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A chegada de uma liderança mínima

Em um sistema político superfragmentado como o brasileiro não há espaço para lideranças muito fracas. Coalizões de 20 ou mais partidos pedem um presidente minimamente conciliador para abarcar vontades e interesses geralmente muito dispersos. FHC sabia fazer isso. Lula não soube fazer isso, tentou fazer a contragosto depois do mensalão, mas o DNA centralizador do […]

DISCUSSÃO NA CÂMARA: assim como no seriado, por aqui, a relação entre os grupos de poder é sempre familiar ou pessoal / Antonio Augusto/ Câmara dos Deputados
DR

Da Redação

Publicado em 19 de abril de 2016 às 12h18.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h37.

Em um sistema político superfragmentado como o brasileiro não há espaço para lideranças muito fracas. Coalizões de 20 ou mais partidos pedem um presidente minimamente conciliador para abarcar vontades e interesses geralmente muito dispersos. FHC sabia fazer isso. Lula não soube fazer isso, tentou fazer a contragosto depois do mensalão, mas o DNA centralizador do PT acabou isolando o partido do resto do Congresso. Mas sua liderança individual e carisma compensavam isso. Entretanto, ao juntar uma presidente com dificuldades de coordenação política, como a Dilma, com a sanha isolacionista do petismo, exacerbada com a saída de Lula, a catástrofe estava montada. E assim chegamos aonde estamos.

Reconduzir esse estado de caos político à normalidade não será simples, e talvez não seja o foco do novo governo que se forma. Mesmo assim, Temer pode englobar um quê de FHC nesse processo que pode levar a uma fase de transição eventualmente mais suave, mesmo sem a reforma política. Para isso acontecer, será essencial que o futuro presidente tenha duas características: compartilhe, de fato, poder com sua base aliada e fortaleça o pendor conciliador que parece ser uma de suas características.

Por ora, parece que esses dois pontos alienados do cenário político pela ainda presidente Dilma deverão retomar o espaço perdido com o novo governo que se avizinha. Pode parecer pouco, mas essa interlocução com o Congresso será mais do que necessária para ajudar na confiança que um novo poder sempre traz. Temer não parece ter a liderança natural de FHC e Lula, mas tem o conhecimento necessário do Legislativo para fazer com ele uma parceria verdadeira de trabalho, algo que, pela ausência, foi fatal ao governo que se encerra.

Se juntarmos a isso a formação de uma forte equipe econômica e social, que parece que será o caso, está montado um início promissor de governo. É verdade que os partidos de esquerda como oposição continuarão a fazer o barulho de sempre, mas a possibilidade de um ajuste positivo pode levar a economia a uma trajetória razoável a partir de agora. Não se pode esquecer nunca que o atual governo entregou a pior recessão da história, com um PIB per capita que tende a acumular queda de cerca de 12% em três anos, algo inimaginável para tempos de paz.

Crescer em cima de tal base destruída não é difícil. O exemplo do período Collor é bastante ilustrativo disso. Durante os seis meses de crise mais profunda, começando pela capa da revista Veja com a entrevista de Pedro Collor entregando o irmão e terminando com a autorização do impeachment pela Câmara, foram-se seis meses de quedas fortes na produção industrial de bens de consumo, uma média de 11% a cada mês na comparação com igual mês do ano anterior. Mas entre novembro de 1992 e dezembro de 1993 a média mensal de expansão da indústria de bens de consumo foi de 10,7%. E isso sem nenhuma grande mudança de política econômica. Afinal, nos primeiros sete meses foram três ministros da Fazenda diferentes até a escolha de FHC. Apenas a retomada da confiança começou a garantir a melhora na economia, sem nenhum ministério de notáveis sendo formado e com o PT, obviamente, sendo oposição.

O que se coloca aqui, para evitar euforia desnecessária, não é que a indústria voltará a crescer a esses índices, mas que algo minimamente novo, mesmo que incerto, tem alta capacidade de impacto positivo nas expectativas. Isso não significa, entretanto, que as decisões serão apenas de fachada. A nova equipe precisará ser dura o suficiente para conseguir imprimir um ritmo de ajuste e de credibilidade que faça com que se chegue a 2018 com novas bases de crescimento.

No meu artigo anterior já dizia que não há muita mágica, a não ser voltar ao arroz com feijão de economia já conhecido, tanto na micro quanto na macroeconomia. Não é preciso uma liderança excepcional para que esse trivial fino seja montado. Apenas se pede uma liderança, algo inexistente nos últimos cinco anos. Por isso, há razões para certo otimismo. Pede-se, também, que o PMDB consiga ser um formulador de políticas, o que nunca foi seu forte. O protagonismo pede mais profissionalismo e menos fisiologismo e esse será o grande teste do partido ao longo deste ano.

sergiovale

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Em um sistema político superfragmentado como o brasileiro não há espaço para lideranças muito fracas. Coalizões de 20 ou mais partidos pedem um presidente minimamente conciliador para abarcar vontades e interesses geralmente muito dispersos. FHC sabia fazer isso. Lula não soube fazer isso, tentou fazer a contragosto depois do mensalão, mas o DNA centralizador do PT acabou isolando o partido do resto do Congresso. Mas sua liderança individual e carisma compensavam isso. Entretanto, ao juntar uma presidente com dificuldades de coordenação política, como a Dilma, com a sanha isolacionista do petismo, exacerbada com a saída de Lula, a catástrofe estava montada. E assim chegamos aonde estamos.

Reconduzir esse estado de caos político à normalidade não será simples, e talvez não seja o foco do novo governo que se forma. Mesmo assim, Temer pode englobar um quê de FHC nesse processo que pode levar a uma fase de transição eventualmente mais suave, mesmo sem a reforma política. Para isso acontecer, será essencial que o futuro presidente tenha duas características: compartilhe, de fato, poder com sua base aliada e fortaleça o pendor conciliador que parece ser uma de suas características.

Por ora, parece que esses dois pontos alienados do cenário político pela ainda presidente Dilma deverão retomar o espaço perdido com o novo governo que se avizinha. Pode parecer pouco, mas essa interlocução com o Congresso será mais do que necessária para ajudar na confiança que um novo poder sempre traz. Temer não parece ter a liderança natural de FHC e Lula, mas tem o conhecimento necessário do Legislativo para fazer com ele uma parceria verdadeira de trabalho, algo que, pela ausência, foi fatal ao governo que se encerra.

Se juntarmos a isso a formação de uma forte equipe econômica e social, que parece que será o caso, está montado um início promissor de governo. É verdade que os partidos de esquerda como oposição continuarão a fazer o barulho de sempre, mas a possibilidade de um ajuste positivo pode levar a economia a uma trajetória razoável a partir de agora. Não se pode esquecer nunca que o atual governo entregou a pior recessão da história, com um PIB per capita que tende a acumular queda de cerca de 12% em três anos, algo inimaginável para tempos de paz.

Crescer em cima de tal base destruída não é difícil. O exemplo do período Collor é bastante ilustrativo disso. Durante os seis meses de crise mais profunda, começando pela capa da revista Veja com a entrevista de Pedro Collor entregando o irmão e terminando com a autorização do impeachment pela Câmara, foram-se seis meses de quedas fortes na produção industrial de bens de consumo, uma média de 11% a cada mês na comparação com igual mês do ano anterior. Mas entre novembro de 1992 e dezembro de 1993 a média mensal de expansão da indústria de bens de consumo foi de 10,7%. E isso sem nenhuma grande mudança de política econômica. Afinal, nos primeiros sete meses foram três ministros da Fazenda diferentes até a escolha de FHC. Apenas a retomada da confiança começou a garantir a melhora na economia, sem nenhum ministério de notáveis sendo formado e com o PT, obviamente, sendo oposição.

O que se coloca aqui, para evitar euforia desnecessária, não é que a indústria voltará a crescer a esses índices, mas que algo minimamente novo, mesmo que incerto, tem alta capacidade de impacto positivo nas expectativas. Isso não significa, entretanto, que as decisões serão apenas de fachada. A nova equipe precisará ser dura o suficiente para conseguir imprimir um ritmo de ajuste e de credibilidade que faça com que se chegue a 2018 com novas bases de crescimento.

No meu artigo anterior já dizia que não há muita mágica, a não ser voltar ao arroz com feijão de economia já conhecido, tanto na micro quanto na macroeconomia. Não é preciso uma liderança excepcional para que esse trivial fino seja montado. Apenas se pede uma liderança, algo inexistente nos últimos cinco anos. Por isso, há razões para certo otimismo. Pede-se, também, que o PMDB consiga ser um formulador de políticas, o que nunca foi seu forte. O protagonismo pede mais profissionalismo e menos fisiologismo e esse será o grande teste do partido ao longo deste ano.

sergiovale

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