Por que Haddad deu tantos passos à esquerda?
O ex-prefeito de São Paulo espera ser candidato e tem que conquistar a confiança da massa que apoia Lula
Da Redação
Publicado em 27 de julho de 2018 às 18h01.
Última atualização em 1 de agosto de 2018 às 15h48.
Fernando Haddad (PT) deu duas entrevistas interessantes para o Valor Econômico e a Folha de S. Paulo recentemente. Expôs as linhas gerais do programa de governo petista que está montando com uma equipe formada por, entre outros, o economista Marcio Pochmann (PT).
Não é o tipo de economista com quem Haddad costuma andar. Professor de Ciência Política na USP e no Insper, o ex-prefeito de São Paulo defendeu ideias associadas à Unicamp de Pochmann. São ideias que não deram certo no governo Dilma. Entre elas, uma mais radical do que o que foi implementado pela presidente: usar 10% das reservas internacionais do país – cerca de R$ 120 bilhões – para projetos de infraestrutura. E também “recuperar o papel estratégico de empresa integrada” da Petrobras.
Para piorar, Haddad citou as refinarias Comperj e Abreu e Lima como obras prioritárias a serem retomadas. Bem, na obra da refinaria de Abreu e Lima a construtora OAS pagou R$ 87 milhões de propina para políticos, de acordo com o Ministério Público Federal. R$ 3,7 milhões foram para o tríplex de Lula (PT). Faria sentido retomar a obra desde que Haddad conseguisse prometer, de modo crível, que desta vez o PT fará sem corrupção. Quem acreditar nisso pode doar para a vaquinha online da campanha.
Por que, afinal, o ex-prefeito deu essa imensa guinada à esquerda? Provavelmente porque espera ser candidato e tem que conquistar a confiança da massa que apoia Lula. Muitos apoiadores de Lula acreditam, como afirma Haddad, que ele foi condenado sem provas. Outros tantos creem que a mídia tem forte viés anti-petista e seu conteúdo precisa ser regulado, de algum modo, pelo governo federal. Haddad sinalizou apoio explícito a essas duas ideias. Emitiu o que se chama, nos meios acadêmicos, de “sinal custoso” (costly signal). Se Haddad simplesmente falasse que não é o “petista mais tucano” do Brasil, isso nada acrescentaria. A frase seria desconsiderada por todos. Mas, ao se colocar como um Guilherme Boulos mais bem penteado, Haddad emite o seguinte sinal: não quero o voto da direita, pois sou mesmo de esquerda. Com isso atrai os defensores mais árduos de Lula. O custo é deixar de ser considerado, por muitos, uma alternativa para o futuro do PT.
Uma consequência engraçada da movimentação de Haddad foi a desorientação de Ciro Gomes (PDT). Em menos de 48 horas, Ciro disse que Lula será solto se ele for eleito e que Lula manda em Valdemar Costa Neto, o mensaleiro líder do PR. Ou seja: Ciro quer soltar um sujeito que influencia um político que já cumpriu pena por corrupção. Parece que, mais uma vez, Ciro fará uma campanha sem sucesso.
Fernando Haddad (PT) deu duas entrevistas interessantes para o Valor Econômico e a Folha de S. Paulo recentemente. Expôs as linhas gerais do programa de governo petista que está montando com uma equipe formada por, entre outros, o economista Marcio Pochmann (PT).
Não é o tipo de economista com quem Haddad costuma andar. Professor de Ciência Política na USP e no Insper, o ex-prefeito de São Paulo defendeu ideias associadas à Unicamp de Pochmann. São ideias que não deram certo no governo Dilma. Entre elas, uma mais radical do que o que foi implementado pela presidente: usar 10% das reservas internacionais do país – cerca de R$ 120 bilhões – para projetos de infraestrutura. E também “recuperar o papel estratégico de empresa integrada” da Petrobras.
Para piorar, Haddad citou as refinarias Comperj e Abreu e Lima como obras prioritárias a serem retomadas. Bem, na obra da refinaria de Abreu e Lima a construtora OAS pagou R$ 87 milhões de propina para políticos, de acordo com o Ministério Público Federal. R$ 3,7 milhões foram para o tríplex de Lula (PT). Faria sentido retomar a obra desde que Haddad conseguisse prometer, de modo crível, que desta vez o PT fará sem corrupção. Quem acreditar nisso pode doar para a vaquinha online da campanha.
Por que, afinal, o ex-prefeito deu essa imensa guinada à esquerda? Provavelmente porque espera ser candidato e tem que conquistar a confiança da massa que apoia Lula. Muitos apoiadores de Lula acreditam, como afirma Haddad, que ele foi condenado sem provas. Outros tantos creem que a mídia tem forte viés anti-petista e seu conteúdo precisa ser regulado, de algum modo, pelo governo federal. Haddad sinalizou apoio explícito a essas duas ideias. Emitiu o que se chama, nos meios acadêmicos, de “sinal custoso” (costly signal). Se Haddad simplesmente falasse que não é o “petista mais tucano” do Brasil, isso nada acrescentaria. A frase seria desconsiderada por todos. Mas, ao se colocar como um Guilherme Boulos mais bem penteado, Haddad emite o seguinte sinal: não quero o voto da direita, pois sou mesmo de esquerda. Com isso atrai os defensores mais árduos de Lula. O custo é deixar de ser considerado, por muitos, uma alternativa para o futuro do PT.
Uma consequência engraçada da movimentação de Haddad foi a desorientação de Ciro Gomes (PDT). Em menos de 48 horas, Ciro disse que Lula será solto se ele for eleito e que Lula manda em Valdemar Costa Neto, o mensaleiro líder do PR. Ou seja: Ciro quer soltar um sujeito que influencia um político que já cumpriu pena por corrupção. Parece que, mais uma vez, Ciro fará uma campanha sem sucesso.