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Ibama vs Bolsonaro

Funcionários do órgão ambiental arriscam seus cargos de confiança ao enfrentar o presidente

BOLSONARO: há dois dias, mais de 440 funcionários do Ibama assinaram carta em que apontam a incongruência entre a retórica do presidente e a prática diante de crimes ambientais | Adriano Machado/Reuters /
BOLSONARO: há dois dias, mais de 440 funcionários do Ibama assinaram carta em que apontam a incongruência entre a retórica do presidente e a prática diante de crimes ambientais | Adriano Machado/Reuters /
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Sérgio Praça

Publicado em 28 de agosto de 2019 às, 19h05.

Última atualização em 28 de agosto de 2019 às, 19h31.

A vida de funcionário público federal não é das mais emocionantes. Quem presta concurso é avesso a riscos. Gosta mais de estabilidade financeira (e de vínculo empregatício) do que de se arriscar em novas empreitadas. Não é à toa que inovar no setor público é tão difícil. Tudo é feito para que isso não aconteça. Mas há acontecimentos políticos que chacoalham os burocratas. Uma eleição como a de Jair Bolsonaro (PSL), por exemplo, pode fazer com que a passividade costumeira seja substituída pela indignação de quem é concursado e não tem a menor afinidade ideológica com o novo presidente.

Dois dias atrás, mais de 440 funcionários do Ibama assinaram uma carta a Eduardo Brim, presidente da instituição, com conteúdo endereçado a Bolsonaro. Os funcionarios apontam a incongruência entre a retórica do presidente, que já afirmou que o governo tem “tolerância zero” com crimes ambientais, e a prática de generosa leniência com suspeitos desses crimes. Pior ainda: em maio, o site do Ibama publicou onde seriam feitas as próximas fiscalizações dos órgãos. Equivale à polícia carioca avisar que na próxima semana a Rua Barão de Itambi, em Botafogo, não será bisbilhotada por viaturas.

 

Assinar uma carta dessas pode parecer algo sem muitas consequências para nós, cidadãos, que olhamos de fora. Mas os signatários correm sérios riscos de retaliação pelo presidente do órgão. Muito provavelmente não terão cargos de confiança durante o resto do governo. Esses cargos implicam, além de mais poder, um aumento salarial que pode chegar a 10 mil reais além do que o funcionário concursado já recebe. Pelo menos não sofrem risco de demissão. Ainda assim, vale lembrar uma atitude corajosa semelhante de funcionários do Ministério da Fazenda no primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT) poderia ter poupado o país das pedaladas fiscais.