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“Aquilo que não se pode medir, não se pode melhorar”

Alguma vez você já participou de uma palestra motivacional? Caso tenha participado, talvez já tenha visto um “truque de palco” muito comum usado por oradores motivacionais. Eles jogam uma bola (geralmente, uma daquelas bolas bem grandes, de parque de diversões) para a plateia e pedem para que as pessoas a passem de mão em mão, de forma que ela dê a volta completa no recinto, até voltar ao palco. Quando […] Leia mais

V
Você e o Dinheiro

Publicado em 22 de outubro de 2014 às, 12h37.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 08h16.

Alguma vez você já participou de uma palestra motivacional? Caso tenha participado, talvez já tenha visto um “truque de palco” muito comum usado por oradores motivacionais. Eles jogam uma bola (geralmente, uma daquelas bolas bem grandes, de parque de diversões) para a plateia e pedem para que as pessoas a passem de mão em mão, de forma que ela dê a volta completa no recinto, até voltar ao palco. Quando a bola retorna, o orador olha para o relógio e diz em quanto tempo ela fez o percurso, e aí propõe repetir o experimento, mas desta vez com as pessoas sabendo que estão sendo “cronometradas”. Invariavelmente, a bola faz o trajeto mais rápido do que na primeira vez.

O objetivo dessa brincadeira é mostrar, na prática, que, quando as pessoas sabem que estão sendo “medidas”, elas trabalham de forma mais rápida e mais eficiente. Quando o orador anuncia que o tempo será medido, as pessoas acabam trabalhando mais rápido. É algo inconsciente.

A frase que serviu de título para este artigo é uma de minhas frases favoritas, e a menciono na maioria das palestras que eu faço (que não são exatamente “motivacionais”, mas sempre procuro inserir algum elemento motivacional, senão vira “aulinha de finanças”… E isso ninguém mais aguenta!).

O autor da frase é um físico irlandês do Século XIX chamado William Thomson, e ele foi um dos cientistas mais importantes de sua época. Poucas pessoas reconhecem esse nome, pois ele se tornou conhecido como “Lord Kelvin” (o pai do “zero absoluto”), e seu nome acabou virando uma das unidades do sistema internacional de medidas (a escala Kelvin de temperatura, que todos aprendemos nas aulas de Química na escola mas, naturalmente, a maioria de nós não lembra…).

O que temperatura, bolas infláveis, um cientista do Século retrasado e palestrantes motivacionais têm a ver com finanças pessoais? Basicamente… tudo!

Lord Kelvin, o homem que media

Lord Kelvin, o homem que media

A base do bom planejamento financeiro são os registros financeiros (sim, estou falando de anotar todos gastos e as entradas de dinheiro – aquilo que todo mundo concorda que é importante, mas ninguém gosta de fazer…). Quando nós temos bons registros financeiros, nós conseguimos “medir” nossas finanças, e quando a gente mede (como já foi dito no título do artigo), melhora!

Não é um efeito mágico ou místico. Essa “melhora” vem do simples fato que, ao medirmos, estamos mais conscientes e atentos ao que está acontecendo. Nós comparamos o mês atual com o anterior e vimos que gastamos demais. Isso nos gera um certo desconforto e, inconscientemente, ficamos mais criteriosos em fazer novos gastos, pois ver no mês seguinte que a coisa continua “ladeira abaixo” nos trará um desconforto psicológico ainda maior.

Ao medir, ficamos mais “ligados” em nossas finanças, conseguimos ter uma visão panorâmica e temos uma melhor noção de como o dinheiro se movimenta: de onde ele vem e para onde ele vai. Para quem mede as finanças, não existe aquela coisa de “não saber por que o dinheiro acaba antes do fim do mês”. Quando nós medimos e, mais importante, quando medimos DIREITO, as coisas ficam claras e não conseguimos nos autoenganar.

Essa mesma prática de “medir as coisas” pode ser aplicada a qualquer área de vida em que queremos ter alguma melhora: nossa saúde, nosso desempenho profissional, nosso peso… Experimente se pesar todo dia, na mesma hora e na mesma balança, e registrar o peso numa planilha ou caderno. É uma prática não muito recomendada por médicos e profissionais de saúde (há muita variação de curto prazo, e algumas pessoas acabam ficando um pouco “paranoicas”). Mas aposto que, se você fizer isso, você vai ficar mais atento àquilo que ingere…

Num próximo artigo, vou explorar um pouco mais essa questão de “medirmos a nós mesmos” falando de um movimento/filosofia que vem ganhando muitos adeptos, especialmente fora do Brasil, chamado Quantified Self. Aguarde!