeiro brasileiro: a mudança nas regras da Caderneta de Poupança em três de maio de 2012.

No exato momento em que escrevo este artigo, ainda se especula muito se os juros vão ou não subir. Ainda que subam, uma coisa não muda: agora não temos mais uma opção de investimento com uma rentabilidade “garantida”, como era o caso da antiga poupança com seu 0,5% ao mês. Os efeitos práticos dessa mudança não foram tão profundos e poderão até ser anulados caso os juros subam, mas o investidor brasileiro “médio” não mais poderá fazer seus planos de longo prazo contando com a certeza de que “pelo menos meio por cento ao mês está garantido”.

A tendência dos juros brasileiros, no longo prazo, ainda é de baixa. Tudo bem, temos a inflação “assustando” e outros fatores que podem impactar as coisas no curto prazo, mas ainda estamos muito descolados dos juros que são praticados no resto do mundo. Em economias desenvolvidas, como EUA, Europa e Japão, as taxas básicas oscilam entre zero e um por cento AO ANO. Algumas economias latino-americanas mais estáveis, como Chile, Peru, Colômbia e México, têm taxas básicas (equivalentes à nossa Selic) entre 4% e 5% ao ano. Observem como ainda estamos bastante acima do que se pratica mundo afora (estamos com 7,25% no momento).

O que podemos aprender observando essas economias mais desenvolvidas é que, em cenários de juros baixos, a vida do investidor fica bastante complicada. Os retornos caem, a volatilidade aumenta  (e o risco também) e o mercado, como um todo, fica muito mais complexo. Em 2002, quando a taxa Selic era de 25% ao ano, bastava ir a qualquer banco e investir em qualquer coisa recomendada pelo gerente que, como num passe de mágica, estávamos ganhando dinheiro. O retorno da taxa era tão alto que sequer sentíamos o efeito dos custos administrativos, dos impostos e da inflação.

Agora é diferente. O dinheiro já não vem tão facilmente e o cliente de banco (em particular aquele de nível socioeconômico mais alto e mais bem informado) já começa a ficar um pouco desconfiado e a fazer questionamentos que antes ele não fazia. Aqui no Brasil, muitos investimentos mais “simples”, que sempre foram populares, já estão rendendo abaixo da inflação (como a poupança e alguns fundos). Não devemos ficar surpresos com isso, basta ver o que acontece lá fora. Nos EUA, por exemplo, um CDB (que lá eles chamam apenas de “CD”) com cinco anos de duração, emitido por um banco de primeira linha, paga menos que 1% ao ano em média. Considerando que a inflação atual deles está em 1,6% ao ano, não é um cenário muito animador, não é mesmo?

Fora do Brasil, em particular nas economias mais desenvolvidas, ir ao banco para investir dinheiro soa como ir à sorveteria para comprar uma pizza. Talvez eles até vendam pizzas na sorveteria, mas não é o “lugar certo” para fazer isso. Quem vai ao banco, nesses lugares, vai em busca de crédito e de serviços bancários ou, no máximo, em busca de investimentos líquidos e de curto prazo para aquela famosa “reserva de emergência”, como as savings accounts (que podemos comparar grosseiramente à nossa caderneta de poupança).

Quem quer investir dinheiro “seriamente” acaba procurando uma empresa de gestão de recursos ou uma corretora de investimentos. É raro recorrer aos bancos, mas isso não significa que eles tenham desistido do mercado. Lá, como aqui, grandes bancos oferecem “consultorias de investimentos” e outras iniciativas para tentar promover seus produtos, mas o cliente mais bem informado e mais educado financeiramente não cede a esses apelos tão facilmente.

E aqui no Brasil, será que vai ser assim no futuro? Difícil saber, mas a história econômica brasileira mostra que nossos bancos (pelo menos os de grande porte) são bastante resilientes. Eles se adaptaram à era da hiperinflação, se adaptaram à subsequente era da inflação baixa, se adaptaram à era dos juros baixos (ou “menos altos”, se preferirem), então é razoável apostar que eles vão conseguir se adaptar a mais essa mudança, até porque, apesar dos pesares, alguns bancos brasileiros são bastante competentes na gestão de recursos de clientes.

Enfim, banco é lugar de investir dinheiro? Se você perguntar a um habitante de algum país do hemisfério norte minimamente esclarecido sobre assuntos financeiros, muito provavelmente a resposta será um sonoro “não”. Lá fora, as instituições que trabalham exclusivamente com investimentos não dão moleza para os bancos comerciais.

E aqui, como vai ser no futuro? Será que nossos “bancões” vão assimilar mais essa pancada e prevalecerão no mercado? Esse é um embate que os investidores deverão acompanhar com muita atenção nos próximos anos e será um importante capítulo da formação do novo mercado financeiro brasileiro, que está apenas começando.

A pergunta que usei como título deste artigo provavelmente será feita com frequência cada vez maior daqui para frente. Estamos “apenas” no início de 2013. E 2013 é o primeiro ano após o evento que, na minha visão, representou a morte e o renascimento do mercado financeiro brasileiro: a mudança nas regras da Caderneta de Poupança em três de maio de 2012.

No exato momento em que escrevo este artigo, ainda se especula muito se os juros vão ou não subir. Ainda que subam, uma coisa não muda: agora não temos mais uma opção de investimento com uma rentabilidade “garantida”, como era o caso da antiga poupança com seu 0,5% ao mês. Os efeitos práticos dessa mudança não foram tão profundos e poderão até ser anulados caso os juros subam, mas o investidor brasileiro “médio” não mais poderá fazer seus planos de longo prazo contando com a certeza de que “pelo menos meio por cento ao mês está garantido”.

A tendência dos juros brasileiros, no longo prazo, ainda é de baixa. Tudo bem, temos a inflação “assustando” e outros fatores que podem impactar as coisas no curto prazo, mas ainda estamos muito descolados dos juros que são praticados no resto do mundo. Em economias desenvolvidas, como EUA, Europa e Japão, as taxas básicas oscilam entre zero e um por cento AO ANO. Algumas economias latino-americanas mais estáveis, como Chile, Peru, Colômbia e México, têm taxas básicas (equivalentes à nossa Selic) entre 4% e 5% ao ano. Observem como ainda estamos bastante acima do que se pratica mundo afora (estamos com 7,25% no momento).

O que podemos aprender observando essas economias mais desenvolvidas é que, em cenários de juros baixos, a vida do investidor fica bastante complicada. Os retornos caem, a volatilidade aumenta  (e o risco também) e o mercado, como um todo, fica muito mais complexo. Em 2002, quando a taxa Selic era de 25% ao ano, bastava ir a qualquer banco e investir em qualquer coisa recomendada pelo gerente que, como num passe de mágica, estávamos ganhando dinheiro. O retorno da taxa era tão alto que sequer sentíamos o efeito dos custos administrativos, dos impostos e da inflação.

Agora é diferente. O dinheiro já não vem tão facilmente e o cliente de banco (em particular aquele de nível socioeconômico mais alto e mais bem informado) já começa a ficar um pouco desconfiado e a fazer questionamentos que antes ele não fazia. Aqui no Brasil, muitos investimentos mais “simples”, que sempre foram populares, já estão rendendo abaixo da inflação (como a poupança e alguns fundos). Não devemos ficar surpresos com isso, basta ver o que acontece lá fora. Nos EUA, por exemplo, um CDB (que lá eles chamam apenas de “CD”) com cinco anos de duração, emitido por um banco de primeira linha, paga menos que 1% ao ano em média. Considerando que a inflação atual deles está em 1,6% ao ano, não é um cenário muito animador, não é mesmo?

Fora do Brasil, em particular nas economias mais desenvolvidas, ir ao banco para investir dinheiro soa como ir à sorveteria para comprar uma pizza. Talvez eles até vendam pizzas na sorveteria, mas não é o “lugar certo” para fazer isso. Quem vai ao banco, nesses lugares, vai em busca de crédito e de serviços bancários ou, no máximo, em busca de investimentos líquidos e de curto prazo para aquela famosa “reserva de emergência”, como as savings accounts (que podemos comparar grosseiramente à nossa caderneta de poupança).

Quem quer investir dinheiro “seriamente” acaba procurando uma empresa de gestão de recursos ou uma corretora de investimentos. É raro recorrer aos bancos, mas isso não significa que eles tenham desistido do mercado. Lá, como aqui, grandes bancos oferecem “consultorias de investimentos” e outras iniciativas para tentar promover seus produtos, mas o cliente mais bem informado e mais educado financeiramente não cede a esses apelos tão facilmente.

E aqui no Brasil, será que vai ser assim no futuro? Difícil saber, mas a história econômica brasileira mostra que nossos bancos (pelo menos os de grande porte) são bastante resilientes. Eles se adaptaram à era da hiperinflação, se adaptaram à subsequente era da inflação baixa, se adaptaram à era dos juros baixos (ou “menos altos”, se preferirem), então é razoável apostar que eles vão conseguir se adaptar a mais essa mudança, até porque, apesar dos pesares, alguns bancos brasileiros são bastante competentes na gestão de recursos de clientes.

Enfim, banco é lugar de investir dinheiro? Se você perguntar a um habitante de algum país do hemisfério norte minimamente esclarecido sobre assuntos financeiros, muito provavelmente a resposta será um sonoro “não”. Lá fora, as instituições que trabalham exclusivamente com investimentos não dão moleza para os bancos comerciais.

E aqui, como vai ser no futuro? Será que nossos “bancões” vão assimilar mais essa pancada e prevalecerão no mercado? Esse é um embate que os investidores deverão acompanhar com muita atenção nos próximos anos e será um importante capítulo da formação do novo mercado financeiro brasileiro, que está apenas começando.

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se