O que Eduardo Cunha tem a ensinar aos democratas nos EUA
Nancy Pelosi e seu partido terão que jogar sujo para derrotar Trump
Publicado em 26 de setembro de 2019 às, 19h27.
Última atualização em 27 de setembro de 2019 às, 14h28.
Adoro impeachments. Nos últimos quatro anos, o Brasil iniciou dois processos, um contra o PT, outro contra o (P)MDB. Fiquei mal-acostumado. Por que gosto tanto? Deve ser pelo ambiente de incerteza e a oportunidade que bons estrategistas têm para influenciar o jogo político. Olhando de 2019 para 2015, quando Dilma Rousseff (PT) começou a sofrer com as pedaladas, o impeachment parece óbvio. Também o sucesso de Michel Temer (MDB) em estancar a sangria após o áudio com Joesley Batista, em 2017, era de se esperar. Mas quem cravaria isso na época? Difícil. E agora nossos colegas do hemisfério norte acabam de abrir, contra o presidente Donald Trump (Republicano), mais um processo de impeachment. O que o Partido Democrata pode aprender com a recente experiência brasileira?
Odeie-o o quanto quiser, mas o mestre aqui é Eduardo Cunha (MDB), o ex-presidente da Câmara dos Deputados que está preso há quase três anos. Ao longo de seu breve período comandando os deputados federais, Cunha conseguiu três grandes feitos: elaborou uma agenda legislativa mais ou menos coerente contra a de Dilma; foi um fiador crível do governo Temer junto aos parlamentares, embora não fosse próximo do então vice-presidente e, por fim, mobilizou as regras legislativas e coadjuvantes insuspeitos para realizar o impeachment da presidente.
Cunha não teve dó. Foi ruthless. A presidente da Câmara dos Deputados nos Estados Unidos, a democrata Nancy Pelosi, irá precisar do mesmo espírito. Trump pediu ajuda ao presidente da Ucrânia para quem um adversário político fosse investigado. É gravíssimo. Mas o sujeito do meio-oeste que perdeu o emprego sob Obama e confia em Trump para reconquistá-lo, levando de brinde um toque de supremacia branca, não quer saber de Ucrânia alguma. E o apoio de pessoas assim será crucial para os democratas convencerem vinte senadores republicanos a “traírem” o presidente.
Biógrafo de Lyndon Johnson, o escritor Robert Caro sempre diz que o poder revela o caráter de quem o exerce. O de Cunha conhecemos. Se Pelosi evitar populismo e jogo sujo, o impeachment pode sair mais caro para o Partido Democrata do que para o Republicano.