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Quando investir no indivíduo fortalece o coletivo

Na coluna desta semana, Viviane Martins, CEO da Falconi, faz uma reflexão sobre a importância de olhar para a individualidade dos funcionários em um time

O que mudou nas nossas empresas? (scyther5/Thinkstock)
O que mudou nas nossas empresas? (scyther5/Thinkstock)
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Viviane Martins

Publicado em 28 de setembro de 2022 às, 15h21.

Qualificar, requalificar e requalificar novamente – a única forma de se acompanhar o futuro do trabalho, já que o aprendizado contínuo está no âmago da Quarta Revolução Industrial que vivemos. O alerta foi feito há cinco anos pelo Fórum Econômico Mundial, quando já se percebia que as habilidades necessárias para a maioria dos empregos estavam evoluindo rapidamente, infinitamente mais rápido que o ritmo de evolução apresentado pelos sistemas de educação e treinamento de adultos.

Hoje, após uma pandemia global e com uma guerra na Europa que se reflete nos preços dos principais insumos e na cadeia logística mundo afora, o que mudou na sua empresa? O que mudou nas nossas empresas? Após um salto exponencial no entendimento de que a inovação e a adoção de novas tecnologias, o que podemos dizer sobre o entendimento de que inovação exige qualificação e requalificação constantes?

Mas capacitar um funcionário não é uma missão simples. Capacitar centenas e milhares, então, se torna um trabalho exponencialmente mais desafiador. De um lado da moeda, há uma forte demanda pela oferta de novas ferramentas e por processos que permitam aos funcionários aprender para o que elas servem e como aplicá-las no seu dia a dia, em prol do aumento de produtividade e geração de melhores resultados. Do outro, engajar os profissionais no aprendizado nem sempre é fácil, as pessoas podem até maratona séries no streaming, mas não tem a paciência para ensinos presenciais ou à distância que não ofereçam uma experiência individualizada, que considere o ponto de partida de cada um.

Não se trata de desafio brasileiro unicamente. O mundo inteiro procura formas de acelerar rapidamente a curva de adoção de novas habilidades, em substituição das que ficaram para trás. Um recente estudo da empresa de headhunting Korn Ferry mostrou que até 2030, haverá uma escassez global de talentos humanos de mais de 85 milhões de pessoas, ou aproximadamente o equivalente à população da Alemanha. Se não for controlada, tal escassez poderá resultar em cerca de US$ 8,5 trilhões em receitas anuais não realizadas.

Trocando em miúdos – ou, mais precisamente, falando especificamente sobre algumas das maiores economias do mundo: segundo a pesquisa, EUA e Rússia, poderão ter escassez de até seis milhões de profissionais; a China, de até 12 milhões e, em uma escalada ainda pior no Japão, Indonésia e Brasil, os três países enfrentarão cenários onde poderão faltar até 18 milhões de trabalhadores qualificados. Se, por um lado, educação está ligada a políticas de estado, capacitação é uma responsabilidade privada, do indivíduo e da empresa.

Os números assustam ainda mais ao lembrarmos que recentemente um em cada quatro trabalhadores em países da OCDE já relatava incompatibilidade de habilidades em relação àquelas que passaram a ser exigidas por seus empregos atuais. Algo que passa muito, obviamente, pela adoção de novas tecnologias. Aí vale chamar a atenção para um novo tipo de trabalho híbrido sobre o qual ainda se fala pouco – e que não é o híbrido que mistura o trabalho remoto com períodos no escritório. O novo híbrido conjuga o esforço humano, em tarefas diferenciadas e com suas qualificações únicas, com o esforço automatizado das máquinas, que responsabilizando-se por tarefas repetitivas, liberarão o ser humano para aquilo que ele faz de melhor, como já previa Nikola Tesla no fim do século XIX. E para tal, nós, humanos, temos de nos conectar, definitivamente, com o conceito de aprendizado permanente.

Nos Estados Unidos, onde estive recentemente para participar de evento na ONU sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, repetiram para mim uma frase da executiva indiana Shweta Mohanty: “temos de nos lembrar que empregabilidade, hoje, é sinônimo de capacidade de aprendizado”. Nada resume melhor nosso momento.

Uma das soluções para essa equação complexa, mas alinhada com os novos tempos, é o que muitos no Brasil já chamam de empresa-escola, tema que já abordei por aqui. Ou seja: as empresas que se propõem a formar, capacitar e requalificar seus talentos, aliando o interesse individual do profissional ao interesse coletivo da companhia.

É essa a reflexão que trago aqui, a importância de se olhar para a individualidade dos funcionários dentro de um time. Em um processo de capacitação, sabe-se que é muito pouco produtivo colocar dezenas de pessoas que ocupam diferentes posições para uma aula. É um custo altíssimo para uma eficácia e absorção de conteúdo muito baixas. Ambientes de aprendizado devem ser formados por espaços colaborativos, nos quais as trocas entre áreas e times possam se conectar e os profissionais se ajudarem em prol da resolução de problemas.

Quando qualificação e a requalificação precisam estar no dia a dia das empresas, quando cada vez mais os profissionais buscam entender e se conectar com o propósito da companhia em que trabalham e, sobretudo, no mesmo momento em que as empresas começam a se aplicar mais e mais para tirar do papel as boas intenções e aplicá-las de fato, norteadas por princípios ESG, é fundamental enxergar a dinâmica dessas três forças no mesmo quadro. É o que dará sustentação ao nosso presente e construirá uma ponte sólida para o futuro das empresas.

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