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O verdadeiro mito é Sergio Moro

Os manifestantes de domingo querem mais um líder anticorrupção como Sergio Moro do que um presidente atrapalhado

MORO: “Sempre agi com correção como juiz e agora como ministro” / Heitor Feitosa/VEJA.com
MORO: “Sempre agi com correção como juiz e agora como ministro” / Heitor Feitosa/VEJA.com
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Sérgio Praça

Publicado em 2 de julho de 2019 às, 12h53.

Última atualização em 2 de julho de 2019 às, 14h02.

Às 16h50 de domingo, o ministro Sergio Moro tomou as rédeas de seu perfil no Twitter e proclamou: “Eu vejo, eu ouço, eu agradeço”. Referia-se às manifestações em mais de oitenta cidades a favor do governo. Ao contrário das últimas, as passeatas desse domingo enfatizaram a centralidade de Moro no projeto político antipetista. Foram as mais aguerridas desde a época do impeachment de Dilma Rousseff (PT). Serviram para esclarecer melhor o estado atual da política no Brasil: Bolsonaro é coadjuvante e o mito é Moro.

Messias é o nome do meio do presidente, mas foi o ex-juiz que se referiu, também no Twitter, à “missão” de “consolidar os avanços anticorrupção e combater o crime organizado e os crimes violentos”. Disse também: “Sempre agi com correção como juiz e agora como ministro”. São palavras que reagem às reportagens do site The Intercept que divulgam conversas de Moro com o procurador Deltan Dallagnol. Nos diálogos, Dallagnol faz com alegria as vezes de Robin diante do juiz mascarado (mais à Romário do que Batman). Juízes não podem “instruir” membros do Ministério Público, muito menos sugerir testemunhas para melhor combater um suposto criminoso, como Moro fez. Ambos fingem que está tudo normal e as críticas são de petistas e de “ricos e poderosos”.

Quem tem o poder hoje é um projeto político que mistura corruptos de baixo clero como Flávio Bolsonaro (PSL) e membros do aparato judicial que são, mais do que qualquer outra coisa, contra Lula e o PT. Para alguns de seus apoiadores, o projeto pode incluir o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. O presidente pareceu se animar e escreveu (no Twitter, para variar): “Respeito todas as instituições, mas acima delas está o povo, meu patrão, a quem devo lealdade”. Bolsonaro quis pegar carona em um movimento que não é só seu e também não é só de Sergio Moro. Mas os olhos, ouvidos e agradecimentos do ex-juiz hoje importam mais.