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Michel Temer conciliou moderação com corrupção

Temer se posicionava contra os excessos, mas liderava acordos em que partilhava o loteamento do Estado com outros parlamentares influentes

TEMER: com muito atraso, sente o peso dos novos tempos judiciais / Paulo Whitaker/ Reuters
TEMER: com muito atraso, sente o peso dos novos tempos judiciais / Paulo Whitaker/ Reuters
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Sérgio Praça

Publicado em 21 de março de 2019 às, 12h31.

Última atualização em 21 de março de 2019 às, 13h24.

O ex-presidente Michel Temer (MDB) foi preso na manhã desta quinta-feira. Ele saiu da presidência com pecha de moderado e bem-sucedido. Perto de Jair Bolsonaro (PSL), Temer é um político razoável, conciliador, respeitador dos direitos humanos. Presidiu a Câmara dos Deputados. Foi Secretário de Segurança Pública em São Paulo nos anos oitenta. E vice-presidente discreto de Dilma Rousseff (PT) até virar a mesa com a ajuda do então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (MDB).

Temer é um político moderado – algo em falta hoje no Brasil – mas é corrupto, algo já bem mais comum de se encontrar por aqui.

Ele, Eliseu Padilha, Moreira Franco, Geddel Vieira Lima, Eduardo Cunha, Romero Jucá e outros emedebistas comandaram diversos esquemas nos últimos trinta anos. Temer foi o parlamentar do MDB mais influente em nomeações para cargos de confiança nos governos de Lula e Dilma. Sempre se colocou como defensor de interesses do Legislativo contra “excessos” presidenciais. E, ao mesmo tempo, liderava acordos em que partilhava o loteamento do Estado com outros parlamentares influentes. Foi “dono” das nomeações no Porto de Santos por décadas.

E agora, com muito atraso, sente o peso dos novos tempos judiciais.

Ao contrário do que a reação do mercado à prisão faz crer, o acontecimento não terá influência na Reforma da Previdência. Michel Temer preso não muda o cálculo político de deputados e senadores hoje. Nem Rodrigo Maia (DEM) deixará de negociar a reforma porque seu sogro, Moreira Franco, também foi preso. Bobagem associar uma coisa à outra. Mas perdoemos as forças do mercado: entender e interpretar o Brasil nos últimos seis anos realmente não tem sido fácil.