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O que eu pedi ao Papai Noel para o Brasil

Mandei um WhatsApp para o Papai Noel dizendo que queria pedir um presente de Natal. Para minha surpresa o bom velhinho respondeu rapidamente. Deve ser porque a minha nota anda alta no seu sistema de pontuação ou porque ele me confundiu com uma criança. – Vai meu filho. Sou todo olhos e ouvidos. – Queria […]

NATAL: qual a chance de um pedido para o Brasil embarcar na quarta revolução industrial ser atendido? / Pawel Kopczynski/ Reuters
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Da Redação

Publicado em 22 de dezembro de 2016 às 10h21.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h45.

Mandei um WhatsApp para o Papai Noel dizendo que queria pedir um presente de Natal. Para minha surpresa o bom velhinho respondeu rapidamente. Deve ser porque a minha nota anda alta no seu sistema de pontuação ou porque ele me confundiu com uma criança.

– Vai meu filho. Sou todo olhos e ouvidos.

– Queria fazer um pedido para o Brasil.

Senti que pintou uma surpresa. Apareceu aquele “digitando” na tela do meu smartphone por um bom tempo. O santo ancião deve ter feito e refeito o texto algumas vezes. Até que, depois de uma espera angustiante para os tempos digitais, reapareceu.

– Ah já sei. Você quer que essa “pinguela” do atual governo resista até 2018 ou que o presidente renuncie logo e que tenhamos eleições gerais.

– Não. Acho que o senhor já está cansado desses pedidos. Gostaria de pedir que o país tenha mais empregos.

De novo apareceu o “digitando” do outro lado. Desta vez por mais tempo ainda. Estava já concluindo que o mestre me havia tomado por petulante e tinha desistido do dialogo quando apareceu na tela:

– Levei um tempo refletindo sobre a adequação da sua solicitação. Não tive como não concordar que é um pedido elegível. Nada mais coerente com o espirito natalino que desejar que as pessoas estejam empregadas. Mas, para ter empregos é necessário que o país volte a crescer.

– Justo. Também não tenho muitas esperanças que voltemos a crescer em 2017. Estava pensando em algo mais de longo prazo. Acontecimentos que criassem empregos mais permanentes.

– Já fiz algo nesse sentido. Por minha inspiração o presidente está considerando flexibilizar a jornada de trabalho. Temo, porém, que será insuficiente para despertar o “espirito animal” dos empresários.

– Concordo. Os empresários estão desconfiados e inseguros. Tem também o projeto de lei da terceirização que, depois de anos de discussão, foi aprovado na Câmara e está dormindo no Senado. Este ajudaria um pouco mais se fosse aprovado.

– Sei não. Com os políticos complicados como estão tenho dúvida que vão querer mexer nesse vespeiro. A pressão dos sindicatos alegando que liberar terceirização para atividades fins significa a precarização do mercado de trabalho é enorme.

– Pois é. Esse argumento é absurdo. Nos tempos atuais de Economia Colaborativa e Compartilhada a diferenciação entre atividades fins e meios desaparece completamente. O Uber é um serviço de transportes sem carros. O AirBnb é um serviço de hospedagem sem hotéis. E, por ai vai.

– Sei disso. Estou bem antenado com essas mudanças. Aprendi até a falar “disrupção”. Esse palavrão que só fica bem em inglês. Posso tentar, mas não lhe deixo muitas esperanças.

Comecei a sentir que o velhinho estava me achando um estorvo. Com tantos pleitos muito mais fáceis de serem atendidos estava lá eu com questões filosóficas. Decidi ser mais ousado ainda.

– São Nicolau (usei o seu nome de batismo para ver se o sensibilizava), eu entendo estas dificuldades de curto prazo, mas dentro do espírito natalino, minha petição é mais ambiciosa. Com a Quarta Revolução Industrial, os empregos tradicionais vão se reduzir drasticamente e outros novos vão ser criados. Queria que o Brasil tivesse uma parcela significativa destas novas ocupações que serão típicas da nova sociedade hiper digital.

Silêncio do outro lado. Nem o “digitando” surgiu na tela. Agora conclui que fui longe demais. Larguei o celular e fui fazer outra coisa. Qual não foi minha surpresa quando 15 minutos depois ouvi o plim plim de uma nova mensagem. Era ele.

– Como você quer ter ocupações sofisticadas se no seu país os jovens entre 15 e 16 anos não sabem fazer cálculos básicos, têm quase nenhuma noção de interpretação de textos e não conseguem resolver questões cientificas simples, como mostrou o ultimo Programa de Avaliação de Estudantes (PISA)?

Comecei a escrever que entendia que esse fato era exatamente parte do problema que precisava ser resolvido, quando uma nova mensagem chegou.

– Além disso, nos rankings de tecnologia e inovação o país sempre aparece em posições desfavoráveis, mesmo quando comparado com os BRICS e alguns países latino-americanos como o Chile. Você não está pedindo um presente. Está querendo um milagre.

Apressei-me a responder antes que fosse desconectado.

– Mas, caro Santa Claus (apelei para seu nome em inglês), é na ruptura da tecnologia, na mudança de uma fase para outra que é possível saltar etapas. É um novo campeonato que começa. Nós já demonstramos que somos inovadores em muitas áreas como na agroindústria, fabricando aeronaves e motores. Nós temos um sistema financeiro moderno e um ecossistema de startups e empresas inovadoras em plena ebulição. Muitos dos países que estão na nossa frente nos rankings fizeram a transformação em poucas décadas. Com a aceleração das mudanças pode-se fazer em menos tempo ainda.

Parei, respirei e esperei.

– Tá bom. Mas esta sua encomenda só pode ser resolvida em outra esfera. Está fora das minhas atribuições.

No fundo já esperava por isso. Um santo encarregado de levar presente para crianças não era capaz de resolver problemas complexos de adultos e países. Tinha que escalar na hierarquia divina. Esperei ansiosamente até que vieram as letrinhas.

– Consultei o conselho de administração do reino. A conclusão unânime foi de que a questão é justa, essencial e irremediável. É tão importante que só pode ser resolvida pelos próprios habitantes deste seu país abençoado por Deus e bonito por natureza. Só vocês humanos podem construir o futuro que desejam e demonstrar que efetivamente o merecem. Nós por aqui só podemos conceber cenários perfeitos demais para caber na incompletude humana.

Pensei em argumentar, insistir ou implorar. Não houve tempo suficiente para articular algo logicamente razoável.

– Tenho que fazer a fila andar. Está gigantesca. Para não dizer que não colaborei vou reforçar a pinguela para que tenham um pouco mais de tempo no próximo ano.

Agradeci respeitosamente.

– Deixe-me ver qual é o próximo pedido. É uma fantasia da Mulher-Maravilha. Ufa! Boas festas e um 2017 mágico para todos os brasileiros. Vocês vão precisar.

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Mandei um WhatsApp para o Papai Noel dizendo que queria pedir um presente de Natal. Para minha surpresa o bom velhinho respondeu rapidamente. Deve ser porque a minha nota anda alta no seu sistema de pontuação ou porque ele me confundiu com uma criança.

– Vai meu filho. Sou todo olhos e ouvidos.

– Queria fazer um pedido para o Brasil.

Senti que pintou uma surpresa. Apareceu aquele “digitando” na tela do meu smartphone por um bom tempo. O santo ancião deve ter feito e refeito o texto algumas vezes. Até que, depois de uma espera angustiante para os tempos digitais, reapareceu.

– Ah já sei. Você quer que essa “pinguela” do atual governo resista até 2018 ou que o presidente renuncie logo e que tenhamos eleições gerais.

– Não. Acho que o senhor já está cansado desses pedidos. Gostaria de pedir que o país tenha mais empregos.

De novo apareceu o “digitando” do outro lado. Desta vez por mais tempo ainda. Estava já concluindo que o mestre me havia tomado por petulante e tinha desistido do dialogo quando apareceu na tela:

– Levei um tempo refletindo sobre a adequação da sua solicitação. Não tive como não concordar que é um pedido elegível. Nada mais coerente com o espirito natalino que desejar que as pessoas estejam empregadas. Mas, para ter empregos é necessário que o país volte a crescer.

– Justo. Também não tenho muitas esperanças que voltemos a crescer em 2017. Estava pensando em algo mais de longo prazo. Acontecimentos que criassem empregos mais permanentes.

– Já fiz algo nesse sentido. Por minha inspiração o presidente está considerando flexibilizar a jornada de trabalho. Temo, porém, que será insuficiente para despertar o “espirito animal” dos empresários.

– Concordo. Os empresários estão desconfiados e inseguros. Tem também o projeto de lei da terceirização que, depois de anos de discussão, foi aprovado na Câmara e está dormindo no Senado. Este ajudaria um pouco mais se fosse aprovado.

– Sei não. Com os políticos complicados como estão tenho dúvida que vão querer mexer nesse vespeiro. A pressão dos sindicatos alegando que liberar terceirização para atividades fins significa a precarização do mercado de trabalho é enorme.

– Pois é. Esse argumento é absurdo. Nos tempos atuais de Economia Colaborativa e Compartilhada a diferenciação entre atividades fins e meios desaparece completamente. O Uber é um serviço de transportes sem carros. O AirBnb é um serviço de hospedagem sem hotéis. E, por ai vai.

– Sei disso. Estou bem antenado com essas mudanças. Aprendi até a falar “disrupção”. Esse palavrão que só fica bem em inglês. Posso tentar, mas não lhe deixo muitas esperanças.

Comecei a sentir que o velhinho estava me achando um estorvo. Com tantos pleitos muito mais fáceis de serem atendidos estava lá eu com questões filosóficas. Decidi ser mais ousado ainda.

– São Nicolau (usei o seu nome de batismo para ver se o sensibilizava), eu entendo estas dificuldades de curto prazo, mas dentro do espírito natalino, minha petição é mais ambiciosa. Com a Quarta Revolução Industrial, os empregos tradicionais vão se reduzir drasticamente e outros novos vão ser criados. Queria que o Brasil tivesse uma parcela significativa destas novas ocupações que serão típicas da nova sociedade hiper digital.

Silêncio do outro lado. Nem o “digitando” surgiu na tela. Agora conclui que fui longe demais. Larguei o celular e fui fazer outra coisa. Qual não foi minha surpresa quando 15 minutos depois ouvi o plim plim de uma nova mensagem. Era ele.

– Como você quer ter ocupações sofisticadas se no seu país os jovens entre 15 e 16 anos não sabem fazer cálculos básicos, têm quase nenhuma noção de interpretação de textos e não conseguem resolver questões cientificas simples, como mostrou o ultimo Programa de Avaliação de Estudantes (PISA)?

Comecei a escrever que entendia que esse fato era exatamente parte do problema que precisava ser resolvido, quando uma nova mensagem chegou.

– Além disso, nos rankings de tecnologia e inovação o país sempre aparece em posições desfavoráveis, mesmo quando comparado com os BRICS e alguns países latino-americanos como o Chile. Você não está pedindo um presente. Está querendo um milagre.

Apressei-me a responder antes que fosse desconectado.

– Mas, caro Santa Claus (apelei para seu nome em inglês), é na ruptura da tecnologia, na mudança de uma fase para outra que é possível saltar etapas. É um novo campeonato que começa. Nós já demonstramos que somos inovadores em muitas áreas como na agroindústria, fabricando aeronaves e motores. Nós temos um sistema financeiro moderno e um ecossistema de startups e empresas inovadoras em plena ebulição. Muitos dos países que estão na nossa frente nos rankings fizeram a transformação em poucas décadas. Com a aceleração das mudanças pode-se fazer em menos tempo ainda.

Parei, respirei e esperei.

– Tá bom. Mas esta sua encomenda só pode ser resolvida em outra esfera. Está fora das minhas atribuições.

No fundo já esperava por isso. Um santo encarregado de levar presente para crianças não era capaz de resolver problemas complexos de adultos e países. Tinha que escalar na hierarquia divina. Esperei ansiosamente até que vieram as letrinhas.

– Consultei o conselho de administração do reino. A conclusão unânime foi de que a questão é justa, essencial e irremediável. É tão importante que só pode ser resolvida pelos próprios habitantes deste seu país abençoado por Deus e bonito por natureza. Só vocês humanos podem construir o futuro que desejam e demonstrar que efetivamente o merecem. Nós por aqui só podemos conceber cenários perfeitos demais para caber na incompletude humana.

Pensei em argumentar, insistir ou implorar. Não houve tempo suficiente para articular algo logicamente razoável.

– Tenho que fazer a fila andar. Está gigantesca. Para não dizer que não colaborei vou reforçar a pinguela para que tenham um pouco mais de tempo no próximo ano.

Agradeci respeitosamente.

– Deixe-me ver qual é o próximo pedido. É uma fantasia da Mulher-Maravilha. Ufa! Boas festas e um 2017 mágico para todos os brasileiros. Vocês vão precisar.

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