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Governo Temer: 80% de chance de dar certo

Como esperado, o provável governo Temer mal começou e já sofre ataques de todos os lados. Pesquisas mostram que, de fato, tal governo não teria muito apoio popular. O país parece ter entrado numa fase em que ninguém terá apoio fácil, algo que ficou claro depois das manifestações de 2013. As demandas sociais da classe […]

COMEMORAÇÃO DO IMPEACHMENT: se Temer fizer as reformas à mão, já teremos o que comemorar / Nacho Doce/ Reuters
DR

Da Redação

Publicado em 26 de abril de 2016 às 13h18.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h30.

Como esperado, o provável governo Temer mal começou e já sofre ataques de todos os lados. Pesquisas mostram que, de fato, tal governo não teria muito apoio popular. O país parece ter entrado numa fase em que ninguém terá apoio fácil, algo que ficou claro depois das manifestações de 2013. As demandas sociais da classe média não parecem caber na capacidade de Brasília oferecer alguma resposta.

Mas a mudança política que houve certamente não conseguirá levar a trajetórias radicalmente diferentes na questão social, em que pese os “temeristas” estarem montando um programa social com base nas ideias de Ricardo Paes de Barros, o que será um grande avanço em relação ao que se faz hoje.

O ponto relevante a ter em mente é o que se evitou alcançar com a continuidade do governo Dilma. A estimativa de queda de PIB para 2017 era de 2,5% caso não houvesse alteração no Executivo. O ano de 2018 provavelmente seria de estagnação, com perspectiva de mudança na economia apenas em 2019 com o novo governo. Com a mudança, entretanto, a expectativa é de elevação de 0,6% no ano que vem, com viés de alta.

Essa diferença não é pouca coisa. O acumulado de queda no PIB que será evitado até 2018 com a saída da presidente é de cerca de 6%, ou seja, vamos deixar de perder 6% do PIB apenas com a troca de comando. E essa diferença pode ser ainda maior se o governo Temer conseguir imprimir um ritmo razoável nos primeiros meses de gestão. Dado o cenário catastrófico que se montou nos últimos cinco anos, não é difícil imaginar tal cenário positivo.

Como todo ajuste, não deve trazer resultados na atividade e no emprego imediatamente. A crise de confiança que se gerou não é diferente da que houve com o Collor, quando sua saída destravou o crescimento quase imediatamente. Se naquele momento a hiperinflação era o desafio, agora é o ajuste fiscal. No caso da hiper, ela nublava completamente o horizonte de longo prazo, mas era como se fosse algo possível de lidar, tanto que o crescimento do PIB em 1993 foi de 4,7%, depois de ter caído 0,5% em 1992.

Agora o desafio fiscal é muito maior, pois seu ajuste tende a ser recessivo num primeiro momento. Afinal, a estimativa é de déficit primário de 2% para este ano, enquanto em 1992 o país terminou com superávit primário de cerca de 2,2% do PIB. Apesar disso, o que se pede minimamente é o encaminhamento do ajuste fiscal.

Todos sabem que não há solução mágica e que um déficit de 100 bilhões de reais não se reverte rapidamente. Mas, se houver confiança de que em 2017 será possível entregar um resultado de 0% do PIB, já indica uma grande evolução, especialmente porque o atual governo demonstrou não saber o que fazer com a política fiscal ao apresentar um déficit esperado de 60 bilhões de reais para 2017. Permanece neste governo a velha e errada tese de usar a política fiscal para estimular o crescimento. A reversão desse erro já conseguiria imprimir uma volta à normalidade que não é trivial.

Mas, até os resultados começarem a aparecer, serão tempos difíceis. Os próximos meses ainda serão de mercado de trabalho piorando, atividade em queda e recuperações judiciais ainda avançando. Não teria como ser diferente, dado que muitas empresas estão com dificuldades graves neste exato momento. Contudo, esse novo cenário que se avizinha permite que os bancos consigam negociar com seus clientes e as empresas também tenham possibilidade de repactuar dívidas com seus fornecedores. O horizonte de discussão mudou. Para a empresa não serão anos seguidos de queda, mas possíveis e críveis anos de recuperação. Isso faz toda a diferença para quem tem uma dívida a renegociar.

A ideia de um governo de transição relativamente curto, de dois anos e meio, que conseguisse arrumar minimamente a bagunça que se fez ao longo dos últimos anos pode ser suficiente para destravar muitas expectativas negativas que se formaram na economia. Resquícios negativos desse período ainda permanecerão, infelizmente. Primeiro, o ajuste demandará tempo não apenas para ser feito, mas para mudar a visão dos investidores externos. A visão de que o país ainda pode ter um governo que faça tal tipo de ingerência na economia trará desconfiança sobre a capacidade do governo não apenas de reagir, mas também de enfrentar alguma outra liderança com ideias tortas na economia. Levará tempo, por exemplo, para recuperar o investment grade perdido.

Para dar certo, assim, será necessário evitar o desastre que estava montado. Sem milagres nem grandes reformas, pode-se dizer que há 80% de chance de o governo Temer dar certo. Esperar muito mais dele é esquecer todos os erros difíceis de consertar que foram feitos.

sergiovale

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Como esperado, o provável governo Temer mal começou e já sofre ataques de todos os lados. Pesquisas mostram que, de fato, tal governo não teria muito apoio popular. O país parece ter entrado numa fase em que ninguém terá apoio fácil, algo que ficou claro depois das manifestações de 2013. As demandas sociais da classe média não parecem caber na capacidade de Brasília oferecer alguma resposta.

Mas a mudança política que houve certamente não conseguirá levar a trajetórias radicalmente diferentes na questão social, em que pese os “temeristas” estarem montando um programa social com base nas ideias de Ricardo Paes de Barros, o que será um grande avanço em relação ao que se faz hoje.

O ponto relevante a ter em mente é o que se evitou alcançar com a continuidade do governo Dilma. A estimativa de queda de PIB para 2017 era de 2,5% caso não houvesse alteração no Executivo. O ano de 2018 provavelmente seria de estagnação, com perspectiva de mudança na economia apenas em 2019 com o novo governo. Com a mudança, entretanto, a expectativa é de elevação de 0,6% no ano que vem, com viés de alta.

Essa diferença não é pouca coisa. O acumulado de queda no PIB que será evitado até 2018 com a saída da presidente é de cerca de 6%, ou seja, vamos deixar de perder 6% do PIB apenas com a troca de comando. E essa diferença pode ser ainda maior se o governo Temer conseguir imprimir um ritmo razoável nos primeiros meses de gestão. Dado o cenário catastrófico que se montou nos últimos cinco anos, não é difícil imaginar tal cenário positivo.

Como todo ajuste, não deve trazer resultados na atividade e no emprego imediatamente. A crise de confiança que se gerou não é diferente da que houve com o Collor, quando sua saída destravou o crescimento quase imediatamente. Se naquele momento a hiperinflação era o desafio, agora é o ajuste fiscal. No caso da hiper, ela nublava completamente o horizonte de longo prazo, mas era como se fosse algo possível de lidar, tanto que o crescimento do PIB em 1993 foi de 4,7%, depois de ter caído 0,5% em 1992.

Agora o desafio fiscal é muito maior, pois seu ajuste tende a ser recessivo num primeiro momento. Afinal, a estimativa é de déficit primário de 2% para este ano, enquanto em 1992 o país terminou com superávit primário de cerca de 2,2% do PIB. Apesar disso, o que se pede minimamente é o encaminhamento do ajuste fiscal.

Todos sabem que não há solução mágica e que um déficit de 100 bilhões de reais não se reverte rapidamente. Mas, se houver confiança de que em 2017 será possível entregar um resultado de 0% do PIB, já indica uma grande evolução, especialmente porque o atual governo demonstrou não saber o que fazer com a política fiscal ao apresentar um déficit esperado de 60 bilhões de reais para 2017. Permanece neste governo a velha e errada tese de usar a política fiscal para estimular o crescimento. A reversão desse erro já conseguiria imprimir uma volta à normalidade que não é trivial.

Mas, até os resultados começarem a aparecer, serão tempos difíceis. Os próximos meses ainda serão de mercado de trabalho piorando, atividade em queda e recuperações judiciais ainda avançando. Não teria como ser diferente, dado que muitas empresas estão com dificuldades graves neste exato momento. Contudo, esse novo cenário que se avizinha permite que os bancos consigam negociar com seus clientes e as empresas também tenham possibilidade de repactuar dívidas com seus fornecedores. O horizonte de discussão mudou. Para a empresa não serão anos seguidos de queda, mas possíveis e críveis anos de recuperação. Isso faz toda a diferença para quem tem uma dívida a renegociar.

A ideia de um governo de transição relativamente curto, de dois anos e meio, que conseguisse arrumar minimamente a bagunça que se fez ao longo dos últimos anos pode ser suficiente para destravar muitas expectativas negativas que se formaram na economia. Resquícios negativos desse período ainda permanecerão, infelizmente. Primeiro, o ajuste demandará tempo não apenas para ser feito, mas para mudar a visão dos investidores externos. A visão de que o país ainda pode ter um governo que faça tal tipo de ingerência na economia trará desconfiança sobre a capacidade do governo não apenas de reagir, mas também de enfrentar alguma outra liderança com ideias tortas na economia. Levará tempo, por exemplo, para recuperar o investment grade perdido.

Para dar certo, assim, será necessário evitar o desastre que estava montado. Sem milagres nem grandes reformas, pode-se dizer que há 80% de chance de o governo Temer dar certo. Esperar muito mais dele é esquecer todos os erros difíceis de consertar que foram feitos.

sergiovale

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