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Se beber não grave, Joesley

Após a divulgação dos áudios etílicos, Joesley deve ir para a cadeia. Caso não vá, esta será a última impressão da Lava-Jato a ficar na memória coletiva

Joesley Batista: os criminosos da JBS, atrapalhados pela tecnologia, gravaram-se sem querer (Leonardo Benassatto/Reuters)
LG

Luísa Granato

Publicado em 5 de setembro de 2017 às 20h43.

Os criminosos da JBS , atrapalhados pela tecnologia, gravaram-se sem querer. Combinaram como implicar outros criminosos em áudios e, assim, agradar a Rodrigo Janot, Procurador-Geral da República. A gravação, divulgada nesta segunda-feira, indica que estavam bêbados. Os novos áudios vieram à tona depois que a Polícia Federal examinou o celular de Joesley Batista para finalizar a entrega de provas da empresa, para complementar a delação fechada em maio.

O enredo é patético, mas as consequências para o sistema político brasileiro podem ser graves. Esse tipo de atitude é o que de mais danoso poderia acontecer com as colaborações premiadas. Está claro que Janot buscava recompensar os “empresários” da JBS caso eles gravassem diálogos comprometedores com parlamentares, ministros, presidente e/ou membros do Supremo Tribunal Federal. Até aí, é algo compreensível. Afinal, se há criminosos ocupando esses cargos, nada como os incentivos corretos para outros criminosos terem a oportunidade de expô-los.

Expô-lo-eis!, pensou Joesley. Tentou gravar o ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (PT), na expectativa de que este revelasse esquemas escabrosos no STF. Não teve sucesso. Ministros do STF não são como deputados: têm emprego vitalício e certa reputação a zelar. (Fatores reputacionais também influenciam o comportamento parlamentar, mas a Lava-Jato está mostrando quão pouco relevante eles são.) É claro que nada é impossível no Brasil de 2017. Ministros do STF podem estar envolvidos em esquemas cabeludos, mas as chances são pequenas.

Do modo como a colaboração premiada foi usada no caso da JBS e no caso de Sérgio Machado (Transpetro), estabeleceu-se um “toma-lá-dá-cá” que enrubesceria Deltan Dallagnol. A lógica é mais ou menos a seguinte: diminuo sua pena – ou mesmo te isento dela – se você me apresentar áudios de outros criminosos, mesmo que ambíguos e não necessariamente tratando de crimes.

Não foi, importante ressaltar, o caso do áudio com Michel Temer que Joesley apresentou. O presidente cita Rodrigo Rocha Loures diretamente. Para quem não se lembra porque os acontecimentos são muitos, Loures saiu correndo com uma mala de rodinhas cheia de grana da paulistana Pizzaria Camelo, na Rua Pamplona. (Dica do colunista: a pizza Mineirinho, de mussarela com bacon, é uma delícia.)

Mas outros áudios mostrados por Joesley e Machado não têm poder de fogo semelhante. A insuspeita Polícia Federal até sugeriu a anulação dos benefícios para o ex-presidente da Transpetro, hoje preso apenas com tornozeleira. Já Joesley, após a divulgação dos áudios etílicos, deve ir para a cadeia mesmo.

Caso não vá, a Lava-Jato terminará em tom de justa indignação de figuras como Aécio Neves e Gilmar Mendes. Afinal, qualquer pessoa captada por áudios da operação poderá, neste caso, confundir a plateia dizendo que foi “provocado” a dizer coisas que parecem suspeitas. Não foi este o tom da operação, mas é a última impressão (estudos científicos mostram!) que fica na memória coletiva.

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Os criminosos da JBS , atrapalhados pela tecnologia, gravaram-se sem querer. Combinaram como implicar outros criminosos em áudios e, assim, agradar a Rodrigo Janot, Procurador-Geral da República. A gravação, divulgada nesta segunda-feira, indica que estavam bêbados. Os novos áudios vieram à tona depois que a Polícia Federal examinou o celular de Joesley Batista para finalizar a entrega de provas da empresa, para complementar a delação fechada em maio.

O enredo é patético, mas as consequências para o sistema político brasileiro podem ser graves. Esse tipo de atitude é o que de mais danoso poderia acontecer com as colaborações premiadas. Está claro que Janot buscava recompensar os “empresários” da JBS caso eles gravassem diálogos comprometedores com parlamentares, ministros, presidente e/ou membros do Supremo Tribunal Federal. Até aí, é algo compreensível. Afinal, se há criminosos ocupando esses cargos, nada como os incentivos corretos para outros criminosos terem a oportunidade de expô-los.

Expô-lo-eis!, pensou Joesley. Tentou gravar o ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (PT), na expectativa de que este revelasse esquemas escabrosos no STF. Não teve sucesso. Ministros do STF não são como deputados: têm emprego vitalício e certa reputação a zelar. (Fatores reputacionais também influenciam o comportamento parlamentar, mas a Lava-Jato está mostrando quão pouco relevante eles são.) É claro que nada é impossível no Brasil de 2017. Ministros do STF podem estar envolvidos em esquemas cabeludos, mas as chances são pequenas.

Do modo como a colaboração premiada foi usada no caso da JBS e no caso de Sérgio Machado (Transpetro), estabeleceu-se um “toma-lá-dá-cá” que enrubesceria Deltan Dallagnol. A lógica é mais ou menos a seguinte: diminuo sua pena – ou mesmo te isento dela – se você me apresentar áudios de outros criminosos, mesmo que ambíguos e não necessariamente tratando de crimes.

Não foi, importante ressaltar, o caso do áudio com Michel Temer que Joesley apresentou. O presidente cita Rodrigo Rocha Loures diretamente. Para quem não se lembra porque os acontecimentos são muitos, Loures saiu correndo com uma mala de rodinhas cheia de grana da paulistana Pizzaria Camelo, na Rua Pamplona. (Dica do colunista: a pizza Mineirinho, de mussarela com bacon, é uma delícia.)

Mas outros áudios mostrados por Joesley e Machado não têm poder de fogo semelhante. A insuspeita Polícia Federal até sugeriu a anulação dos benefícios para o ex-presidente da Transpetro, hoje preso apenas com tornozeleira. Já Joesley, após a divulgação dos áudios etílicos, deve ir para a cadeia mesmo.

Caso não vá, a Lava-Jato terminará em tom de justa indignação de figuras como Aécio Neves e Gilmar Mendes. Afinal, qualquer pessoa captada por áudios da operação poderá, neste caso, confundir a plateia dizendo que foi “provocado” a dizer coisas que parecem suspeitas. Não foi este o tom da operação, mas é a última impressão (estudos científicos mostram!) que fica na memória coletiva.

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