A mulherada no comando (pelo menos lá no Japão)
Quando se fala do Japão, vem à cabeça de alguns a imagem de um país altamente desenvolvido, tecnológico e que se reinventou (ainda que com uma “forcinha” do capital americano) após a Segunda Guerra Mundial. Outros, como eu mesmo e algumas pessoas mais ligadas às questões financeiras, logo pensam na bolsa de valores japonesa, ou mais em particular no Índice Nikkei 225, aquele que vem caindo continuamente desde 1989 e […] Leia mais
Publicado em 2 de outubro de 2012 às, 11h31.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 09h17.
Quando se fala do Japão, vem à cabeça de alguns a imagem de um país altamente desenvolvido, tecnológico e que se reinventou (ainda que com uma “forcinha” do capital americano) após a Segunda Guerra Mundial. Outros, como eu mesmo e algumas pessoas mais ligadas às questões financeiras, logo pensam na bolsa de valores japonesa, ou mais em particular no Índice Nikkei 225, aquele que vem caindo continuamente desde 1989 e que parece ser uma prova de que a lei da gravidade não gosta de ser desafiada. Mas um outro grupo de pessoas puxa da memória a imagem de um país com um povo tradicionalista, rígido, patriarcal e extremamente machista.
Para este último grupo, a BBC trouxe na semana passada uma matéria muito interessante que mostra que, machista ou não, no Japão são as mulheres que dão as cartas na administração das finanças domésticas.
A reportagem (que pode ser acessada clicando aqui) mostra vários personagens, homens, que trabalham duro (em muitos casos são o único gerador de renda da família), entregam para suas mulheres integralmente o fruto de seu trabalho e destas ganham uma “mesada” para suas despesas do dia a dia.
Vamos aos números: segundo a empresa japonesa de pesquisas de mercado Softbrain Field, em 74% dos lares japoneses, o orçamento doméstico está sob controle da mulher. É uma maioria respeitável.
Agora um outro dado: de acordo com o Shinsei Bank, que há alguns anos pesquisa esse fenômeno de finanças pessoais, o valor médio da “mesada” recebida pelos maridos é de 39.600 ienes, o que dá o equivalente a pouco mais de 500 dólares americanos por mês em valores de hoje. Um outro dado interessante apresentado pelo banco é que o valor dessa mesada vem caindo com os anos desde 1990, quando a economia japonesa estava no seu auge (isso foi apenas um ano após o já mencionado índice Nikkei 225 atingir sua máxima histórica). Em 1990, a mesada média era de 76.000 ienes, quase o dobro do valor atual (obviamente, sem considerar inflação).
Segundo o último “Japan Statistical Yearbook”, publicado pelo departamento de estatísticas do Ministério das Comunicações e Assuntos Internos do Japão, o salário médio mensal no Japão (geral) é de 360 mil ienes. Vejam só, estamos falando aqui que o homem japonês “típico” tem controle efetivo sobre pouco mais que 10% de sua renda. É quase um “dízimo” para o marido. É… Não deve ser muito fácil ser homem no Japão…
A justificativa apresentada pela reportagem da BBC é que, no Japão, o papel do homem como “provedor” é algo levado muito a sério, e espera-se dos homens um estilo de vida mais austero e que privilegie os assuntos da família e do lar. O “sacrifício” do homem é valorizado socialmente. Obviamente, essa explicação (que pode até ser verdadeira) reforça o estereótipo do machismo japonês. Mas é muito mais divertido imaginar que a verdadeira explicação é que as mulheres de lá estão, de forma mais ou menos “oculta”, se preparando para tomar o poder!
E aqui no Brasil?
Há poucos dias, a Boa Vista Serviços, empresa de informações de crédito, publicou uma pesquisa chamada “Pesquisa Mercados 2012 – Endividamento e Inadimplência” (que pode ser lida na íntegra clicando aqui), que mostra um pouco do comportamento do brasileiro frente às transformações pelas quais nosso mercado financeiro vem passando, e a pesquisa elenca uma série de crenças do brasileiro sobre dinheiro e as classifica como “mito” ou “verdade”.
Uma dessas crenças é “As mulheres estão à frente do orçamento doméstico”, que foi classificada como mito. A pesquisa mostra que, no Brasil, há um equilíbrio entre homens e mulheres no comando do orçamento doméstico, com uma pequena vantagem para os homens.
Na pesquisa, os entrevistados podiam responder quem era o responsável pela gestão das finanças familiares conforme uma das seguintes categorias: o cônjuge; o próprio entrevistado; pai; mãe; outros e mais de uma pessoa. Para mim, a única falha da pesquisa é que faltou a opção “ninguém”, pois na maioria das famílias que eu conheço a organização do orçamento doméstico está “ao Deus dará”… Até imaginei que “ninguém” poderia estar na categoria “outros”, mas a quantidade de entrevistados que respondeu essa opção foi tão pequena que o resultado seria inconsistente com as minhas observações.
Mas… Bem, isso fica para um outro artigo.