Exame Logo

As palavras que descrevem a volta ao trabalho presencial

No ano passado, falamos sobre a adaptação ao “novo normal”. Agora, com o avanço da vacinação, pode parecer desnecessário o mesmo processo. Não é bem assim

Alegria, ansiedade, medo, insegurança. Essas eram as quatros opções de resposta na enquete que fiz no meu perfil no LinkedIn sobre como as pessoas se sentiam quando falamos de retornar ao escritório (Foto/Thinkstock)
LB

Leo Branco

Publicado em 7 de setembro de 2021 às 10h18.

Alegria, ansiedade, medo, insegurança. Essas eram as quatros opções de resposta na enquete que fiz no meu perfil no LinkedIn sobre como as pessoas se sentiam quando falamos de retornar ao escritório.

Juntar produtividade e qualidade de vida é possível. Descubra como no novo curso da EXAME Academy

Sei que vários profissionais ainda estão em home office e que muitos, na verdade, nem tiveram a chance de atuar nessa modalidade. Sei também que muitas empresas ainda não definiram os próximos passos quanto à transição de modalidade, do remoto para o presencial. Mas a ideia dessa pesquisa informal não era apenas investigar como as pessoas que retornaram aos escritórios se sentiram, mas como aquelas que, talvez, precisem fazer esse movimento em breve estão diante dessa possibilidade. Afinal, quais sentimentos batem mais forte quando surge a possibilidade da volta para o presencial?

Para 34% dos 2.254 respondentes, alegria e entusiasmo descrevem bem a sensação de sair de casa rumo ao trabalho. Apesar desta ser a opção mais votada, o maior volume se concentrou em sentimentos que demonstram algum grau de desconforto em relação à despedida do modelo 100% remoto. É que 24% disseram sentir medo e receio da retomada do presencial, e outros 24% votaram em insegurança.

O que mais me chamou a atenção, no entanto, foi uma palavra que apareceu com recorrência nos comentários: perda. Desabafos sobre uma possível perda de qualidade de vida, de tempo, de deslocamento, de produtividade, de saúde...

Falar em "perdas" no contexto em que se discute resgatar algo deixado para trás pode soar contraditório. Como retornar para o presencial seria uma "subtração" se era assim que a maioria das pessoas trabalhava antes? Meu palpite é que, diante de tantas perdas que a pandemia representou — e ainda representa —, o home office conseguiu trazer alguns ganhos. E abrir mão disso não é fácil.

Quando falo em "ganhos", é importante lembrar que eles não foram estendidos a toda a população. A maioria, na verdade, não pôde permanecer na segurança do seu lar ao longo do último ano. De maio a novembro de 2020 apenas 11% dos 74 milhões de profissionais que continuaram a trabalhar durante a pandemia estavam na modalidade remota, segundo dados recentes do Ipea. E, deste grupo, ainda há a parcela que não tinha condições mínimas para o home office, como uma conexão de internet de qualidade, estrutura física com mesa e cadeira, um espaço mais tranquilo na casa para se concentrar e por aí vai. A equação de perdas e ganhos, nesses casos, é outra.

Mas para aqueles que puderam experimentar a modalidade (exatos 8,2 milhões de brasileiros, de acordo com o instituto já citado), a frustração em perder essa flexibilidade é forte. Tanto que recrutadores começam a escutar com cada vez mais frequência candidatos perguntando sobre a possibilidade de trabalhar de casa, da praia, do campo, de onde for. Uma dúvida e um pedido pertinente depois de uma longa temporada “testando” o formato e percebendo que, sim, é possível atuar de forma produtiva à distância, com o benefício de estar mais perto da família, evitar o estresse do trânsito, melhorar a alimentação e outros hábitos que impactam a saúde.

No ano passado, falamos muito sobre a necessidade de adaptação ao “novo normal” — aquele termo que ninguém aguenta mais. Foram artigos, reportagens, eventos online, podcasts e todos os formatos possíveis para compartilhar os desafios para tocar uma operação descentralizada e digitalizada. Troca de dicas, benchmarks, erros e acertos eram constantes entre líderes da própria empresa e de outras. Toda uma atenção dedicada a esse aprendizado.

Agora, com o avanço paulatino da vacinação, pode parecer que não há necessidade de passar pelo mesmo processo pois, oras, apenas iremos retomar aquilo que já fazíamos. Só que não é bem assim.

O presencial pode ser uma modalidade “dominada”. Sabemos de cor e salteado como funciona, mas os tempos são outros e, principalmente, as pessoas e suas demandas também mudaram.

Querer voltar para aquele cenário como se ele estivesse em stand-by, como se fosse simplesmente apertar um botão e, pronto, tudo voltaria “ao normal” é não só pura ilusão, como um equívoco.

Não pretendo dizer qual é o melhor formato para a sua empresa porque não existe um único modelo ideal. Organizações têm demandas, logísticas e culturas distintas, que, portanto, exigem estratégias específicas. Porém, todas elas compartilham algo: a necessidade de se transformarem constantemente.

Lá atrás, precisamos parar, ouvir, falar e refletir para, então, mudar. Hoje, a sequência é a mesma, tendo como suporte todo o aprendizado que acumulamos nesse último período de intensa metamorfose. Se percebemos que crenças infundadas não passavam disso, de crenças sem embasamento, por que não reconsiderar o retorno absoluto para os moldes antigos? Se constatamos que é possível fazer não só diferente, bem como melhor, por que não incorporar alguns elementos da gestão à distância na gestão de retomada? Por que não reunir o melhor dos mundos?

Esses são alguns questionamentos que podem ajudar a não cair no engano de querer reviver os velhos tempos, sem transformar absolutamente nada. Apenas entrar no túnel do tempo e recomeçar de onde tínhamos parado? Não funciona assim.

Sei que o passado, muitas vezes, representa o conforto e a segurança de um lugar familiar, onde sabemos o que fazer e como agir. Mas não se engane, o passado, exatamente como ele era, não é um lugar ao qual podemos retornar. O tempo andou, nós também — e que seja para frente.

Como a vida pós-vacina vai mudar a sua vida profissional? Assine a EXAME e entenda .

 

Veja também

Alegria, ansiedade, medo, insegurança. Essas eram as quatros opções de resposta na enquete que fiz no meu perfil no LinkedIn sobre como as pessoas se sentiam quando falamos de retornar ao escritório.

Juntar produtividade e qualidade de vida é possível. Descubra como no novo curso da EXAME Academy

Sei que vários profissionais ainda estão em home office e que muitos, na verdade, nem tiveram a chance de atuar nessa modalidade. Sei também que muitas empresas ainda não definiram os próximos passos quanto à transição de modalidade, do remoto para o presencial. Mas a ideia dessa pesquisa informal não era apenas investigar como as pessoas que retornaram aos escritórios se sentiram, mas como aquelas que, talvez, precisem fazer esse movimento em breve estão diante dessa possibilidade. Afinal, quais sentimentos batem mais forte quando surge a possibilidade da volta para o presencial?

Para 34% dos 2.254 respondentes, alegria e entusiasmo descrevem bem a sensação de sair de casa rumo ao trabalho. Apesar desta ser a opção mais votada, o maior volume se concentrou em sentimentos que demonstram algum grau de desconforto em relação à despedida do modelo 100% remoto. É que 24% disseram sentir medo e receio da retomada do presencial, e outros 24% votaram em insegurança.

O que mais me chamou a atenção, no entanto, foi uma palavra que apareceu com recorrência nos comentários: perda. Desabafos sobre uma possível perda de qualidade de vida, de tempo, de deslocamento, de produtividade, de saúde...

Falar em "perdas" no contexto em que se discute resgatar algo deixado para trás pode soar contraditório. Como retornar para o presencial seria uma "subtração" se era assim que a maioria das pessoas trabalhava antes? Meu palpite é que, diante de tantas perdas que a pandemia representou — e ainda representa —, o home office conseguiu trazer alguns ganhos. E abrir mão disso não é fácil.

Quando falo em "ganhos", é importante lembrar que eles não foram estendidos a toda a população. A maioria, na verdade, não pôde permanecer na segurança do seu lar ao longo do último ano. De maio a novembro de 2020 apenas 11% dos 74 milhões de profissionais que continuaram a trabalhar durante a pandemia estavam na modalidade remota, segundo dados recentes do Ipea. E, deste grupo, ainda há a parcela que não tinha condições mínimas para o home office, como uma conexão de internet de qualidade, estrutura física com mesa e cadeira, um espaço mais tranquilo na casa para se concentrar e por aí vai. A equação de perdas e ganhos, nesses casos, é outra.

Mas para aqueles que puderam experimentar a modalidade (exatos 8,2 milhões de brasileiros, de acordo com o instituto já citado), a frustração em perder essa flexibilidade é forte. Tanto que recrutadores começam a escutar com cada vez mais frequência candidatos perguntando sobre a possibilidade de trabalhar de casa, da praia, do campo, de onde for. Uma dúvida e um pedido pertinente depois de uma longa temporada “testando” o formato e percebendo que, sim, é possível atuar de forma produtiva à distância, com o benefício de estar mais perto da família, evitar o estresse do trânsito, melhorar a alimentação e outros hábitos que impactam a saúde.

No ano passado, falamos muito sobre a necessidade de adaptação ao “novo normal” — aquele termo que ninguém aguenta mais. Foram artigos, reportagens, eventos online, podcasts e todos os formatos possíveis para compartilhar os desafios para tocar uma operação descentralizada e digitalizada. Troca de dicas, benchmarks, erros e acertos eram constantes entre líderes da própria empresa e de outras. Toda uma atenção dedicada a esse aprendizado.

Agora, com o avanço paulatino da vacinação, pode parecer que não há necessidade de passar pelo mesmo processo pois, oras, apenas iremos retomar aquilo que já fazíamos. Só que não é bem assim.

O presencial pode ser uma modalidade “dominada”. Sabemos de cor e salteado como funciona, mas os tempos são outros e, principalmente, as pessoas e suas demandas também mudaram.

Querer voltar para aquele cenário como se ele estivesse em stand-by, como se fosse simplesmente apertar um botão e, pronto, tudo voltaria “ao normal” é não só pura ilusão, como um equívoco.

Não pretendo dizer qual é o melhor formato para a sua empresa porque não existe um único modelo ideal. Organizações têm demandas, logísticas e culturas distintas, que, portanto, exigem estratégias específicas. Porém, todas elas compartilham algo: a necessidade de se transformarem constantemente.

Lá atrás, precisamos parar, ouvir, falar e refletir para, então, mudar. Hoje, a sequência é a mesma, tendo como suporte todo o aprendizado que acumulamos nesse último período de intensa metamorfose. Se percebemos que crenças infundadas não passavam disso, de crenças sem embasamento, por que não reconsiderar o retorno absoluto para os moldes antigos? Se constatamos que é possível fazer não só diferente, bem como melhor, por que não incorporar alguns elementos da gestão à distância na gestão de retomada? Por que não reunir o melhor dos mundos?

Esses são alguns questionamentos que podem ajudar a não cair no engano de querer reviver os velhos tempos, sem transformar absolutamente nada. Apenas entrar no túnel do tempo e recomeçar de onde tínhamos parado? Não funciona assim.

Sei que o passado, muitas vezes, representa o conforto e a segurança de um lugar familiar, onde sabemos o que fazer e como agir. Mas não se engane, o passado, exatamente como ele era, não é um lugar ao qual podemos retornar. O tempo andou, nós também — e que seja para frente.

Como a vida pós-vacina vai mudar a sua vida profissional? Assine a EXAME e entenda .

 

Acompanhe tudo sobre:Dicas de carreirafuturo-do-trabalhoHome office

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se