Como jovens negros percebem a experiência dentro das empresas
O Google realizou uma pesquisa em parceria com a Cia de Talentos sobre as vivências de estagiários negros no Brasil
Publicado em 22 de novembro de 2021 às, 12h18.
Muito se fala sobre as mudanças nos processos de seleção e de recrutamento para promover a diversidade. Do currículo oculto às metas de contratação relativas aos grupos minorizados socialmente, a lista de sugestões de melhorias é grande e tem sido mais disseminada. Você mesmo já deve conhecer ou ter aplicado alguma dessas práticas!
Tudo isso é muito importante, claro, mas preciso dizer que esta conversa não pode parar por aí.
Na "era" da experiência — neste caso, na do Employee Experience (EX) —, é fundamental pensar também nas adequações necessárias para que todos e todas tenham uma jornada profissional justa, que promova desenvolvimento, que proporcione aprendizado, que ofereça oportunidades e que, acima de tudo, corrija favorecimentos e vieses ao longo do caminho.
Afinal, uma meta corporativa de diversidade só se cumpre quando o/a profissional é contratado/a, se desenvolve e, assim, tem a oportunidade real de crescer dentro daquela ou mesmo de outra organização.
Ou seja, quem acha que é só delegar essa “missão” para o RH e pronto, não entendeu a importância da diversidade, equidade e inclusão nas empresas. Importância que, antes de ser atrelada aos resultados financeiros e ganhos palpáveis, deve ser um compromisso moral e ético. Um compromisso de todos nós!
Comento tudo isso porque, no ano passado, ajudamos a levantar alguns dados que mostravam justamente a necessidade de um olhar mais atento e cuidadoso para a jornada dos jovens negros dentro das organizações.
O Google realizou uma pesquisa em parceria com a Cia de Talentos sobre as vivências de estagiários negros no Brasil e descobriu que:
- Apesar dos programas destinados à contratação de estudantes negros terem ajudado a aumentar a representatividade no mercado, essa população ainda é minoria em cargos de liderança;
- Os estudantes negros desempregados sonham alto e querem alcançar grandes cargos dentro das organizações, mas, mesmo assim, o desejo da maioria desses talentos está fora da empresa: 23% dizem que querem empreender;
- 39% dos estagiários negros entrevistados discordam da afirmativa "meu chefe me dá suporte em questões emocionais relacionadas ao trabalho" e 49% deles dizem que não recebem apoio do RH das organizações;
- 30% não se sentem confiantes para liderar projetos ou tomar decisões dentro do escopo do trabalho.
São dados que mostram que, apesar das empresas terem avançado em algumas questões como a do recrutamento, falta transformar a experiência ao longo da jornada. De forma bem prática, minhas sugestões para que você possa começar a trabalhar nisso são:
- Investir na capacitação da liderança, e do próprio RH, sobre o tema da diversidade, equidade e inclusão, tornando-os agentes transformadores;
- Desenhar planos de desenvolvimento específicos, levando em consideração as diversas realidades do público;
- Oferecer salários e benefícios adequados para o desenvolvimento e crescimento dos jovens profissionais na carreira.
Os avanços finalmente estão em franca aceleração. Por exemplo, no Grupo Cia de Talentos e na startup Bettha.com, pelo segundo ano consecutivo, batemos todos os recordes de contratação de estagiários, trainees e pós-graduados negros para nossos clientes: um aumento de 114% comparado a 2020, passando de 1.711 contratados para 3.670. No período anterior, tivemos um crescimento de 118% nas contratações desse público.
Uma vitória que não veio por acaso, pois essa luta foi iniciada há 30 anos quando começamos uma batalha para a exclusão de pré-requisitos como nome da universidade e exigência de fluência do idioma inglês, que tiravam oportunidades de milhões de brasileiros.
Demorou para essa transformação de mentalidade acontecer, mas é um grande orgulho saber que a persistência valeu a pena e que hoje as pessoas são avaliadas pelos seus potenciais.
Não queremos apenas que profissionais negros — e também mulheres, LGBTQIA+, PCDs etc — cheguem até nós, mas que eles se desenvolvam, cresçam e nos ajudem a mudar de vez a não inclusão desses grupos do mercado de trabalho. Para isso, esses talentos precisam sentir que existe um novo contexto que os impulsiona.
É necessário também uma renovação constante de compromisso, meu e seu, para tornar a diversidade não uma obrigação de trabalho, mas um dever de cidadãos empáticos e preocupados com a construção de um mundo mais justo. Vamos juntos?
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