Atletas e dinheiro, uma relação complicada
Periodicamente, o público toma conhecimento de algum ex-atleta famoso vivendo em situação de completa penúria financeira, depois de uma vida profissional cheia de glórias e dinheiro abundante. Artistas e outros profissionais de alta visibilidade também costumam ser vítimas frequentes desse tipo de “armadilha da vida” (que raramente é uma armadilha da vida; normalmente é uma armadilha montada pela própria pessoa que foi vítima dela…). Nem todos os atletas e celebridades […] Leia mais
Publicado em 10 de outubro de 2012 às, 11h04.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 09h16.
Periodicamente, o público toma conhecimento de algum ex-atleta famoso vivendo em situação de completa penúria financeira, depois de uma vida profissional cheia de glórias e dinheiro abundante. Artistas e outros profissionais de alta visibilidade também costumam ser vítimas frequentes desse tipo de “armadilha da vida” (que raramente é uma armadilha da vida; normalmente é uma armadilha montada pela própria pessoa que foi vítima dela…).
Nem todos os atletas e celebridades terminam seus dias “quebrados”, mas a quantidade de pessoas que acaba enfrentando a ruína financeira nessas atividades é significativamente alta, em termos relativos, se compararmos com outras profissões. Existem muitas explicações e teorias para isso, sendo a maioria delas relacionada com o despreparo dessas pessoas em lidar com as grandes quantidades de dinheiro que ganham.
Esse fenômeno não é algo restrito ao Brasil. Problemas financeiros em geral não reconhecem gênero, etnia nem nacionalidade. E este assunto esteve em grande evidência nos EUA nos últimos dias por causa de um programa de televisão que abordou o assunto e teve grande repercussão.
No dia 2 de outubro, a ESPN americana transmitiu um programa chamado “Broke” (“quebrado”), que faz parte da série de documentários esportivos “30 for 30”.
O programa é muito interessante. Mostra trechos de entrevistas com atletas (quase todos quebrados), jornalistas esportivos, treinadores, gente ligada ao mundo do esporte e profissionais de finanças e negócios.
Muitos dos atletas que aparecem no programa são completamente desconhecidos do público brasileiro, pois são de modalidades que não são populares por aqui, como o beisebol, o futebol americano e o basquete, mas as histórias que eles contam são incrivelmente familiares e parecidas com aquelas que ouvimos de nossos ídolos do futebol e outras celebridades. O programa é divido em oito blocos, que praticamente compõem um roteiro dos fatores que levam os atletas à falência.
1- Introdução e contextualização
O programa começa mostrando um pouco da evolução dos ganhos dos atletas, que efetivamente “explodiram” a partir de meados dos anos 90. Até então atletas costumavam ter ganhos mais modestos (para os padrões atuais).
Os anos 90 marcam um momento onde os esportes, os negócios e a mídia convergiram de forma mais intensa. Os valores envolvidos subiram exponencialmente e o ganho dos atletas acompanhou essa evolução. Começou, para valer, a era dos atletas milionários.
2- Gastos insanos
Nesse bloco do programa, nenhuma surpresa… Apenas o de sempre. Carrões, joias, casas gigantescas, roupas caríssimas, jogatina e coisas do gênero. O programa mostra as bizarrices habituais, como atletas que torravam dezenas de milhares de dólares em uma única ida a uma loja de roupas e outros que compravam carrões exóticos europeus e não os usavam, pois não sabiam dirigir carros com transmissão manual (pelo menos aqui no Brasil o pessoal é mais acostumado com isso…).
Também é mostrada a relação (ou falta dela) dos atletas com o fisco. Muitos deles nunca pagaram impostos sobre seus ganhos (muitas vezes por puro desconhecimento) e acabaram se encrencando feio.
3- Competitividade fora das quadras
Atletas são competitivos por natureza e, fora das quadras e campos esportivos, é natural que essa característica continue presente. Se entre pessoas “normais” o desejo secreto de todo mundo é ter um carro melhor do que o do vizinho, entre atletas milionários o desejo é ter um iate maior ou onze carros importados quando o colega de time tem “apenas dez”.
4- Negócios furados
Investimentos convencionais, como títulos e fundos de investimento, parecem não exercer um grande fascínio sobre atletas, que aparentemente se sentem muito mais à vontade investindo em coisas “bacanas” ,como bares, restaurantes, boates, lava-rápidos ou aquela “ideia genial do amigo do sobrinho que com certeza vai virar o próximo Google”.
A chance de perda investindo nesse tipo de negócio, especialmente quando não se tem experiência empreendedora, é enorme. Mas, ainda assim, parece que o apelo desse tipo de investimento é irresistível. “Investimentos normais são para os fracos”.
5- “Gênios financeiros”
Atletas, em geral, não se interessam por finanças. Alguns sequer têm ideia daquilo por que estão pagando. Colocam o dinheiro nas mãos de alguém “de confiança”, que pode ser o treinador, o empresário ou aquele amigo ou parente que não sabe absolutamente nada de finanças, mas “é bom com números”.
Pior ainda, muitos atletas (e isso se aplica às celebridades em geral), por despreparo e ingenuidade, acabam caindo vítimas da lábia de consultores financeiros e assessores de investimento picaretas que acabam gerando grandes prejuízos. O “dedo podre” na seleção dos investimentos costuma se repetir na seleção dos conselheiros financeiros.
Procurar um bom consultor financeiro, advogado ou contador? “Nem pensar! Não confio nesses almofadinhas!” (Então tá…).
6- “Ajudando a galera”
Atletas bem sucedidos frequentemente viram o ponto de apoio de um bando de gente: parentes, amigos e agregados. Com grande dificuldade em dizer “não” e sucumbindo à pressão social, acabam sustentando uma verdadeira “cambada” que se torna uma espécie de corte orbitando o atleta e drenando seus recursos.
7- “Maria-chuteiras”
Antes que alguém me acuse de sexismo (afinal, devem existir os “Zés-chuteiras” ou algo do gênero por aí), quero ressaltar que estou sendo fiel à forma como o programa foi organizado e apresentado, e a ênfase foi em atletas do gênero masculino sendo vítimas de moçoilas simpáticas, cheias de estrogênio e de más intenções. O famoso “golpe da barriga” é outro fenômeno que não reconhece fronteiras.
8- Lesões
Nesta última parte, o programa fala de riscos físicos, que são aquelas lesões que podem interromper, de forma definitiva e inesperada, a carreira de um atleta.
O programa acaba não dando um destaque tão grande àquilo que é, talvez, um dos maiores problemas do atleta, a sua “vida útil”, a qual costuma ser muito curta, o que os obrigaria a fazer um planejamento financeiro ainda mais rígido que a maioria das pessoas “normais”, considerando que o período de vacas gordas é relativamente curto.
De qualquer forma, é um programa muito interessante e mostra um pouco sobre o que motiva as decisões financeiras dessas pessoas e, de certa forma, traça um mapa do “caminho da ruína”, o que pode servir de lição sobre o que deve ser evitado.
A seguir é possível assistir ao programa, que está disponível na íntegra no YouTube, mas quero fazer duas ressalvas:
A primeira é que o programa está em Inglês e sem legendas, mas quem tem um conhecimento rudimentar de Inglês provavelmente vai conseguir entender bastante coisa. A segunda ressalva é que esse vídeo não é “oficial” (se é que me entendem…), por isso há o risco que ele seja removido do YouTube. Na dúvida, assista rápido!