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NFTs e sua sofisticação nos blockchains

Como a tecnologia blockchain está transformando os mercados de tokens não fungíveis

 (Divulgação/Divulgação)
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Tatiana Revoredo

Publicado em 29 de março de 2021 às, 15h59.

Última atualização em 29 de março de 2021 às, 19h22.

Para entender NFTs, é preciso compreender o que é fungibilidade

 

No artigo anterior, vimos como a tokenização de ativos impacta o mundo real e o mundo dos negócios.

Hoje, veremos como a tecnologia blockchain está revolucionando os mercados de ativos não fungíveis mercado. Nosso objetivo aqui é mostrar o que está por trás da valorização dos NFTs, que ganhou destaque neste início de 2021.

Mas para compreendermos NFTs, que é a abreviação em inglês para Non Fungible Tokens, é preciso entender o que é fungibilidade. Um ativo não fungível é aquele que não pode ser substituído por outro de igual qualidade, quantidade.

Pense na maioria das coisas que você possui…. a cadeira em que você está sentado, seu telefone, seu laptop, qualquer coisa que você possa vender no mercado livre. Tudo isto se enquadra na categoria de coisas não fungíveis. Já uma nota de dinheiro, de cem reais, por exemplo, é um exemplo clássico de um ativo fungível, pois pode ser trocada por outra nota de 100 reais, independente do número de série que essa nota possua.

 

O que é um NFT afinal?

 

Já vimos nesta coluna que um token pode literalmente representar tudo: a participação numa empresa, a capa de um disco, o direito de usar um serviço, a propriedade de uma obra de arte ou de uma música, um ingresso de um show, etc.

Assim, uma definição bem simples de NFTs é: eles são a representação de ativos não fungíveis em meio digital.

Outra definição, mais técnica, de que gosto de dar é: um NFT é um pedaço de código de software que verifica se você detém a propriedade de um ativo digital não fungível, ou a representação digital do ativo físico não fungível em meio digital.

Os mercados de NFTs

 

Muitas notícias têm chamado a atenção para a venda de NFTs no mercado milionário de obras de arte, como a venda por US$ 69,346,250 do NFT do crypto artist  Beeple na casa de leilões britânica Christie’s.

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O preço astronômico que uma obra de arte pode alcançar no mercado, contudo, não é uma novidade. Em novembro de 2017, por exemplo, o quadro “Salvator Mundi”, um retrato de Cristo pintado por Leonardo da Vinci, foi vendido por US$ 450,3 milhões de dólares.

Ativos digitais não fungíveis também não são uma novidade. Eles existem desde o surgimento da internet. Nomes de domínio, ingressos para eventos, moedas digitais em jogos, identificadores em redes sociais como Twitter ou Facebook, todos são ativos digitais não fungíveis.

Logo, os NFTs não são utilizados apenas no mercado de arte, mas também na indústria de games, de nomes de domínio, na indústria de ingressos de eventos, dentre outros.

No tocante ao seu tamanho, o mercado de NFTs é um pouco mais difícil de medir que o de criptomoedas devido à falta de preços à vista para os ativos não fungíveis.

Bem por isso, usando o volume de negociação secundária como métrica, isto é, analisando as vendas ponto a ponto de tokens não fungíveis como um indicador do seu tamanho, estima-se que o mercado secundário atual de NFT seja aproximadamente de US$ 2 milhões a US$ 3 milhões em volume, por mês. Nos últimos seis meses, os projetos que lideraram em vendas foram o MyCriptoheroes, Decentraland, GodsUnchaned, ENS – Ethereum Nace Service –, CryptoKitties e Cryptovoxels.

 

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A empresa Epic Games, por exemplo, gerou US$ 2,4 bilhões de dólares em receita com a venda de NFTs de “skins” do jogo gratuito Fortnite, em apenas um ano.

E só na indústria de ingressos online para eventos, a projeção é que o uso de NFTs neste mercado gere uma receita de US$ 68 bilhões de dólares em 2025.

Mas se NFTs não são novidade, por que tanto alvoroço agora em torno dos NFTs?

 

Tokens não fungíveis antes do blockchain

 

Moedas digitais em jogos eletrônicos, pontos de companhias aéreas já existiam antes do surgimento do blockchain do bitcoin, o primeiro blockchain.

Mas os NFTs tradicionais não tinham uma representação unificada no mundo digital. Isto é, não eram padronizados.

Deste modo, um jogo representava seus itens colecionáveis de um modo diferente de um sistema de ingressos para eventos. O usuário de um jogo eletrônico, por exemplo, só conseguia comprar uma ferramenta ou um skin na plataforma daquele jogo, e não conseguiria vender seu NFT no eBay, por exemplo.

Não existia NFTs padronizados, e os mercados eram fechados, limitados às plataformas que emitiam e criavam aquele determinado NFT.

Ora, com a introdução de NFTs em blockchains, esse cenário mudou.

 

Os NFTs registrados em blockchain

 

Os primeiros experimentos de NFTs em blockchains começaram com o surgimento dos colored coins, uma classe de metadados que representavam e gerenciavam ativos do mundo real no topo do blockchain do bitcoin. Embora originalmente projetado para possibilitar transações de bitcoin, a linguagem de script do blockchain do bitcoin permite armazenar pequenas quantidades de metadados na rede, que podem ser usadas para representar instruções de manipulação de ativos.

O primeiro experimento de NFT baseado no blockchain Ethereum foi o Cryptopunks, construído pela Larva Labs, que consistia em 10.000 punks colecionáveis e únicos. O fato dos punks “viverem”na rede Ethereum, os torna interoperáveis com mercados e carteiras digitais.

Pois bem, os NFTs em blockchains chegaram ao mainstream com os Cryptokitties.

 

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Lançado no final de 2017 no hackathon ETH Waterloo, os Cryptokitties são um jogo que permite aos usuários criar gatos digitais juntos para produzir novos gatos, com “raridade”variada.

Este projeto foi pioneiro por criar um sistema sofisticado de incentivos, ter a cautela de reservar determinados NFTs para uso posterior como ferramenta promocional, utilizar um contrato de leilão holandês que, posteriormente, se tornou um dos principais mecanismos para descoberta de preços para NFTs.

 

Vantagens de NFTs baseados em blockchain

 

O interessante da aplicação da tecnologia blockchain aos NFTs é que ela os torna mais “poderosos”.

Quando o Cryptokitties foi lançado no blockchain Ethereum, ele trouxe a padronização aos NFTs, ao introduzir o primeiro padrão para representar ativos digitais não fungíveis: o ERC-721.

Trata-se de um padrão de contrato inteligente que fornece uma maneira padronizada de verificar quem possui um NFT e uma maneira padronizada de “mover” ativos digitais não fungíveis. Outros padrões usados em NFTs, além do ERC-721, são o ERC-1155 que traz a ideia de semifungibilidade, e o ERC-998 que fornece um modelo pelo qual os NFTs podem possuir ativos fungíveis e não fungíveis.

Aqui, vale mencionar que, apesar do Ethereum ser onde a maior parte da ação está acontecendo atualmente, existem vários padrões NFT emergindo em outras cadeias blockckchain. Como por exemplo o DGoods, criado pela equipe Mithical Games, que está focado em fornecer um padrão cross-chain e que utiliza blockchain EOS.

Desde então, um NFT, se registrado em um blockchain, passou a ser realmente um ativo “único”, que não pode ser falsificado, adulterado ou fraudado.

Além da padronização de atributos básicos dos NFTs como propriedade, transferência e controle de acesso, a tecnologia blockchain permite incorporar aos NFTs padrões adicionais de atributos como especificações de como exigir um NFT, por exemplo.

Mas além da padronização, quais outras vantagens a tecnologia blockchain trouxe aos NFTs?

 

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(Tatiana Revoredo/Divulgação)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os padrões de NFT viabilizaram também a interoperabilidade, de modo que os NFTs podem se mover mais facilmente entre vários ecossistemas. Em um novo projeto, os tokens não fungíveis podem ser visualizados imediatamente em dezenas de diferentes provedores de carteira, negociáveis em vários mercados e, exigidos em vários mundos virtuais. E essa interoperabilidade só foi possível porque os padrões abertos possibilitados pela tecnologia blockchain fornecem uma API clara, consistente, confiável e com permissão para leitura e gravação de dados.

A interoperabilidade, por sua vez, ampliou a negociabilidade dos NTFs, ao possibilitar o livre comércio em mercados abertos. Ou seja, NFTs baseados em blockchains possibilitam aos usuários moverem seus ativos não fungíveis para fora de seus ambientes originais, e tirar proveito de recursos sofisticados de negociação, como leilões, licitações, além da capacidade de transacionar em qualquer moeda, desde stablecoins e moedas digitais específicas de determinado aplicativo, à criptoativos como bitcoin e dash. E essa vantagem da negociabilidade representa, por sua vez, uma transição de uma economia de NFTs inicialmente fechada, para uma economia de mercado livre.

Além disso, a negociabilidade instantânea dos NFTs, possibilitada pelo blockchain, traz maior liquidez aos mercados, que podem atender a uma variedade maior de publico, o que possibilita uma maior exposição dos ativos não fungíveis a um grupo mais amplo de compradores.

A quinta vantagem do uso da tecnologia blockchain em NFTs é a imutabilidade e escassez comprovável. Isto porque, os contratos inteligentes permitem que desenvolvedores coloquem limites rígidos no fornecimento de NFTs e imponham propriedades duradouras, que não podem ser modificadas depois que um token é emitido. Deste modo, pode-se garantir que as propriedades específicas de um NFT não mudem com o tempo, codificando-as no blockchain. E isso é especialmente interessante para o mecado de arte “física”, que depende muito da comprovada escassez de uma peça original.

E o interessante deste novo mundo de NFTs baseado em blockchain é o surgimento de novas tendências e possibilidades em mercados tradicionais.

Se no mercado de obras de arte representadas em NFTs a imutabilidade e escassez é importante, no mercado de obra de arte “digital” o que tem sido considerado importante é a vantagem da programabilidade, sexta vantagem trazida pela tecnologia blockchain aos tokens não fungíveis.

Um exemplo programabilidade pode ser encontrada na Async Art, uma plataforma de negociação e criação de NFTs para o mercado de arte, que permite aos colecionadores interferirem no design original da obra – o que é conhecido como arte programável.

Imagine se o quadro da Monalisa fosse digital e seu proprietário pudesse alterar o sorriso da Monalisa sempre que quisesse?!

 

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Como os NFTs são registrados

 

Há muitas dúvidas para quem é novo no mercado de NFTs quanto a forma como se dá o registro de um NFT.

Quando um NFT de uma obra de arte digital, por exemplo, é transacionado, o comprador recebe um identificador (ID) do registro daquela transação de compra, que o leva para a obra de arte em formato digital.

Esse identificador pode, ou não, estar registrado em blockchain, pois como já dissemos, já existiam NFTs quando o primeiro blockchain surgiu e, nestes casos, era um administrador centralizado como um site ou plataforma que era o responsável por criar e armazenar o identificador do registro da transação de compra e venda, e o token representativo daquele ativo não fungível.

Agora, quando as transações de NFT são registradas em um blockchain, quando a transação é concluída, ela é registrada e adicionado a um bloco, com carimbo de data e hora, tornando-se rastreável na rede blockchain a qualquer momento, no caso de um blockchain público. Além disso, como blockchain são descentralizados, os registros do NFT baseado em blockchain são mais seguros, por ser mais difícil para um cyber criminoso invadir uma rede distribuída.

 

A identidade dos NFTs

 

São os “metadados” que fornecem a descrição de um NFT. São eles que fornecem as informações descritivas para um identificador de um token específico.

Como a plataforma OpenSea identifica, por exemplo, a identidade de um Cryptokittie? Como a plataforma Cryptovoxels identifica a a aparência, o nome e os atributos de uma obra de arte disponibilizada em seu museu virtual?

É ai que entram os metadados. São eles que, no caso do Cryptokitties, informam o nome do gato, a imagem do gato, e informam a descrição e quaisquer outras características adicionais do Cryptokitty na plataforma OpenSea ou no Cryptokitties.co.

No caso de um NFT de um ingresso de evento, os metadados podem incluir a data do evento, e o tipo de ingresso, além de um nome e uma descrição.

Pois bem, cabe aos desenvolvedores a decisão sobre quais metadados representar na rede blockchain (on chain) e quais metadados representar fora da cadeia (off chain). Ou seja, se os metadados serão inseridos diretamente no contrato inteligente que representa os tokens, ou se serão hospedados separadamente (off chain).

Os benefícios de representar metadados on chain são que ele reside permanentemente com o token, persistindo além do ciclo de vida de qualquer aplicativo, bem como pode mudar de acordo com a lógica de negócios da rede.

Mas é bom ressaltar que a maioria do projetos de NFTs armazena dados fora da rede blockchain (off chain) devido às limitações de armazenamento atuais do blockchain Ethereum.

A maneira mais simples de armazenar esses metadados off chain é em um servidor centralizado em algum lugar ou em uma solução de armazenamento em nuvem. E as desvantagens, neste caso, é que o desenvolvedor pode alterar os metadados à vontade; e se o projeto ficar off line, os metadados podem desaparecer de sua fonte original.

Uma solução melhor para o armazenamento off chain (fora do blockchain) é, portanto, o uso de armazenamento descentralizado, via IPFS – InterPlanetary File System, que é um sistema de armazenamento de arquivos distribuído que permite que o conteúdo seja hospedado em computadores espalhados pelo mundo, de forma que o arquivo é replicado em muitos locais diferentes. Ora, isso garante que os metadados seja imutáveis, e persistam ao longo do tempo.

 

Takeaway

 

Estamos vivendo uma mudança de era. Se antes o que tinha valor era físico; hoje, o que tem valor pode ser phygital; e num futuro próximo, exclusivamente digital.

O impacto que a tokenização de ativos terá é bastante óbvio. Mas, a maneira como isto ocorrerá é a pergunta de 1 trilhão de dólares... ou será, um trilhão de bitcoins?

A Christie’s disse que o NFT da obra de arte de US$ 69 milhões de dólares leiloada, que mencionamos no início deste artigo, foi transferida para a carteira digital do comprador.

Você compraria um NFT do álbum de banda Kings Of Leon? Ou quem sabe um NFT da cena de um ataque da seleção brasileira na copa de 70? Ah! Você não gosta de futebol?! Então, quem sabe você compraria o NFT do LeBron James fazendo uma enterrada histórica para o Lakers? Ou você prefere o NFT da propriedade de terras e ativos no Decentraland, mundo virtual em blockchain que arrecadou US $ 25 milhões em um ICO para seu token MANA?

Pense nisto até nosso próximo encontro. Vamos descobrir juntos aqui qual o Future of Money. Mantenha a curiosidade em alta e, até breve!