O mundo de olho na Amazônia
A maior floresta tropical do planeta se insere em um novo contexto: o da COP 30
Publicado em 21 de outubro de 2024 às 16h03.
Por Cinthia Gherardi*
Não é de hoje que a Amazônia atrai olhares do mundo todo, seja por sua inquestionável importância ambiental, seja pelas notícias sobre o seu desmatamento. Esse olhar, marcado por preocupação e ambição, permanece. No entanto, agora, a maior floresta tropical do planeta se insere em um novo contexto: o da COP 30, quando as discussões sobre sua preservação ganham uma dimensão mais crítica, envolvendo o futuro da própria humanidade.
Prova disso está na escolha de Belém do Pará, coração da Amazônia, para sediar a COP 30. Longe de ser apenas uma coincidência geográfica, essa decisão foi uma resposta clara a essa crescente preocupação global. É como se a comunidade internacional reconhecesse, finalmente, que o destino da floresta está intrinsecamente ligado ao destino do planeta.
Entretanto, o que o mundo precisa enxergar com mais clareza é que a Amazônia não se resume apenas à fauna e à flora da economia global regenerativa. Ela é, sobretudo, o lar de uma sociobiodiversidade única, formada por povos tradicionais, culturas ancestrais e saberes que transcendem a preservação do bioma. Esses povos não são apenas testemunhas da devastação, mas guardiões de soluções que podem orientar a transição climática que tanto se busca.
Nas últimas décadas, a Amazônia foi vista sob a ótica do extrativismo predatório, herança de um colonialismo que ainda hoje persiste em muitas políticas e práticas. Do pau-brasil à borracha, o ciclo de exploração não deu trégua, e os impactos ainda são sentidos. Mas essa narrativa precisa ser transformada. A COP 30 deve servir como um ponto de inflexão para mudar esse olhar: não mais a Amazônia como fonte de recursos para ser explorada, mas como protagonista das transformações globais.
Os povos da Amazônia detêm conhecimentos profundos sobre como viver em harmonia com a floresta. Eles entendem que a biodiversidade da região também é social, pois, se forem ouvidos, terão soluções inovadoras que o mundo tanto precisa. Como comunidades originárias, essas populações já as praticam há dezenas de anos. Daí a importância de que organizações da sociedade civil, poderes público e privado, assim como líderes de todos os países, reconheçam o valor do saber ancestral e deem espaço para que esses povos liderem o caminho rumo a um futuro mais sustentável.
Essa atenção mundial pode ser uma oportunidade para a Amazônia ser protagonista dela mesma. Mas, para que isso aconteça, é preciso que o sul global, sobretudo as nações que abrigam ecossistemas tão fundamentais como a Amazônia, tenham sua voz amplificada nas decisões globais. Nesse lugar de fala, o sul global deve acabar de vez com a narrativa da exploração predatória. Nossa bandeira deve valorizar a preservação e o respeito à vida, em todas as suas formas — naturais e humanas.
O mundo está de olho na Amazônia, e isso, por si só, não basta. Chegou o momento de mostrar que os povos que habitam sua floresta têm a capacidade de liderar a mudança que o planeta tanto necessita. É hora de romper com o passado colonialista e adotar um novo modelo, onde a Amazônia e suas gentes não sejam apenas objeto de debates e cifras, mas agentes ativos de uma nova economia, que regenere e impeça a atual caminhada do mundo em direção a um colapso ambiental.
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*Cinthia Gherardi é co-diretora-executiva do Sistema B Brasil.
Por Cinthia Gherardi*
Não é de hoje que a Amazônia atrai olhares do mundo todo, seja por sua inquestionável importância ambiental, seja pelas notícias sobre o seu desmatamento. Esse olhar, marcado por preocupação e ambição, permanece. No entanto, agora, a maior floresta tropical do planeta se insere em um novo contexto: o da COP 30, quando as discussões sobre sua preservação ganham uma dimensão mais crítica, envolvendo o futuro da própria humanidade.
Prova disso está na escolha de Belém do Pará, coração da Amazônia, para sediar a COP 30. Longe de ser apenas uma coincidência geográfica, essa decisão foi uma resposta clara a essa crescente preocupação global. É como se a comunidade internacional reconhecesse, finalmente, que o destino da floresta está intrinsecamente ligado ao destino do planeta.
Entretanto, o que o mundo precisa enxergar com mais clareza é que a Amazônia não se resume apenas à fauna e à flora da economia global regenerativa. Ela é, sobretudo, o lar de uma sociobiodiversidade única, formada por povos tradicionais, culturas ancestrais e saberes que transcendem a preservação do bioma. Esses povos não são apenas testemunhas da devastação, mas guardiões de soluções que podem orientar a transição climática que tanto se busca.
Nas últimas décadas, a Amazônia foi vista sob a ótica do extrativismo predatório, herança de um colonialismo que ainda hoje persiste em muitas políticas e práticas. Do pau-brasil à borracha, o ciclo de exploração não deu trégua, e os impactos ainda são sentidos. Mas essa narrativa precisa ser transformada. A COP 30 deve servir como um ponto de inflexão para mudar esse olhar: não mais a Amazônia como fonte de recursos para ser explorada, mas como protagonista das transformações globais.
Os povos da Amazônia detêm conhecimentos profundos sobre como viver em harmonia com a floresta. Eles entendem que a biodiversidade da região também é social, pois, se forem ouvidos, terão soluções inovadoras que o mundo tanto precisa. Como comunidades originárias, essas populações já as praticam há dezenas de anos. Daí a importância de que organizações da sociedade civil, poderes público e privado, assim como líderes de todos os países, reconheçam o valor do saber ancestral e deem espaço para que esses povos liderem o caminho rumo a um futuro mais sustentável.
Essa atenção mundial pode ser uma oportunidade para a Amazônia ser protagonista dela mesma. Mas, para que isso aconteça, é preciso que o sul global, sobretudo as nações que abrigam ecossistemas tão fundamentais como a Amazônia, tenham sua voz amplificada nas decisões globais. Nesse lugar de fala, o sul global deve acabar de vez com a narrativa da exploração predatória. Nossa bandeira deve valorizar a preservação e o respeito à vida, em todas as suas formas — naturais e humanas.
O mundo está de olho na Amazônia, e isso, por si só, não basta. Chegou o momento de mostrar que os povos que habitam sua floresta têm a capacidade de liderar a mudança que o planeta tanto necessita. É hora de romper com o passado colonialista e adotar um novo modelo, onde a Amazônia e suas gentes não sejam apenas objeto de debates e cifras, mas agentes ativos de uma nova economia, que regenere e impeça a atual caminhada do mundo em direção a um colapso ambiental.
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*Cinthia Gherardi é co-diretora-executiva do Sistema B Brasil.