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Em busca de uma meta de inflação de 3%

Depois de tantos anos de desacerto, a política monetária parece ter entrado nos eixos. Desde 2006, com o início do desajuste fiscal, a inflação começou a dar sinais de que não continuaria cedendo como no passado. Foi naquele ano também que o Conselho Monetário Nacional tomou a decisão equivocada de manter a meta em 4,5%. […]

HENRIQUE MEIRELLES: a PEC do Teto proposta pelo governo tem alguns furos importantes, o que põe em xeque a capacidade fiscal do Brasil / Andressa Anholete / Getty Images
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Da Redação

Publicado em 26 de julho de 2016 às 11h51.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h39.

Depois de tantos anos de desacerto, a política monetária parece ter entrado nos eixos. Desde 2006, com o início do desajuste fiscal, a inflação começou a dar sinais de que não continuaria cedendo como no passado. Foi naquele ano também que o Conselho Monetário Nacional tomou a decisão equivocada de manter a meta em 4,5%. Começava ali a esdrúxula visão de que um pouco de inflação é bom para o crescimento.

Aqui vale um adendo. Há uma discussão no exterior sobre se a meta de inflação nesse momento não deveria ser maior do que os implícitos 2% que o Fed e outros bancos centrais perseguem. Considera-se que usar uma meta de 4% ao invés de 2% poderia ajudar os países a saírem da crise de crescimento pós-2008. Seria um espaço adicional para usar, por exemplo, mais quantitative easing ou manter a taxa de juros próximo de zero por mais tempo. Tal medida poderia se justificar considerando-se que recuperações de crises financeiras costumam ser mais em U do que em V, ou seja, levam mais tempo para voltar a crescer do que recessões simples. Por isso haveria espaço para medidas mais ousadas de políticas fiscal e monetária.

O caso brasileiro não se enquadra nesse caso, e não haveria como justificar uma meta tão elevada. Não tivemos crise financeira profunda e, pelo contrário, a origem da crise se deu pela política e pelo descontrole fiscal e monetário, que levou ao aumento da dívida e da inflação. Assim, nosso caminho é o contrário dos países desenvolvidos que teriam espaço para mais afrouxamento.

A política fiscal já foi discutida várias vezes aqui e, em que pese as dificuldades recentes com o déficit primário ainda elevado, está no caminho certo. A política monetária conseguiu, mais rapidamente, sinalizar retorno à normalidade, até porque os instrumentos e os agentes envolvidos na discussão são em bem menor número. Depende essencialmente de uma diretoria empenhada em controlar a inflação e um presidente que apoie essas decisões, o exato oposto do que se tinha antes.

Com as boas escolhas da diretoria e o suporte do presidente, metade do caminho já estava feito. O resto o BC tem mostrado com a vontade de trazer logo a inflação para a meta, de preferência já em 2017. O objetivo é acabar logo com as inconstâncias recentes de um governo que mal conseguia entregar a inflação no teto da meta. Entregar a inflação em 4,5% abre espaço para a verdadeira discussão que é baixar a própria meta de inflação, mais do que necessária depois de tantos anos de meta estacionada em patamar tão elevado. Qual número seria melhor? Não tem muita justificativa teórica para isso, mas pensar em 3%, número semelhante a diversos outros países com meta de inflação, poderia ser um objetivo alcançável. Meta de inflação mais baixa significa menos volatilidade da própria inflação e da taxa de juros. Com meta menor a necessidade de uma taxa real de juros maior também diminui. Uma das razões para uma taxa real de juros tão elevada, entre os motivos tradicionais de descontrole fiscal e excesso de crédito direcionado mais barato, é que a própria inflação em ambiente indexado é elevada. Quanto mais indexada, mais difícil de quebrar a inércia e maior é a necessidade de juros reais para trazer a inflação para baixo. Com uma meta menor, esse problema, em tese, poderia ser minimizado.

Meta mais baixa também será importante para as próprias empresas conseguirem ter mais previsibilidade em suas operações, com maior capacidade de planejamento de longo prazo. Com inflação elevada, qualquer planejamento de dez anos tem grande chance de ficar longe do objetivo desejado. Inflação baixa minimiza esse tipo de risco.

Os benefícios de uma inflação baixa são tantos que chega a ser triste lembrar que perdemos dez anos nessa caminhada por heterodoxias inexplicáveis.

As dores de curto prazo para se chegar a esse nobre objetivo de longo prazo não são pequenas e envolvem uma taxa de juros mais elevada do que se esperava e uma taxa de câmbio com clara tendência de apreciação. Talvez a boa notícia que se possa dar é que esse conjunto ruim de notícias para as empresas nos pega em sentido contrário na economia, ou seja, estamos saindo de uma recessão profunda, que pode ser um contrapeso importante a esses dois resultados de um BC mais ortodoxo. É diferente do caso argentino, por exemplo, em que há a necessidade de um ajuste recessivo para conter uma inflação de 30% e descontroles ainda maiores nos preços administrados naquele país. Eles ainda têm uma recessão pela frente, enquanto temos o caminho contrário.

Nada disso justifica deixar o BC sozinho no controle inflacionário. Será essencial para esse cenário que a política fiscal siga firme e que os sinais recentes de piora no quadro fiscal de curto prazo sejam apenas ruídos.

sergiovale

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Depois de tantos anos de desacerto, a política monetária parece ter entrado nos eixos. Desde 2006, com o início do desajuste fiscal, a inflação começou a dar sinais de que não continuaria cedendo como no passado. Foi naquele ano também que o Conselho Monetário Nacional tomou a decisão equivocada de manter a meta em 4,5%. Começava ali a esdrúxula visão de que um pouco de inflação é bom para o crescimento.

Aqui vale um adendo. Há uma discussão no exterior sobre se a meta de inflação nesse momento não deveria ser maior do que os implícitos 2% que o Fed e outros bancos centrais perseguem. Considera-se que usar uma meta de 4% ao invés de 2% poderia ajudar os países a saírem da crise de crescimento pós-2008. Seria um espaço adicional para usar, por exemplo, mais quantitative easing ou manter a taxa de juros próximo de zero por mais tempo. Tal medida poderia se justificar considerando-se que recuperações de crises financeiras costumam ser mais em U do que em V, ou seja, levam mais tempo para voltar a crescer do que recessões simples. Por isso haveria espaço para medidas mais ousadas de políticas fiscal e monetária.

O caso brasileiro não se enquadra nesse caso, e não haveria como justificar uma meta tão elevada. Não tivemos crise financeira profunda e, pelo contrário, a origem da crise se deu pela política e pelo descontrole fiscal e monetário, que levou ao aumento da dívida e da inflação. Assim, nosso caminho é o contrário dos países desenvolvidos que teriam espaço para mais afrouxamento.

A política fiscal já foi discutida várias vezes aqui e, em que pese as dificuldades recentes com o déficit primário ainda elevado, está no caminho certo. A política monetária conseguiu, mais rapidamente, sinalizar retorno à normalidade, até porque os instrumentos e os agentes envolvidos na discussão são em bem menor número. Depende essencialmente de uma diretoria empenhada em controlar a inflação e um presidente que apoie essas decisões, o exato oposto do que se tinha antes.

Com as boas escolhas da diretoria e o suporte do presidente, metade do caminho já estava feito. O resto o BC tem mostrado com a vontade de trazer logo a inflação para a meta, de preferência já em 2017. O objetivo é acabar logo com as inconstâncias recentes de um governo que mal conseguia entregar a inflação no teto da meta. Entregar a inflação em 4,5% abre espaço para a verdadeira discussão que é baixar a própria meta de inflação, mais do que necessária depois de tantos anos de meta estacionada em patamar tão elevado. Qual número seria melhor? Não tem muita justificativa teórica para isso, mas pensar em 3%, número semelhante a diversos outros países com meta de inflação, poderia ser um objetivo alcançável. Meta de inflação mais baixa significa menos volatilidade da própria inflação e da taxa de juros. Com meta menor a necessidade de uma taxa real de juros maior também diminui. Uma das razões para uma taxa real de juros tão elevada, entre os motivos tradicionais de descontrole fiscal e excesso de crédito direcionado mais barato, é que a própria inflação em ambiente indexado é elevada. Quanto mais indexada, mais difícil de quebrar a inércia e maior é a necessidade de juros reais para trazer a inflação para baixo. Com uma meta menor, esse problema, em tese, poderia ser minimizado.

Meta mais baixa também será importante para as próprias empresas conseguirem ter mais previsibilidade em suas operações, com maior capacidade de planejamento de longo prazo. Com inflação elevada, qualquer planejamento de dez anos tem grande chance de ficar longe do objetivo desejado. Inflação baixa minimiza esse tipo de risco.

Os benefícios de uma inflação baixa são tantos que chega a ser triste lembrar que perdemos dez anos nessa caminhada por heterodoxias inexplicáveis.

As dores de curto prazo para se chegar a esse nobre objetivo de longo prazo não são pequenas e envolvem uma taxa de juros mais elevada do que se esperava e uma taxa de câmbio com clara tendência de apreciação. Talvez a boa notícia que se possa dar é que esse conjunto ruim de notícias para as empresas nos pega em sentido contrário na economia, ou seja, estamos saindo de uma recessão profunda, que pode ser um contrapeso importante a esses dois resultados de um BC mais ortodoxo. É diferente do caso argentino, por exemplo, em que há a necessidade de um ajuste recessivo para conter uma inflação de 30% e descontroles ainda maiores nos preços administrados naquele país. Eles ainda têm uma recessão pela frente, enquanto temos o caminho contrário.

Nada disso justifica deixar o BC sozinho no controle inflacionário. Será essencial para esse cenário que a política fiscal siga firme e que os sinais recentes de piora no quadro fiscal de curto prazo sejam apenas ruídos.

sergiovale

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