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O sítio incriminador de Lula

O sítio era de Lula, e defesa do ex-presidente terá muito trabalho para provar o contrário

EM ATIBAIA: Vista aérea do sítio frequentado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva / VEJA.COM (Montagem/VEJA)
DR

Da Redação

Publicado em 7 de fevereiro de 2018 às 10h41.

“Boa tarde. Morreu mais um pintinho essa noite. E caiu dois gambá nas armadilhas essa noite.” Com o assunto “armadilha”, essas três frases singelas foram enviadas por Elcio Vieira Maradona ( elciovieira88@gmail.com ) para o Instituto Lula ( apoio@institutolula.org ) em 5 de outubro de 2014. Descoberto nas investigações da Lava Jato, o e-mail não está escrito em código: o pintinho é pintinho, os gambás são gambás. Elcio achou que alguém no instituto estaria interessado em notícias de um sítio em Atibaia (na verdade, dois sítios em terrenos contíguos). O imóvel está registrado em nome de dois sócios dos filhos de Lula: Fernando Bittar e Jonas Suassuna. De acordo com o Ministério Público Federal, o advogado Roberto Teixeira, muito próximo de Lula, intermediou a compra do sítio por Bittar e Suassuna em 2010.

Nesta semana, começam os depoimentos da fase final do caso, comandado pelo juiz federal Sergio Moro. De acordo com os investigadores da Lava Jato, o sítio teria sido dado a Lula, com reformas incluídas, pela Odebrecht, OAS e Schahin em troca de contratos com a Petrobras. Os dirigentes da estatal responsáveis por manter os negócios na ponta são os velhos conhecidos Renato Duque (Diretor de Serviços), Nestor Cerveró (Diretor Internacional), Paulo Roberto Costa (Diretor de Abastecimento) e Pedro Barusco (gerente executivo da área de Engenharia e Serviços). Partidos como PT, PMDB e PP receberam centenas de milhões de reais em propinas originadas pelos contratos de empreiteiras com essas três áreas. Os doleiros Alberto Youssef e Fernando Baiano, entre outros, repassavam a grana aos dirigentes partidários – mediante comissão, obviamente. Segundo o MPF, Lula recebeu sua parte através do tríplex no Guarujá, o sítio em Atibaia e o pagamento de palestras que não foram dadas.

Condenado a doze anos e um mês em regime fechado pelo caso do tríplex, Lula tem mais a temer no processo do sítio de Atibaia. As evidências de que ele tratava o sítio como seu são retumbantes. O caseiro Elcio Vieira Maradona enviou diversos outros e-mails a funcionários do Instituto Lula informando algo sobre o sítio. Um dos mais gritantes foi mandado em 31 de julho de 2015. Com o assunto “obras no sítio”, é uma lista de dezenas de materiais (barras de ferro, cimento, cal, areia, pedra britada) para obras que custariam R$ 20 mil. A frase incriminadora é: “como combinado com Dona Marisa”. Segundo a denúncia do MPF, as reformas totais custaram cerca de R$ 1 milhão e foram pagas pela Odebrecht, OAS e Schahin.

Outra mensagem, enviada por Leonardo Martins ( leonardo@institutolula.org ) para Valmir Moraes ( valmirmoraes.br@gmail.com ), um dos seguranças de Lula, tem 2 de outubro de 2014, é intitulada “Jaguatiricas em Atibaia?”. Leonardo informa que o presidente perguntou qual bicho havia comido marrecos no sítio e a resposta mais provável é uma jaguatirica. O funcionário do Instituto Lula relata ter entrado em contato com a unidade local do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Cogitou convidar algum representante do órgão para orientar os seguranças sobre como proteger os marrecos, mas não se sabe o resultado disso.

Um dos melhores amigos de Lula, o empresário José Carlos Bumlai, também ajudou nos cuidados com o sítio. Fez um empréstimo fraudulento de R$ 12 milhões que foi repassado para o PT e para pagar reformas em Atibaia. O empréstimo foi pago pela empresa Schahin, recompensada com a contratação de um navio-sonda para a Petrobras. (O “renascimento” da indústria naval mostrou-se desastroso não só como política pública, mas também como foco de corrupção.) No primeiro ano do governo Lula, em 2003, Frei Betto indicou Bumlai para um cargo de confiança de assessoramento ao presidente. Lula gostou da ideia, mas o empresário não topou. Ainda bem!

Esse enredo todo mostra, de forma inequívoca, que a família do ex-presidente era dona, de fato, do sítio de Atibaia. As reformas foram pagas por empresas beneficiadas na Petrobras. Há depoimentos, recibos, notas fiscais, e-mails e objetos (como os pedalinhos) que mostram de modo definitivo o esquema do ex-presidente. Para chamar isso de lawfare, o advogado Cristiano Zanin e o PT terão que ligar o cinismo no modo “turbo”.

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“Boa tarde. Morreu mais um pintinho essa noite. E caiu dois gambá nas armadilhas essa noite.” Com o assunto “armadilha”, essas três frases singelas foram enviadas por Elcio Vieira Maradona ( elciovieira88@gmail.com ) para o Instituto Lula ( apoio@institutolula.org ) em 5 de outubro de 2014. Descoberto nas investigações da Lava Jato, o e-mail não está escrito em código: o pintinho é pintinho, os gambás são gambás. Elcio achou que alguém no instituto estaria interessado em notícias de um sítio em Atibaia (na verdade, dois sítios em terrenos contíguos). O imóvel está registrado em nome de dois sócios dos filhos de Lula: Fernando Bittar e Jonas Suassuna. De acordo com o Ministério Público Federal, o advogado Roberto Teixeira, muito próximo de Lula, intermediou a compra do sítio por Bittar e Suassuna em 2010.

Nesta semana, começam os depoimentos da fase final do caso, comandado pelo juiz federal Sergio Moro. De acordo com os investigadores da Lava Jato, o sítio teria sido dado a Lula, com reformas incluídas, pela Odebrecht, OAS e Schahin em troca de contratos com a Petrobras. Os dirigentes da estatal responsáveis por manter os negócios na ponta são os velhos conhecidos Renato Duque (Diretor de Serviços), Nestor Cerveró (Diretor Internacional), Paulo Roberto Costa (Diretor de Abastecimento) e Pedro Barusco (gerente executivo da área de Engenharia e Serviços). Partidos como PT, PMDB e PP receberam centenas de milhões de reais em propinas originadas pelos contratos de empreiteiras com essas três áreas. Os doleiros Alberto Youssef e Fernando Baiano, entre outros, repassavam a grana aos dirigentes partidários – mediante comissão, obviamente. Segundo o MPF, Lula recebeu sua parte através do tríplex no Guarujá, o sítio em Atibaia e o pagamento de palestras que não foram dadas.

Condenado a doze anos e um mês em regime fechado pelo caso do tríplex, Lula tem mais a temer no processo do sítio de Atibaia. As evidências de que ele tratava o sítio como seu são retumbantes. O caseiro Elcio Vieira Maradona enviou diversos outros e-mails a funcionários do Instituto Lula informando algo sobre o sítio. Um dos mais gritantes foi mandado em 31 de julho de 2015. Com o assunto “obras no sítio”, é uma lista de dezenas de materiais (barras de ferro, cimento, cal, areia, pedra britada) para obras que custariam R$ 20 mil. A frase incriminadora é: “como combinado com Dona Marisa”. Segundo a denúncia do MPF, as reformas totais custaram cerca de R$ 1 milhão e foram pagas pela Odebrecht, OAS e Schahin.

Outra mensagem, enviada por Leonardo Martins ( leonardo@institutolula.org ) para Valmir Moraes ( valmirmoraes.br@gmail.com ), um dos seguranças de Lula, tem 2 de outubro de 2014, é intitulada “Jaguatiricas em Atibaia?”. Leonardo informa que o presidente perguntou qual bicho havia comido marrecos no sítio e a resposta mais provável é uma jaguatirica. O funcionário do Instituto Lula relata ter entrado em contato com a unidade local do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Cogitou convidar algum representante do órgão para orientar os seguranças sobre como proteger os marrecos, mas não se sabe o resultado disso.

Um dos melhores amigos de Lula, o empresário José Carlos Bumlai, também ajudou nos cuidados com o sítio. Fez um empréstimo fraudulento de R$ 12 milhões que foi repassado para o PT e para pagar reformas em Atibaia. O empréstimo foi pago pela empresa Schahin, recompensada com a contratação de um navio-sonda para a Petrobras. (O “renascimento” da indústria naval mostrou-se desastroso não só como política pública, mas também como foco de corrupção.) No primeiro ano do governo Lula, em 2003, Frei Betto indicou Bumlai para um cargo de confiança de assessoramento ao presidente. Lula gostou da ideia, mas o empresário não topou. Ainda bem!

Esse enredo todo mostra, de forma inequívoca, que a família do ex-presidente era dona, de fato, do sítio de Atibaia. As reformas foram pagas por empresas beneficiadas na Petrobras. Há depoimentos, recibos, notas fiscais, e-mails e objetos (como os pedalinhos) que mostram de modo definitivo o esquema do ex-presidente. Para chamar isso de lawfare, o advogado Cristiano Zanin e o PT terão que ligar o cinismo no modo “turbo”.

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