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Larida 2018: as ideias irrealistas de Persio Arida e André Lara Resende

Mesmo com proposta inovadora do passado, economistas arriscam erroneamente ao participarem de campanhas de Alckmin e de Marina

PLANO REAL: proposta de economistas, nos anos 80, ficou conhecida como plano Larida (Ricardo Moraes/Reuters)
PLANO REAL: proposta de economistas, nos anos 80, ficou conhecida como plano Larida (Ricardo Moraes/Reuters)
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Sérgio Praça

Publicado em 22 de agosto de 2018 às, 10h27.

Última atualização em 22 de agosto de 2018 às, 13h43.

Persio Arida e André Lara Resende fizeram história nos anos oitenta. Escreveram um texto acadêmico que mudou a perspectiva sobre a inflação brasileira. Intitulado de “Proposta Larida”, a ideia era colocar duas moedas em circulação: uma virtual, não acometida por inflação, e a moeda doente. Saulo Ramos, advogado de confiança do presidente José Sarney (PMDB), impediu que políticos topassem a ideia. Seria inconstitucional. Dez anos depois, Gustavo Franco contornou isso com juristas mais compreensivos para implementar o Plano Real. Hoje, Arida assessora Geraldo Alckmin (PSDB), Lara Resende trabalha com Marina Silva (Rede) e Franco está com o Partido Novo.

Os dois primeiros estão se metendo em uma enrascada. Em diversas entrevistas e eventos no início de abril, Alckmin dizia que proporia um plano para “dobrar a renda” do brasileiro. Disse, segundo o Valor Econômico, que sua candidatura teria “o projeto do Persio: quem ganha dois mil vai ganhar quatro mil”. E aí, Persio, é verdade? É coisa para 16 anos, disse o economista em entrevista ao InfoMoney, claramente sem graça por ser associado a um objetivo tão populista. De acordo com os economistas do blog “Por Quê?”, seria necessário crescer 9% acima do crescimento populacional para dobrar a renda do brasileiro em oito anos. Isso, é claro, considerando a condução econômica sem erros, crises nem parlamentares. Não é à toa que Alckmin nem tocou mais no assunto. A manchete fácil já foi garantida.

André Lara Resende é mais preocupante. Seu problema não é a hipocrisia barata (de Alckmin) nem a embaraçada (de Persio). Em entrevista à Reuters, afirmou que o Brasil precisa substituir o déficit fiscal por um superávit primário de cerca de 2% do PIB “no curtíssimo prazo”. Economistas do mercado financeiro estimam que isso custaria R$ 400 bilhões. Marina Silva teria que fechar universidades federais, privatizar todas as empresas estatais e aumentar impostos. A julgar pelo detalhado programa de governo que Marina protocolou no Tribunal Superior Eleitoral, tamanha austeridade não seria a vocação de seu mandato. Lara Resende também afirma que a candidata aprovaria reformas na tributação e na previdência rompendo com a lógica do presidencialismo de coalizão.

Talvez ele esteja pensando em dois sistemas políticos com funcionamento paralelo: um velho, doente, jeffersoniano, e outro afeito a programas de governo, que rejeitaria cargos de confiança na Funasa a serem usados para fins eleitorais. Saulo Ramos nem precisa ressuscitar para inviabilizar essa URV sonhática.