Aprendendo sobre finanças e economia com “Gangnam Style”
É difícil imaginar dois países mais diferentes que o Brasil e a Coreia do Sul. O Brasil é um país latino, gigantesco e cuja população é o resultado de uma grande mistura étnica e cultural. A Coreia do Sul, literalmente do outro lado do mundo, é um país pequeno, com uma população homogênea, e que sofreu um bocado com guerras no Século XX. No entanto, é muito comum vermos comparações […] Leia mais
Da Redação
Publicado em 23 de setembro de 2012 às 15h30.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 09h17.
É difícil imaginar dois países mais diferentes que o Brasil e a Coreia do Sul. O Brasil é um país latino, gigantesco e cuja população é o resultado de uma grande mistura étnica e cultural. A Coreia do Sul, literalmente do outro lado do mundo, é um país pequeno, com uma população homogênea, e que sofreu um bocado com guerras no Século XX.
No entanto, é muito comum vermos comparações entre o Brasil e a Coreia do Sul, feitas por profissionais e pesquisadores da área de economia e desenvolvimento humano, que mostram que os dois países tinham indicadores educacionais praticamente idênticos no início da década de 70 do século passado.
Ambos sofriam com altas taxas de analfabetismo e tinham indicadores socioeconômicos abaixo do ideal, para dizer o mínimo. Ambos adotaram estratégias diametralmente opostas para tentar amenizar essa situação. O Brasil investiu em um ensino superior público de qualidade e altamente elitizado, e acabou não privilegiando tanto o ensino básico. A Coreia do Sul, por outro lado, praticamente concentrou a totalidade de seus recursos em criar um sistema de ensino básico universal e de boa qualidade, colocando o ensino superior nas mãos da iniciativa privada.
O resultado dessas ações é que, décadas depois, a Coreia do Sul tem indicadores socioeconômicos de “primeiro mundo”, indicadores educacionais invejáveis, uma economia altamente dinâmica e uma cultura de inovação tecnológica. Já o Brasil, bem… O Brasil é aquilo que a gente já sabe…
Eu sei muito pouco sobre a Coreia. Eu nunca estive lá e conheci poucos coreanos ao longo da vida. Quando eu era criança, havia um colega coreano (nato) na escola onde estudei, e me lembro de que, uma vez, ele teve uma crise de choro desesperadora na classe, pois havia tirado nove em uma prova e não dez. Foi uma cena que me impressionou muito.
Também frequentei uma academia de tae kwon do (a arte marcial mais popular da Coreia) quando criança. O ambiente transpirava disciplina e nacionalismo. O professor era muito rigoroso e usávamos bandeirinhas da Coreia do Sul em nossos trajes de luta. É um período inesquecível de minha vida, pois foi quando sofri minha primeira fratura (um braço quebrado), tentando fazer uma acrobacia idiota. Acabei encerrando minha “carreira de lutador” depois dessa (acho que o MMA não perdeu um grande talento…).
Nesses últimos dias, um assunto quase onipresente na internet é um certo “Gangnam Style”. Eu não sou um sujeito muito antenado em cultura pop, especialmente quando se trata de música (tenho uma queda por hard rock e meu gosto musical ficou perdido em algum lugar dos anos 70), mas quando esse assunto passou a se tornar presente também nos sites de negócios e economia, achei que era melhor dar uma olhada.
Uma coisa vai levando a outra, e esse súbito interesse pelo “estilo de Gangnam” está colocando os hábitos financeiros e de consumo dos sul-coreanos nos holofotes.
Até meados da década de 90 do século passado, os sul-coreanos eram um dos povos mais poupadores do mundo. Os índices de poupança interna eram muito altos, mas o governo começou a adotar algumas medidas para estimular o consumo e aquecer a economia. Hoje, o consumo naquela região está em alta, e os habitantes de Gangnam simbolizam aquele consumo conspícuo que a gente conhece tão bem: roupas da última moda, carrões importados, gadgets eletrônicos etc.
Agora, o mais surpreendente: o grande motor desse consumo enlouquecido é… Surpresa! Endividamento pessoal e cartão de crédito! Ou seja, quarenta anos depois, lá estamos nós, Brasil e Coreia do Sul, juntos novamente. Os dois países vivem um caso de amor com o cartão de crédito. Aqui no Brasil, a maior parcela das dívidas das famílias está concentrada no cartão de crédito. Na Coreia do Sul, cada habitante tem, em média, cinco cartões (conforme análise da Reuters de 2011). O jornal inglês Financial Times chegou a se referir à Coreia do Sul como “ república dos cartões de plástico ”.
A situação na Coreia do Sul já foi pior. Em 2003, o sistema financeiro precisou ser socorrido pelo governo, pois o endividamento do consumidor (em grande parte alimentado pelo uso desenfreado do cartão de crédito) havia saído do controle.
O endividamento das famílias coreanas atualmente é de estonteantes 155% da renda disponível. Grosseiramente falando, é o triplo do brasileiro. Só que tem um “pequeno detalhe”: aqui no Brasil, a taxa média do rotativo do cartão de crédito (a modalidade de crédito mais popular entre os consumidores brasileiros) é de 238,30% ao ano (segundo a última pesquisa de juros da ANEFAC). Na Coreia, a taxa de um adiantamento em dinheiro no cartão de crédito (pelo que entendi, eles não têm o crédito rotativo tal como o conhecemos) está numa média entre 20 a 25% ao ano.
É difícil saber quem está na pior. Nosso endividamento é baixo para os padrões mundiais, mas nosso custo financeiro praticamente anula essa “vantagem”. Não ficaria surpreso em descobrir que, apesar dessas diferenças, no resultado final, nós, Brasil e Coreia do Sul, estamos novamente “igualados”, como na década de setenta.
E essa conversa toda ainda serve para mostrar, mais uma vez, que a educação financeira deficiente e o consumo deslumbrado não são uma característica apenas do brasileiro, mas sim do ser humano. Dinheiro (e, consequentemente, o consumo) não reconhece etnia, idade, sexo ou religião.
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É difícil imaginar dois países mais diferentes que o Brasil e a Coreia do Sul. O Brasil é um país latino, gigantesco e cuja população é o resultado de uma grande mistura étnica e cultural. A Coreia do Sul, literalmente do outro lado do mundo, é um país pequeno, com uma população homogênea, e que sofreu um bocado com guerras no Século XX.
No entanto, é muito comum vermos comparações entre o Brasil e a Coreia do Sul, feitas por profissionais e pesquisadores da área de economia e desenvolvimento humano, que mostram que os dois países tinham indicadores educacionais praticamente idênticos no início da década de 70 do século passado.
Ambos sofriam com altas taxas de analfabetismo e tinham indicadores socioeconômicos abaixo do ideal, para dizer o mínimo. Ambos adotaram estratégias diametralmente opostas para tentar amenizar essa situação. O Brasil investiu em um ensino superior público de qualidade e altamente elitizado, e acabou não privilegiando tanto o ensino básico. A Coreia do Sul, por outro lado, praticamente concentrou a totalidade de seus recursos em criar um sistema de ensino básico universal e de boa qualidade, colocando o ensino superior nas mãos da iniciativa privada.
O resultado dessas ações é que, décadas depois, a Coreia do Sul tem indicadores socioeconômicos de “primeiro mundo”, indicadores educacionais invejáveis, uma economia altamente dinâmica e uma cultura de inovação tecnológica. Já o Brasil, bem… O Brasil é aquilo que a gente já sabe…
Eu sei muito pouco sobre a Coreia. Eu nunca estive lá e conheci poucos coreanos ao longo da vida. Quando eu era criança, havia um colega coreano (nato) na escola onde estudei, e me lembro de que, uma vez, ele teve uma crise de choro desesperadora na classe, pois havia tirado nove em uma prova e não dez. Foi uma cena que me impressionou muito.
Também frequentei uma academia de tae kwon do (a arte marcial mais popular da Coreia) quando criança. O ambiente transpirava disciplina e nacionalismo. O professor era muito rigoroso e usávamos bandeirinhas da Coreia do Sul em nossos trajes de luta. É um período inesquecível de minha vida, pois foi quando sofri minha primeira fratura (um braço quebrado), tentando fazer uma acrobacia idiota. Acabei encerrando minha “carreira de lutador” depois dessa (acho que o MMA não perdeu um grande talento…).
Nesses últimos dias, um assunto quase onipresente na internet é um certo “Gangnam Style”. Eu não sou um sujeito muito antenado em cultura pop, especialmente quando se trata de música (tenho uma queda por hard rock e meu gosto musical ficou perdido em algum lugar dos anos 70), mas quando esse assunto passou a se tornar presente também nos sites de negócios e economia, achei que era melhor dar uma olhada.
Uma coisa vai levando a outra, e esse súbito interesse pelo “estilo de Gangnam” está colocando os hábitos financeiros e de consumo dos sul-coreanos nos holofotes.
Até meados da década de 90 do século passado, os sul-coreanos eram um dos povos mais poupadores do mundo. Os índices de poupança interna eram muito altos, mas o governo começou a adotar algumas medidas para estimular o consumo e aquecer a economia. Hoje, o consumo naquela região está em alta, e os habitantes de Gangnam simbolizam aquele consumo conspícuo que a gente conhece tão bem: roupas da última moda, carrões importados, gadgets eletrônicos etc.
Agora, o mais surpreendente: o grande motor desse consumo enlouquecido é… Surpresa! Endividamento pessoal e cartão de crédito! Ou seja, quarenta anos depois, lá estamos nós, Brasil e Coreia do Sul, juntos novamente. Os dois países vivem um caso de amor com o cartão de crédito. Aqui no Brasil, a maior parcela das dívidas das famílias está concentrada no cartão de crédito. Na Coreia do Sul, cada habitante tem, em média, cinco cartões (conforme análise da Reuters de 2011). O jornal inglês Financial Times chegou a se referir à Coreia do Sul como “ república dos cartões de plástico ”.
A situação na Coreia do Sul já foi pior. Em 2003, o sistema financeiro precisou ser socorrido pelo governo, pois o endividamento do consumidor (em grande parte alimentado pelo uso desenfreado do cartão de crédito) havia saído do controle.
O endividamento das famílias coreanas atualmente é de estonteantes 155% da renda disponível. Grosseiramente falando, é o triplo do brasileiro. Só que tem um “pequeno detalhe”: aqui no Brasil, a taxa média do rotativo do cartão de crédito (a modalidade de crédito mais popular entre os consumidores brasileiros) é de 238,30% ao ano (segundo a última pesquisa de juros da ANEFAC). Na Coreia, a taxa de um adiantamento em dinheiro no cartão de crédito (pelo que entendi, eles não têm o crédito rotativo tal como o conhecemos) está numa média entre 20 a 25% ao ano.
É difícil saber quem está na pior. Nosso endividamento é baixo para os padrões mundiais, mas nosso custo financeiro praticamente anula essa “vantagem”. Não ficaria surpreso em descobrir que, apesar dessas diferenças, no resultado final, nós, Brasil e Coreia do Sul, estamos novamente “igualados”, como na década de setenta.
E essa conversa toda ainda serve para mostrar, mais uma vez, que a educação financeira deficiente e o consumo deslumbrado não são uma característica apenas do brasileiro, mas sim do ser humano. Dinheiro (e, consequentemente, o consumo) não reconhece etnia, idade, sexo ou religião.
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