Um 2017 promissor
Se 2016 está acabando sem deixar saudades para muitos, 2017 cresce em expectativa sobre o que pode se tornar. Há muitos elementos que podem levar o próximo ano para novo mar de turbulência. No cenário doméstico, a paralisia política que pode abater o Congresso e o Executivo com as delações da Odebrecht. No exterior, Trump […]
Da Redação
Publicado em 28 de dezembro de 2016 às 08h32.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h42.
Se 2016 está acabando sem deixar saudades para muitos, 2017 cresce em expectativa sobre o que pode se tornar. Há muitos elementos que podem levar o próximo ano para novo mar de turbulência. No cenário doméstico, a paralisia política que pode abater o Congresso e o Executivo com as delações da Odebrecht. No exterior, Trump tomará posse logo no começo do ano e certamente seu governo não será nada normal. Tumultos na área política, com as divergências crescentes em relação a China, e também com o mesmo país na área econômica, garantem um ano de embates no cenário externo que não se via desde a década de 80. Não é a reedição da Guerra Fria, mas a disputa de poder entre as duas potências econômicas tem potencial para causar rebarbas nos diversos países do mundo. Os emergentes talvez sofram menos do que os desenvolvidos, pois, especialmente no caso da América Latina, não somos alvos diretos das diatribes políticas e econômicas dos dois países. Na verdade, podemos ainda nos beneficiar indiretamente de uma crise entre os dois países por conseguirmos aumentar exportações agrícolas para os chineses.
Mas tirando esses dois elementos de elevada incerteza, daria talvez para dizer, mais ainda no cenário doméstico, que não se vislumbra um 2017 pior do que 2016. Há consenso de que, por mais que o processo seja lento, a recuperação está de fato ocorrendo. Podemos ver o ano que vem menos como continuidade da crise e mais como saída da crise.
Nesse sentido, há que se analisar a onda de pessimismo que tomou conta de diversos analistas nesse final de ano. Os dados ruins dos últimos meses fizeram com que muitos começassem a se preocupar com 2017 e em muitos casos vemos pessoas considerarem que é possível nova recessão no ano que se inicia.
Quem começou a revisar os números para baixo se preocupa em parte com o tal carregamento estatístico. Esse termo nada mais é do que a indicação de crescimento possível no ano seguinte caso o PIB ficasse no mesmo nível do final do ano anterior. Ou seja, seria crescimento zero na comparação trimestre contra trimestre anterior em todos os trimestres do ano que vem. Com os dados esperados neste final de ano, com queda de 0,6% no quarto trimestre, esse carregamento estaria na casa de -0,9%. Começaríamos o ano “devendo” 0,9% de crescimento e quem vê nova recessão acredita não ser possível recuperar o terreno perdido.
Um ponto importante nessa análise é identificar se 2017 será ano pior ou melhor que este ano, pois o carregamento é apenas uma indicação e dele não se pode ver uma sinalização completa, mas apenas que ano que vem dificilmente será um ano de forte crescimento, algo que todos os analistas concordam.
Essa diferenciação entre pior e melhor é importante, pois vale também a diferença entre o PIB que o ano termina e a sinalização do carregamento estatístico do ano anterior. Com nossa expectativa de 1% de PIB ano que vem, dizemos com isso que essa diferença é de cerca de 2%. Isso é muito diferente do que se viu nos anos anteriores? Aqui podemos dividir a análise em dois períodos. Anos que tiveram surpresas negativas piores do que no ano anterior o PIB caiu ainda mais do que o carregamento sinalizava. Mas anos em que as surpresas foram mais positivas com percepção melhor do que o ano anterior, a diferença média entre o realizado e o carregamento foi de 2,6%. Ou seja, haveria até espaço para crescimento maior do que 1%, considerando a evolução média dos últimos anos que se mostraram melhores do que os anos anteriores. Dadas as grandes incertezas que ainda pairam, 1% me parece um número razoável e alguns elementos ajudam a entender esse número.
Primeiro, o agronegócio deverá ter ótimo resultado em 2017. Nossa expectativa é que a recuperação de renda agrícola ano que vem seja comparável com os anos de 2008 e 2011, quando o PIB da agropecuária cresceu em média 5,7%. Esperamos por enquanto na nossa conta de 1% de crescimento de PIB um aumento do agro de 2,4%. Se essa média positiva se realizar podemos ter um incremento de 0,2 ponto percentual em relação ao que esperamos agora. Com a super safra em andamento e câmbio depreciado, a chance de resultados positivos e acima do esperado é bem grande.
Segundo, o setor automobilístico dá mostras que pode ser o ano do fim das fortes quedas que se viram nos últimos anos. A média de vendas diárias este ano foi muito baixa, cerca de 7,6 mil automóveis e comerciais leves. Se a média se mantiver em torno de 8 mil por dia, como aparentemente os últimos meses tem sinalizado ser possível, isso daria um crescimento de 4% de vendas ano que vem. Muito pouco para um setor que caiu tanto, mas ainda assim um crescimento. Esse não é o nosso número esperado (estamos com 2,4% de aumento de vendas), mas a chance aqui também de resultados que surpreendam existe.
Esses dois setores em conjunto representam mais de 30% do PIB brasileiro. Suas recuperações não são triviais também na avalição de seus impactos indiretos no restante da economia. Basta pensar nas cidades que dependem do agronegócio para movimentar comércio e serviços.
Terceiro, as boas governanças no setor de energia, representadas aqui pela Petrobrás e Eletrobrás, começam a surtir efeito em termos de atração de novos investimentos no setor. O setor de petróleo especialmente deve se movimentar pelas novas diretrizes pró-petróleo que vêm dos Estados Unidos. São setores que se juntam à infraestrutura nas boas práticas na economia. Não tem sido raro ouvirmos elogios de empresários à nova condução do processo de concessões. Esses são elementos com impacto mais de longo prazo, mas que pelo menos ajudam a estancar as perdas seguidas dos últimos anos.
Por fim, os juros. Dado que a política fiscal estará fixada pela regra do teto, haveria espaço de queda de juros que pudesse ajudar a reativar a economia. A distinção que temos que fazer aqui é sobre o papel dos juros para o crescimento de curto e longo prazo. Para este último, juros não é o elemento central, e a economia pode crescer muito com nível de taxa real mais baixa ou mais alta, a depender do restante das condições da economia. Por exemplo, se as condições gerais da economia são ruins uma queda da taxa real de juros em nada ajuda, como foi o caso em 2013 quando a presidente Dilma insistiu na queda de juros para 7,25%, quando claramente a inflação não permitia isso. A queda de juros real em nada ajudou na recuperação da economia.
Mas estamos falando de queda de juros agora sob condições diferentes. Este Banco Central não diminuirá a taxa com prejuízos à inflação e isso é essencial na percepção sobre os possíveis efeitos da taxa. A queda pode ser percebida como mais sustentável e ter efeitos reais na economia, diferentemente de uma queda artificial que se sabe terá efeito de curta duração. Essa é a grande diferença agora. Há um trabalho sendo feito para que no longo prazo as taxas reais e nominais de juros sejam menores, pois se buscará uma meta de inflação também mais baixa. Toda essa percepção de um ajuste mais de longo prazo ajuda na consolidação de efeitos positivos da queda de juros. Mas, de novo, são efeitos de curto prazo, mas não advém daí sustentabilidade de crescimento. Fosse esse o caso os países desenvolvidos com taxas reais de juros negativas estariam crescendo, o que não é o caso. Assim, a queda de juros nos parece que pode ajudar positivamente no ciclo de curto prazo, sem prejudicar a inflação e na visão de que faz parte de um processo de longo prazo.
Com tudo isso em mente, dá para ser mais otimista com 2017. Não será ano de grande crescimento, mas o fundo do poço parece que terá nos deixado. A ver o encaminhamento político interno e externo para essa consolidação.
Se 2016 está acabando sem deixar saudades para muitos, 2017 cresce em expectativa sobre o que pode se tornar. Há muitos elementos que podem levar o próximo ano para novo mar de turbulência. No cenário doméstico, a paralisia política que pode abater o Congresso e o Executivo com as delações da Odebrecht. No exterior, Trump tomará posse logo no começo do ano e certamente seu governo não será nada normal. Tumultos na área política, com as divergências crescentes em relação a China, e também com o mesmo país na área econômica, garantem um ano de embates no cenário externo que não se via desde a década de 80. Não é a reedição da Guerra Fria, mas a disputa de poder entre as duas potências econômicas tem potencial para causar rebarbas nos diversos países do mundo. Os emergentes talvez sofram menos do que os desenvolvidos, pois, especialmente no caso da América Latina, não somos alvos diretos das diatribes políticas e econômicas dos dois países. Na verdade, podemos ainda nos beneficiar indiretamente de uma crise entre os dois países por conseguirmos aumentar exportações agrícolas para os chineses.
Mas tirando esses dois elementos de elevada incerteza, daria talvez para dizer, mais ainda no cenário doméstico, que não se vislumbra um 2017 pior do que 2016. Há consenso de que, por mais que o processo seja lento, a recuperação está de fato ocorrendo. Podemos ver o ano que vem menos como continuidade da crise e mais como saída da crise.
Nesse sentido, há que se analisar a onda de pessimismo que tomou conta de diversos analistas nesse final de ano. Os dados ruins dos últimos meses fizeram com que muitos começassem a se preocupar com 2017 e em muitos casos vemos pessoas considerarem que é possível nova recessão no ano que se inicia.
Quem começou a revisar os números para baixo se preocupa em parte com o tal carregamento estatístico. Esse termo nada mais é do que a indicação de crescimento possível no ano seguinte caso o PIB ficasse no mesmo nível do final do ano anterior. Ou seja, seria crescimento zero na comparação trimestre contra trimestre anterior em todos os trimestres do ano que vem. Com os dados esperados neste final de ano, com queda de 0,6% no quarto trimestre, esse carregamento estaria na casa de -0,9%. Começaríamos o ano “devendo” 0,9% de crescimento e quem vê nova recessão acredita não ser possível recuperar o terreno perdido.
Um ponto importante nessa análise é identificar se 2017 será ano pior ou melhor que este ano, pois o carregamento é apenas uma indicação e dele não se pode ver uma sinalização completa, mas apenas que ano que vem dificilmente será um ano de forte crescimento, algo que todos os analistas concordam.
Essa diferenciação entre pior e melhor é importante, pois vale também a diferença entre o PIB que o ano termina e a sinalização do carregamento estatístico do ano anterior. Com nossa expectativa de 1% de PIB ano que vem, dizemos com isso que essa diferença é de cerca de 2%. Isso é muito diferente do que se viu nos anos anteriores? Aqui podemos dividir a análise em dois períodos. Anos que tiveram surpresas negativas piores do que no ano anterior o PIB caiu ainda mais do que o carregamento sinalizava. Mas anos em que as surpresas foram mais positivas com percepção melhor do que o ano anterior, a diferença média entre o realizado e o carregamento foi de 2,6%. Ou seja, haveria até espaço para crescimento maior do que 1%, considerando a evolução média dos últimos anos que se mostraram melhores do que os anos anteriores. Dadas as grandes incertezas que ainda pairam, 1% me parece um número razoável e alguns elementos ajudam a entender esse número.
Primeiro, o agronegócio deverá ter ótimo resultado em 2017. Nossa expectativa é que a recuperação de renda agrícola ano que vem seja comparável com os anos de 2008 e 2011, quando o PIB da agropecuária cresceu em média 5,7%. Esperamos por enquanto na nossa conta de 1% de crescimento de PIB um aumento do agro de 2,4%. Se essa média positiva se realizar podemos ter um incremento de 0,2 ponto percentual em relação ao que esperamos agora. Com a super safra em andamento e câmbio depreciado, a chance de resultados positivos e acima do esperado é bem grande.
Segundo, o setor automobilístico dá mostras que pode ser o ano do fim das fortes quedas que se viram nos últimos anos. A média de vendas diárias este ano foi muito baixa, cerca de 7,6 mil automóveis e comerciais leves. Se a média se mantiver em torno de 8 mil por dia, como aparentemente os últimos meses tem sinalizado ser possível, isso daria um crescimento de 4% de vendas ano que vem. Muito pouco para um setor que caiu tanto, mas ainda assim um crescimento. Esse não é o nosso número esperado (estamos com 2,4% de aumento de vendas), mas a chance aqui também de resultados que surpreendam existe.
Esses dois setores em conjunto representam mais de 30% do PIB brasileiro. Suas recuperações não são triviais também na avalição de seus impactos indiretos no restante da economia. Basta pensar nas cidades que dependem do agronegócio para movimentar comércio e serviços.
Terceiro, as boas governanças no setor de energia, representadas aqui pela Petrobrás e Eletrobrás, começam a surtir efeito em termos de atração de novos investimentos no setor. O setor de petróleo especialmente deve se movimentar pelas novas diretrizes pró-petróleo que vêm dos Estados Unidos. São setores que se juntam à infraestrutura nas boas práticas na economia. Não tem sido raro ouvirmos elogios de empresários à nova condução do processo de concessões. Esses são elementos com impacto mais de longo prazo, mas que pelo menos ajudam a estancar as perdas seguidas dos últimos anos.
Por fim, os juros. Dado que a política fiscal estará fixada pela regra do teto, haveria espaço de queda de juros que pudesse ajudar a reativar a economia. A distinção que temos que fazer aqui é sobre o papel dos juros para o crescimento de curto e longo prazo. Para este último, juros não é o elemento central, e a economia pode crescer muito com nível de taxa real mais baixa ou mais alta, a depender do restante das condições da economia. Por exemplo, se as condições gerais da economia são ruins uma queda da taxa real de juros em nada ajuda, como foi o caso em 2013 quando a presidente Dilma insistiu na queda de juros para 7,25%, quando claramente a inflação não permitia isso. A queda de juros real em nada ajudou na recuperação da economia.
Mas estamos falando de queda de juros agora sob condições diferentes. Este Banco Central não diminuirá a taxa com prejuízos à inflação e isso é essencial na percepção sobre os possíveis efeitos da taxa. A queda pode ser percebida como mais sustentável e ter efeitos reais na economia, diferentemente de uma queda artificial que se sabe terá efeito de curta duração. Essa é a grande diferença agora. Há um trabalho sendo feito para que no longo prazo as taxas reais e nominais de juros sejam menores, pois se buscará uma meta de inflação também mais baixa. Toda essa percepção de um ajuste mais de longo prazo ajuda na consolidação de efeitos positivos da queda de juros. Mas, de novo, são efeitos de curto prazo, mas não advém daí sustentabilidade de crescimento. Fosse esse o caso os países desenvolvidos com taxas reais de juros negativas estariam crescendo, o que não é o caso. Assim, a queda de juros nos parece que pode ajudar positivamente no ciclo de curto prazo, sem prejudicar a inflação e na visão de que faz parte de um processo de longo prazo.
Com tudo isso em mente, dá para ser mais otimista com 2017. Não será ano de grande crescimento, mas o fundo do poço parece que terá nos deixado. A ver o encaminhamento político interno e externo para essa consolidação.