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Considerações sobre a conjuntura econômica

Há um certo alvoroço na imprensa com os resultados ruins de atividade que os últimos dois meses apresentaram. Agosto e setembro tiveram dados fracos em praticamente todos os indicadores, colocando em dúvida a recuperação da economia. Mas valem algumas considerações para se evitar decretar problemas na retomada. Primeiro, não conheço nenhum analista que trabalhava com […]

DR

Da Redação

Publicado em 25 de outubro de 2016 às 19h11.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h00.

Há um certo alvoroço na imprensa com os resultados ruins de atividade que os últimos dois meses apresentaram. Agosto e setembro tiveram dados fracos em praticamente todos os indicadores, colocando em dúvida a recuperação da economia. Mas valem algumas considerações para se evitar decretar problemas na retomada.

Primeiro, não conheço nenhum analista que trabalhava com recuperação relevante da economia já neste semestre. Aqui na MB sempre consideramos um terceiro trimestre de queda de PIB tanto na comparação com o ano passado quanto com o trimestre anterior. O que os dados ruins de agosto e setembro trouxeram é uma piora na magnitude dessa queda no trimestre, mas não mudança de tendência. Basicamente, a parada de produção na indústria automobilística em agosto e a greve histórica dos bancários em setembro trouxeram impactos não esperados, mas isolados, nos dados de atividade. É normal, especialmente nos dados de produção industrial, o impacto negativo de um segmento específico por conta de alguma parada de fábrica, por exemplo. Inúmeras vezes no passado o dado de indústria foi prejudicado por que a Petrobrás fazia paralisação para manutenção de alguma plataforma em operação. Esse tipo de situação não é recorrente e não muda o cenário de recuperação em curso. Pelo contrário, dado o efeito rebote de uma queda inesperada no terceiro trimestre, pode jogar o quarto trimestre para números mais positivos ainda.

Segundo, depois de uma recessão histórica, não se poderia esperar uma recuperação vigorosa tão rapidamente. O segundo semestre ainda paga o preço dos ajustes que estão sendo feitos e que ainda prejudicam a economia. Com quase três anos de recessão o efeito arrasto para muitas empresas ainda significa levar à recuperação judicial e falência.

Terceiro, a saída da recessão está necessária e acertadamente sendo feita com ajustes fortes na economia, especialmente na área fiscal e monetária. Esses ajustes implicam em crescimento baixo enquanto ocorrem os ajustes, mas com consequências positivas no longo prazo. Os juros especialmente têm um forte impacto cíclico na economia. A queda da Selic apenas a partir de outubro e a depender da magnitude do ajuste terá efeito positivo, mas ainda não tão relevante, apenas em 2017. No caso fiscal, gradativamente a economia se organizará em torno de um crescimento menos dependente do governo e mais do setor privado com a expansão do gasto público restrita à inflação do ano anterior. São elementos que trazem pressão de curto prazo, mas extremamente benéficas no longo prazo.

Quarto, a mudança política efetiva no país se deu no último dia de agosto, mês em que a turbulência política estava em alta com as incertezas em relação à própria saída da presidente. Não era incomum ouvir perguntas sobre a real possibilidade de a presidente perder o mandato. Mais ainda, haviam dúvidas sobre a capacidade do governo Temer implementar quaisquer medidas. Havia a impressão equivocada de que o ritmo até aquele momento estava aquém do desejado.

Junto à questão política, há a operação Lava Jato e afins que coloca suspense sobre a capacidade de o governo manter a trajetória de medidas na economia. Mas nesse caso parece haver certa concordância em Brasília que as questões econômicas são incontornáveis e merecem reformas independentemente da situação jurídica das lideranças do Executivo. A tendência é que as reformas sigam andando e, talvez, o efeito Eduardo Cunha possa acelerar o processo de aprovação das reformas justamente por receio de não haver tempo político para se aprovar tudo até o fim de 2017.

Não parece razoável, assim, acreditar que há mudança relevante na trajetória recente da economia brasileira. Os percalços recentes são apenas temporários e localizados e mais do que tudo relativamente esperados e prováveis dado o longo período recessivo pelo qual passamos.

SERGIO VALE

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Há um certo alvoroço na imprensa com os resultados ruins de atividade que os últimos dois meses apresentaram. Agosto e setembro tiveram dados fracos em praticamente todos os indicadores, colocando em dúvida a recuperação da economia. Mas valem algumas considerações para se evitar decretar problemas na retomada.

Primeiro, não conheço nenhum analista que trabalhava com recuperação relevante da economia já neste semestre. Aqui na MB sempre consideramos um terceiro trimestre de queda de PIB tanto na comparação com o ano passado quanto com o trimestre anterior. O que os dados ruins de agosto e setembro trouxeram é uma piora na magnitude dessa queda no trimestre, mas não mudança de tendência. Basicamente, a parada de produção na indústria automobilística em agosto e a greve histórica dos bancários em setembro trouxeram impactos não esperados, mas isolados, nos dados de atividade. É normal, especialmente nos dados de produção industrial, o impacto negativo de um segmento específico por conta de alguma parada de fábrica, por exemplo. Inúmeras vezes no passado o dado de indústria foi prejudicado por que a Petrobrás fazia paralisação para manutenção de alguma plataforma em operação. Esse tipo de situação não é recorrente e não muda o cenário de recuperação em curso. Pelo contrário, dado o efeito rebote de uma queda inesperada no terceiro trimestre, pode jogar o quarto trimestre para números mais positivos ainda.

Segundo, depois de uma recessão histórica, não se poderia esperar uma recuperação vigorosa tão rapidamente. O segundo semestre ainda paga o preço dos ajustes que estão sendo feitos e que ainda prejudicam a economia. Com quase três anos de recessão o efeito arrasto para muitas empresas ainda significa levar à recuperação judicial e falência.

Terceiro, a saída da recessão está necessária e acertadamente sendo feita com ajustes fortes na economia, especialmente na área fiscal e monetária. Esses ajustes implicam em crescimento baixo enquanto ocorrem os ajustes, mas com consequências positivas no longo prazo. Os juros especialmente têm um forte impacto cíclico na economia. A queda da Selic apenas a partir de outubro e a depender da magnitude do ajuste terá efeito positivo, mas ainda não tão relevante, apenas em 2017. No caso fiscal, gradativamente a economia se organizará em torno de um crescimento menos dependente do governo e mais do setor privado com a expansão do gasto público restrita à inflação do ano anterior. São elementos que trazem pressão de curto prazo, mas extremamente benéficas no longo prazo.

Quarto, a mudança política efetiva no país se deu no último dia de agosto, mês em que a turbulência política estava em alta com as incertezas em relação à própria saída da presidente. Não era incomum ouvir perguntas sobre a real possibilidade de a presidente perder o mandato. Mais ainda, haviam dúvidas sobre a capacidade do governo Temer implementar quaisquer medidas. Havia a impressão equivocada de que o ritmo até aquele momento estava aquém do desejado.

Junto à questão política, há a operação Lava Jato e afins que coloca suspense sobre a capacidade de o governo manter a trajetória de medidas na economia. Mas nesse caso parece haver certa concordância em Brasília que as questões econômicas são incontornáveis e merecem reformas independentemente da situação jurídica das lideranças do Executivo. A tendência é que as reformas sigam andando e, talvez, o efeito Eduardo Cunha possa acelerar o processo de aprovação das reformas justamente por receio de não haver tempo político para se aprovar tudo até o fim de 2017.

Não parece razoável, assim, acreditar que há mudança relevante na trajetória recente da economia brasileira. Os percalços recentes são apenas temporários e localizados e mais do que tudo relativamente esperados e prováveis dado o longo período recessivo pelo qual passamos.

SERGIO VALE
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