O poder da imaginação que transforma papelão em fliperama
O que a empreitada de uma criança de 9 anos pode nos ensinar sobre o mercado de trabalho para jovens
Luísa Granato
Publicado em 22 de março de 2022 às 10h38.
Um fliperama todo feito de papelão: esse foi o primeiro "empreendimento" de Caine Monroy. Um menino de apenas 9 anos de idade.
Talvez você não se lembre dessa história, mas ela viralizou na mídia estadunidense alguns anos atrás e me fez pensar em algumas coisas sobre as quais tenho refletido bastante.
Como os eventos dramáticos que estamos vivendo impactam a capacidade de sonhar? Como os acontecimentos dos últimos anos interferem no nosso poder de imaginação? Qual é o impacto disso nas nossas crianças e nos nossos jovens? E, principalmente, será que as empresas podem ajudar a, de alguma forma, "devolver" essa imaginação? Já adianto, aqui, que eu tenho certeza que sim!
E o episódio do fliperama de papelão ilustra bem isso.
Para quem não se lembra ou não foi impactado pelo vídeo sobre a empreitada de Caine, a história é a seguinte: o menino estava de férias e resolveu dar um novo fim para várias caixas de papelão que estavam na loja do seu pai. Com a "matéria-prima" em mãos, ele começou a construir em frente ao estabelecimento do pai o seu próprio fliperama. Tinha brinquedos como aquela máquina com uma garra para pegar bichos de pelúcia, cesta de basquete, jogo de futebol, além de brindes e até um "fun pass" — uma entrada de dois dólares que permitia o usuário brincar 500 vezes.
Caine, como todo bom empreendedor, construiu o seu negócio com muito cuidado, pensou nos mínimos detalhes e se preocupou até com a experiência do cliente — assim como as máquinas de um fliperama "de verdade", as do Caine tinham uma saída por onde ele passava aqueles bilhetes que podem ser trocados por um brinde. Foi muita dedicação! Tanta que, um belo dia, ele chamou a atenção do seu primeiro cliente.
Era um cineasta que tinha ido até a loja para comprar uma peça para seu carro e, ao ver a invenção do menino, acabou levando também o "fun pass". Depois de jogar várias vezes e viver toda a experiência do fliperama do Caine, ele pensou que aquela ideia era boa demais e precisava ser divulgada. Ele virou um promotor — o que toda marca busca.
Em resumo, o que aconteceu foi um grande evento no fliperama, que atraiu milhares de pessoas e até a imprensa. Um verdadeiro case de sucesso, que surgiu, sim, da imaginação de uma criança, mas ganhou destaque ao ser valorizado e incentivado por um adulto. Inclusive, essa história inspirou o surgimento da imagination.org, uma fundação com a missão de fomentar a criatividade e o empreendedorismo nas crianças.
O que quero dizer com tudo isso é que existe um papel das organizações que é o de acreditar nos jovens, apoiar as ideias deles e abrir caminho. O que o cineasta fez foi ver um potencial e usar suas ferramentas e recursos para alavancar aquela ideia.
Muitas vezes, no entanto, o que acontece dentro das organizações é o oposto. Diante da imaginação de um jovem, surgem frases como "não é assim que fazemos aqui" ou "você tem muito o que aprender ainda". Frases que enterram ideias e projetos que poderiam ser um sucesso, como o fliperama do Caine.
Nada do que estou escrevendo aqui é novo, mas entendo que essa reflexão é fundamental no momento em que vivemos, uma realidade desafiadora que se traduz em dados como:
- 27% das pessoas entre 19 e 24 anos não estudam e nem trabalham;
- 40% dos jovens com diploma técnico não trabalham na área de formação;
- Uma taxa de 30% de desemprego entre os/as brasileiros/as de 15 a 24 anos.
Essas informações aparecem no relatório da McKinsey “Visão Brasil 2030”, que, apesar de mostrar um cenário crítico, também aponta um caminho que tem a ver com a história que contei no começo deste artigo. Uma das aspirações para o nosso país proposta no material é "devolver às crianças e jovens o direito de sonhar". O caminho para isso? Acesso à educação de qualidade a todos, uma meta que pode ser incorporada pelas organizações e pode fazer toda a diferença não só na vida dos mais novos, mas em um futuro mais próspero da própria organização.
Investir na educação, desenvolver um olhar sensível na liderança para perceber boas ideias, criar um ambiente que permita que os talentos soltem a imaginação e disponibilizar meios para que eles transformem esse exercício criativo de imaginar em ação. Esses são alguns passos para uma empresa ajudar os nossos jovens talentos a transformar papelão em fliperama — e em tudo aquilo que a imaginação permitir. Por isso, fica a reflexão: você tem liberado ou aprisionado a imaginação e o processo criativo do seu time? Se quisermos construir um novo mundo, teremos que olhar para o simples com mais atenção, mais criatividade e mais imaginação.
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Um fliperama todo feito de papelão: esse foi o primeiro "empreendimento" de Caine Monroy. Um menino de apenas 9 anos de idade.
Talvez você não se lembre dessa história, mas ela viralizou na mídia estadunidense alguns anos atrás e me fez pensar em algumas coisas sobre as quais tenho refletido bastante.
Como os eventos dramáticos que estamos vivendo impactam a capacidade de sonhar? Como os acontecimentos dos últimos anos interferem no nosso poder de imaginação? Qual é o impacto disso nas nossas crianças e nos nossos jovens? E, principalmente, será que as empresas podem ajudar a, de alguma forma, "devolver" essa imaginação? Já adianto, aqui, que eu tenho certeza que sim!
E o episódio do fliperama de papelão ilustra bem isso.
Para quem não se lembra ou não foi impactado pelo vídeo sobre a empreitada de Caine, a história é a seguinte: o menino estava de férias e resolveu dar um novo fim para várias caixas de papelão que estavam na loja do seu pai. Com a "matéria-prima" em mãos, ele começou a construir em frente ao estabelecimento do pai o seu próprio fliperama. Tinha brinquedos como aquela máquina com uma garra para pegar bichos de pelúcia, cesta de basquete, jogo de futebol, além de brindes e até um "fun pass" — uma entrada de dois dólares que permitia o usuário brincar 500 vezes.
Caine, como todo bom empreendedor, construiu o seu negócio com muito cuidado, pensou nos mínimos detalhes e se preocupou até com a experiência do cliente — assim como as máquinas de um fliperama "de verdade", as do Caine tinham uma saída por onde ele passava aqueles bilhetes que podem ser trocados por um brinde. Foi muita dedicação! Tanta que, um belo dia, ele chamou a atenção do seu primeiro cliente.
Era um cineasta que tinha ido até a loja para comprar uma peça para seu carro e, ao ver a invenção do menino, acabou levando também o "fun pass". Depois de jogar várias vezes e viver toda a experiência do fliperama do Caine, ele pensou que aquela ideia era boa demais e precisava ser divulgada. Ele virou um promotor — o que toda marca busca.
Em resumo, o que aconteceu foi um grande evento no fliperama, que atraiu milhares de pessoas e até a imprensa. Um verdadeiro case de sucesso, que surgiu, sim, da imaginação de uma criança, mas ganhou destaque ao ser valorizado e incentivado por um adulto. Inclusive, essa história inspirou o surgimento da imagination.org, uma fundação com a missão de fomentar a criatividade e o empreendedorismo nas crianças.
O que quero dizer com tudo isso é que existe um papel das organizações que é o de acreditar nos jovens, apoiar as ideias deles e abrir caminho. O que o cineasta fez foi ver um potencial e usar suas ferramentas e recursos para alavancar aquela ideia.
Muitas vezes, no entanto, o que acontece dentro das organizações é o oposto. Diante da imaginação de um jovem, surgem frases como "não é assim que fazemos aqui" ou "você tem muito o que aprender ainda". Frases que enterram ideias e projetos que poderiam ser um sucesso, como o fliperama do Caine.
Nada do que estou escrevendo aqui é novo, mas entendo que essa reflexão é fundamental no momento em que vivemos, uma realidade desafiadora que se traduz em dados como:
- 27% das pessoas entre 19 e 24 anos não estudam e nem trabalham;
- 40% dos jovens com diploma técnico não trabalham na área de formação;
- Uma taxa de 30% de desemprego entre os/as brasileiros/as de 15 a 24 anos.
Essas informações aparecem no relatório da McKinsey “Visão Brasil 2030”, que, apesar de mostrar um cenário crítico, também aponta um caminho que tem a ver com a história que contei no começo deste artigo. Uma das aspirações para o nosso país proposta no material é "devolver às crianças e jovens o direito de sonhar". O caminho para isso? Acesso à educação de qualidade a todos, uma meta que pode ser incorporada pelas organizações e pode fazer toda a diferença não só na vida dos mais novos, mas em um futuro mais próspero da própria organização.
Investir na educação, desenvolver um olhar sensível na liderança para perceber boas ideias, criar um ambiente que permita que os talentos soltem a imaginação e disponibilizar meios para que eles transformem esse exercício criativo de imaginar em ação. Esses são alguns passos para uma empresa ajudar os nossos jovens talentos a transformar papelão em fliperama — e em tudo aquilo que a imaginação permitir. Por isso, fica a reflexão: você tem liberado ou aprisionado a imaginação e o processo criativo do seu time? Se quisermos construir um novo mundo, teremos que olhar para o simples com mais atenção, mais criatividade e mais imaginação.
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