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Lula se parece cada vez mais com Trump

Nosso Trump não é Luciano Huck, nem João Dória. O que importa é o pensamento equivocado sobre muitas coisas

LULA: os desafios fiscais de hoje são muito maiores do que eram em 2002 / Cris Faga/NurPhoto / Getty Images
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Da Redação

Publicado em 18 de janeiro de 2018 às 12h54.

O Brasil é um paradoxo ambulante. Teremos 2018 exuberante na economia ao mesmo tempo que em 2019 podemos ir para o cadafalso. Duas economias francamente diferentes entre si a depender de quem ganhar a eleição. Com alguém reformista, seguimos com crescimento maior do que este ano e controle geral da economia. Se um populista ganhar, o contrário oposto. Onde Lula se encontra?

Em que pese a animação de algumas pessoas com uma nova Carta ao Povo Brasileiro, não se pode esquecer o que a eleição de Lula poderá significar para o país, caso lhe seja permitido pela Justiça. Dado que cabeça de juiz é uma incógnita, não dá para descartar completamente que Lula possa ser candidato.

O mais relevante a observar é com quem ele vai governar. O Lula de 2002 tinha uma eficiente equipe política, pelo menos naquele momento ainda não envolta com questões legais, como Palocci e José Dirceu, e uma equipe econômica bastante liberal, a começar do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, passando pelo Secretário de Política Econômica, Marcos Lisboa. Havia toda uma expectativa positiva sobre um governo de esquerda e apoio inclusive para medidas impopulares como a reforma da previdência de 2003, que passou apenas porque era agenda da oposição e pelo esforço da equipe em passá-la. Vale lembrar aqui que a regulamentação da lei acabou ocorrendo apenas em 2013.

Os desafios fiscais hoje são muito maiores porque envolvem duas camisas de força que a equipe de Lula já deu sinais de não se sentir confortável. A regra do teto seria desfeita e o BNDES voltaria a ter a sistemática anterior de funcionamento. Os principais economistas do partido já sinalizaram esse caminho, com o agravante de que não teriam força política para implementar a reforma da previdência. O lobby tradicional que sempre foi contra a reforma invariavelmente ficaria em cima do partido para evitar que a reforma andasse. Sem falar que a oposição não aprovaria a mesma de bom grado para diminuir a força política do partido. Já vimos isso em 2015.

Nesse estado de desmonte do regime fiscal, como os mercados se comportariam? A primeira reação seria uma derrocada dos preços de ativos em geral. A taxa de câmbio seria a primeira a sentir, com forte depreciação impactando a inflação e jogando os juros para cima. A economia em 2019 fatalmente entraria em recessão. O perigo aqui é que depois de três anos de recessão e estarmos apenas saindo dela faria com que diversas empresas que ainda estão com dificuldades passassem por uma crise mais profunda. Ali, a saída da presidente Dilma deu fôlego para as empresas conseguirem renegocias suas dívidas. O que dizer de um presidente muito mais capaz de se manter no poder durante seus quatro anos de mandato?

A possibilidade de voltar à recessão em 2019 fará com que o perfil fiscal do país piore sobremaneira porque a arrecadação será novamente abalada, e com tentativas do governo Lula de fazer o ajuste da velha forma, ou seja, aumentando impostos, o que fará com que se agrave a recessão em curso.

Como imaginar que Lula e seu governo incorreriam nos mesmos erros do passado? A ideia de sempre da esquerda é que as políticas não foram adequadamente implementadas ou não tiveram tempo para maturar. Esquece-se que durante 13 anos de poder houve tempo suficiente para maturar as piores práticas possíveis de política econômica, mas isso obviamente nunca entra no discurso da velha esquerda.

Seria fácil de ver também o desmonte das mudanças micro que começaram a ocorrer na área de energia, como na Petrobrás e na programação de venda da Eletrobrás, que será um processo longo e dependeria de um governo empenhado nisso. Facilmente veríamos a volta das discussões de conteúdo local mínimo e protecionismo geral, com um fim do acordo de comércio em andamento com a União Europeia. Nesse sentido, o candidato que mais se parece com Trump é o próprio Lula, pois ambos possuem ideias erráticas na economia, se colocam como líderes messiânicos, são protecionistas e nacionalistas. A diferença é que Trump tenta desmontar uma sociedade institucionalmente muito mais sólida, enquanto Lula poderá ter um país institucionalmente muito mais fraco nas mãos, com riscos econômicos muito mais profundos. O que Trump demora para ter efeitos negativos na economia, Lula teria já no primeiro ano.

Assim, nosso Trump não é Luciano Huck, nem João Dória. A origem televisiva aqui é quase anedótica. O que importa é o pensamento equivocado sobre muitas coisas. E nisso Trump e Lula tem muitos pontos em comum.

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O Brasil é um paradoxo ambulante. Teremos 2018 exuberante na economia ao mesmo tempo que em 2019 podemos ir para o cadafalso. Duas economias francamente diferentes entre si a depender de quem ganhar a eleição. Com alguém reformista, seguimos com crescimento maior do que este ano e controle geral da economia. Se um populista ganhar, o contrário oposto. Onde Lula se encontra?

Em que pese a animação de algumas pessoas com uma nova Carta ao Povo Brasileiro, não se pode esquecer o que a eleição de Lula poderá significar para o país, caso lhe seja permitido pela Justiça. Dado que cabeça de juiz é uma incógnita, não dá para descartar completamente que Lula possa ser candidato.

O mais relevante a observar é com quem ele vai governar. O Lula de 2002 tinha uma eficiente equipe política, pelo menos naquele momento ainda não envolta com questões legais, como Palocci e José Dirceu, e uma equipe econômica bastante liberal, a começar do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, passando pelo Secretário de Política Econômica, Marcos Lisboa. Havia toda uma expectativa positiva sobre um governo de esquerda e apoio inclusive para medidas impopulares como a reforma da previdência de 2003, que passou apenas porque era agenda da oposição e pelo esforço da equipe em passá-la. Vale lembrar aqui que a regulamentação da lei acabou ocorrendo apenas em 2013.

Os desafios fiscais hoje são muito maiores porque envolvem duas camisas de força que a equipe de Lula já deu sinais de não se sentir confortável. A regra do teto seria desfeita e o BNDES voltaria a ter a sistemática anterior de funcionamento. Os principais economistas do partido já sinalizaram esse caminho, com o agravante de que não teriam força política para implementar a reforma da previdência. O lobby tradicional que sempre foi contra a reforma invariavelmente ficaria em cima do partido para evitar que a reforma andasse. Sem falar que a oposição não aprovaria a mesma de bom grado para diminuir a força política do partido. Já vimos isso em 2015.

Nesse estado de desmonte do regime fiscal, como os mercados se comportariam? A primeira reação seria uma derrocada dos preços de ativos em geral. A taxa de câmbio seria a primeira a sentir, com forte depreciação impactando a inflação e jogando os juros para cima. A economia em 2019 fatalmente entraria em recessão. O perigo aqui é que depois de três anos de recessão e estarmos apenas saindo dela faria com que diversas empresas que ainda estão com dificuldades passassem por uma crise mais profunda. Ali, a saída da presidente Dilma deu fôlego para as empresas conseguirem renegocias suas dívidas. O que dizer de um presidente muito mais capaz de se manter no poder durante seus quatro anos de mandato?

A possibilidade de voltar à recessão em 2019 fará com que o perfil fiscal do país piore sobremaneira porque a arrecadação será novamente abalada, e com tentativas do governo Lula de fazer o ajuste da velha forma, ou seja, aumentando impostos, o que fará com que se agrave a recessão em curso.

Como imaginar que Lula e seu governo incorreriam nos mesmos erros do passado? A ideia de sempre da esquerda é que as políticas não foram adequadamente implementadas ou não tiveram tempo para maturar. Esquece-se que durante 13 anos de poder houve tempo suficiente para maturar as piores práticas possíveis de política econômica, mas isso obviamente nunca entra no discurso da velha esquerda.

Seria fácil de ver também o desmonte das mudanças micro que começaram a ocorrer na área de energia, como na Petrobrás e na programação de venda da Eletrobrás, que será um processo longo e dependeria de um governo empenhado nisso. Facilmente veríamos a volta das discussões de conteúdo local mínimo e protecionismo geral, com um fim do acordo de comércio em andamento com a União Europeia. Nesse sentido, o candidato que mais se parece com Trump é o próprio Lula, pois ambos possuem ideias erráticas na economia, se colocam como líderes messiânicos, são protecionistas e nacionalistas. A diferença é que Trump tenta desmontar uma sociedade institucionalmente muito mais sólida, enquanto Lula poderá ter um país institucionalmente muito mais fraco nas mãos, com riscos econômicos muito mais profundos. O que Trump demora para ter efeitos negativos na economia, Lula teria já no primeiro ano.

Assim, nosso Trump não é Luciano Huck, nem João Dória. A origem televisiva aqui é quase anedótica. O que importa é o pensamento equivocado sobre muitas coisas. E nisso Trump e Lula tem muitos pontos em comum.

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