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Em 2019, os protestos ficaram para os tios no Natal

Ao contrário dos chilenos, os brasileiros deixaram as ruas em paz neste ano

Protestos no Chile: o que começou por aumento na tarifa de transporte tornou-se um levante nacional (Henry Romero/Reuters)
Protestos no Chile: o que começou por aumento na tarifa de transporte tornou-se um levante nacional (Henry Romero/Reuters)
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Sérgio Praça

Publicado em 23 de dezembro de 2019 às, 16h54.

Última atualização em 23 de dezembro de 2019 às, 16h55.

Os cidadãos brasileiros não foram às ruas em 2019. Com exceção de mobilizações isoladas contra (e outras a favor) a reforma da previdência federal e contra bloqueios orçamentários na área de educação, o governo não foi alvo de protestos. Quero dizer: protestos de verdade, com pessoas saindo de casa, indo à avenida Paulista, gritando, subindo em carro de som. A internet, sim, foi o palco de reclamações para muitos dos insatisfeitos com a atuação de Bolsonaro.

Em um raro momento em que a lógica da internet apareceu na televisão, a escritora Tati Bernardi perguntou ao historiador Leandro Karnal, no Roda Viva da TV Cultura, como ela poderia perdoar seu pai por ter votado no presidente. A resposta elegante e avassaladora de Karnal merece dois minutos de atenção no YouTube.

Por mais polarizado que o país esteja hoje, a eleição de 2018 parece ter tido o efeito de “acalmar” as pessoas. No Chile, protestos da classe média – típicos de países que enfrentam crises econômicas, como aponta Bárbara A. Zárate-Tenorio em seu artigo “State-targeted grievances and resources: Protest participation during economic downturns in Latin America” (Governance, 2019) – estão levando a uma grande reformulação da Constituição. Nada parecido acontecerá no Brasil. Aqui o sistema político tradicional consegue fazer mudanças constitucionais com certa facilidade.

Para o bem ou para o mal, os insatisfeitos com a “velha política” – não só Bolsonaro, mas também Tabata Amaral e Kim Kataguiri (DEM) – estão agora em posições de poder. Mais um motivo para prestarmos mais atenção nas urnas, nas próximas eleições municipais, do que nas ruas e na participação política via internet.

Ficha do Sérgio Praça