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Saúde mental requer cuidados diários

O Setembro Amarelo nos lembra que o bem-estar e a qualidade de vida são a base de profissionais e empresas saudáveis

O Setembro Amarelo surgiu justamente para conscientizar as pessoas sobre a importância de cuidarmos da saúde mental (Divulgação/Shutterstock)
O Setembro Amarelo surgiu justamente para conscientizar as pessoas sobre a importância de cuidarmos da saúde mental (Divulgação/Shutterstock)
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Fernando Mantovani — Sua Carreira, Sua Gestão

Publicado em 2 de setembro de 2022 às, 08h30.

O Brasil está situado entre os países que mais consomem medicamentos contra ansiedade e depressão, de acordo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Com a Covid-19, esse cenário se agravou ainda mais, impactando a realidade de todos nós. É comum em rodas de conversa sabermos de alguém que iniciou tratamento psicológico ou psiquiátrico para enfrentar sentimentos negativos trazidos pela pandemia, como medo, solidão, pessimismo, entre outros.

O Setembro Amarelo, marcado por inúmeras campanhas de prevenção ao suicídio, surgiu justamente para conscientizar as pessoas sobre a importância de cuidarmos da saúde mental. Neste ano, o lema da campanha da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), é “A vida é a melhor escolha”. A ideia é que, por maior que seja o sofrimento psíquico, sempre há recursos terapêuticos para lidar com ele e, assim, seguir adiante.

Essa é uma mensagem de extrema relevância para as empresas. Em primeiro lugar porque saúde mental e suicídio são dois assuntos diretamente relacionados e, infelizmente, encarados como tabu. Ocorre que, não falar deles, piora o problema, pois afasta as chances de prevenção e tratamento. Em segundo lugar, passamos boa parte de nossa existência trabalhando, então os cuidados com a saúde devem acontecer também durante o horário comercial. Por fim, precisamos lembrar que o trabalho é uma das principais fontes de estresse de um adulto, por mais gratificante que ele possa ser. Se mal administrada, essa fonte pode tomar grandes proporções e afetar profundamente o bem-estar físico, mental e emocional.

Os números falam por si só. De acordo com um estudo realizado em 2021 pela The School of Life (TSOL), em conjunto com a Robert Half, a ansiedade foi o principal prejuízo da pandemia na saúde mental para 63,51% dos líderes entrevistados, bem como para 64,10% dos liderados. Em uma opção de múltipla escolha da pesquisa, os líderes também mencionaram estresse (47,64%), insônia (27,36%), burnout (19,59%) e depressão (9,80%). Já os liderados, após a ansiedade, apontaram desânimo (51,79%), estresse (46,15%), insônia (16,41%), depressão (10,26%) e burnout (8,72%). Do total, apenas 12,50% dos líderes e 7,69% dos liderados afirmaram não terem percebido abalo na saúde mental durante a pandemia.

Em razão desse quadro, muitos profissionais, em todo o mundo, optaram por mudar de estilo de vida, procurando outro emprego, cidade ou carreira, com o objetivo de ter uma rotina mais equilibrada. Essa virada de chave não deve ser passageira. Ao contrário. A tendência é que a preocupação com a saúde, o bem-estar e qualidade de vida ganhe força continuamente. O que as empresas podem e devem fazer diante dessa realidade? Muita coisa!

Como cuidar da saúde mental dos colaboradores

Para ajudar as equipes a se manterem bem emocionalmente é fundamental estruturar um “pacote” de cuidados variados. Destaco, aqui, medidas que considero efetivas e viáveis para muitas empresas:

1) Empatia – é importante que os gestores estejam sempre atentos ao estado de ânimo do time. Cansaço constante, apatia e faltas acima do esperado são sinais de alerta. Vale ter uma conversa para entender e apoiar o profissional, sem invadir sua privacidade ou fazer cobranças inoportunas.

2) Autocrítica – se há muitos profissionais com dificuldades emocionais, o problema pode ser o ambiente de trabalho. Nesse caso, a solução é rever processos, metas, valores, entre outros aspectos, avaliando se eles são realistas e compatíveis com uma vida saudável.

3) Benefícios – além do plano de saúde, oferecer subsídios psicológicos, psiquiátricos, jurídicos, entre outros, é uma ótima ideia para auxiliar quem vive uma situação de crise. A orientação de um especialista sempre agrega novas ideias e possibilidades.

4) Atividades físicas – exercitar-se é um dos melhores caminhos para manter os pensamentos e sentimentos positivos. Proporcionar descontos em academias ou um espaço para esportes na empresa são bons incentivos nesse sentido.

5) Socialização – conversar, rir, desabafar e interagir com colegas torna o trabalho mais leve e interessante. Já é reconhecido cientificamente o poder das amizades na saúde. Cultivar um ambiente mais informal e com encontros presenciais esporádicos favorece a criação de vínculos entre os colegas.

São muitas as alternativas para contribuir com os cuidados da saúde mental dos colaboradores. O essencial é colocar esse tema no topo da agenda da empresa e investir nele constantemente, não apenas no mês de setembro ou diante de um momento de crise. Uma vida feliz e um ambiente saudável são construídos no dia a dia, a longo prazo, e não com ações pontuais.

Aqui, neste Blog, você encontra outros artigos sobre carreira, gestão e mercado de trabalho. Também é possível ter mais informações sobre os temas na Central do Conhecimento do site da Robert Half. Se você gosta de podcasts, não deixe de acompanhar o Robert Half Talks.

*por Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half para a América do Sul e autor do livro Para quem está na chuva… e não quer se molhar