Eleições: 2018 não deve ser 1989
Tem-se falado bastante que as eleições presidenciais do ano que vem serão terra de ninguém. A derrocada do PT e a falta de expressividade do PSDB, os dois partidos que estruturaram as disputas à presidência desde 1994, provocariam o surgimento de candidatos em excesso, confundindo os eleitores e dividindo o apoio de empresários e partidos […]
Publicado em 28 de fevereiro de 2017 às, 18h59.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h33.
Tem-se falado bastante que as eleições presidenciais do ano que vem serão terra de ninguém. A derrocada do PT e a falta de expressividade do PSDB, os dois partidos que estruturaram as disputas à presidência desde 1994, provocariam o surgimento de candidatos em excesso, confundindo os eleitores e dividindo o apoio de empresários e partidos políticos. A Operação Lava-Jato, com consequências ainda indefinidas, maculou a reputação de pelo menos dois partidos grandes e um médio – PT, PMDB e PP.
No entanto, não se pode dizer, ainda, que o cenário será tão confuso quanto o de 1989, quando 22 candidatos participaram. Naquela ocasião, disputavam-se as primeiras eleições presidenciais desde 1960. O PSDB tinha um ano de idade. Todos achavam que tinham alguma chance de vencer. E o eleito foi um ex-governador de estado pequeno, disputando por um partido inexpressivo que durou poucos anos.
O que, então, podemos afirmar que acontecerá em 2018 a partir dos dados que temos hoje? Os números citados a partir de agora são do Instituto Ipsos, em pesquisa realizada até fevereiro e divulgada na sexta-feira 24. Primeiro vamos considerar os partidos com menor chance: PMDB, PSDB e PT.
Segundo o Ipsos, 78% dos brasileiros desaprovam a atuação do presidente Michel Temer (PMDB). Apenas 17% aprovam seu trabalho. O percentual de desaprovação de Temer cresce desde setembro de 2015, quando era 55%, tendo subido para 67% assim que Temer assumiu o lugar de Dilma Rousseff (PT). Políticos tradicionais do partido, como Eduardo Cunha e Renan Calheiros, são os menos queridos pela população. Suas taxas de desaprovação são, respectivamente, 89% e 82%. Não é um partido que empolga para o ano que vem, talvez nem mesmo com a vice-presidência. Um complicador extra para o PMDB é que qualquer mérito do governo Temer virá da condução da economia pelo ministro Henrique Meirelles (PSD), que não hesitará em se candidatar. Pelo jeito como as coisas andam, então, o PMDB ficará marcado em 2018 apenas como o partido que mais tem líderes corruptos.
O caso do PT é um pouco mais complexo. Apesar de não faltarem evidências de corrupção dos seus líderes, o partido ainda é bem considerado por parte expressiva da população: 31% dos cidadãos aprovam Lula. O número mais baixo a que chegou foi 24% em novembro passado. Considerando todas as denúncias robustas contra o ex-presidente, é um percentual respeitável. Mas o apoio a Lula está fortemente concentrado nas classes D e E (46%) e no Nordeste (62%). Mesmo que até lá não seja preso, teria dificuldade imensa para conseguir o apoio de empresários e outros partidos políticos. Até porque os empresários com quem tinha melhor relação devem ficar na cadeia por mais um tempo…
Por que o PT não tem outros nomes viáveis? Será que o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, poderia ser uma opção? Antes da Lava-Jato, isso não era impensável. Hoje é. Haddad mostrou-se, nas eleições passadas, quando obteve apenas 16% dos votos dos paulistanos para sua reeleição, um político comum. Correu para os braços da Vila Madalena e da USP, esquecendo a classe média da cidade. (Pela periferia, melhorou os corredores de ônibus.) Nada de errado com isso, mas deixou de aproveitar uma grande oportunidade para mostrar-se diferente. Poderia ter liderado uma reforma interna no partido, mas não teve espaço (nem disposição) para isso. Chegou perto de juntar-se à Rede de Marina Silva. Esteve na última reunião, mas pulou fora.
A depender do candidato que escolher, o PSDB tem mais chances do que PT e PMDB, mas ainda assim não são ótimas. Os próximos meses deverão mostrar detalhes do envolvimento de tucanos em corrupção, mas ao menos (até agora) não se sabe de nenhuma tentativa do PSDB para obstruir investigações – ao contrário dos outros partidos. O candidato que o partido propôs em 2016, Aécio Neves, está se revelando um senador desastroso. Sem brilho nem ideias inovadoras, Aécio é mais visto pela população como alguém com um esquema que “todos conhecem” (nas palavras de Romero Jucá e Sérgio Machado) do que como bom parlamentar. Consegue a proeza de ter o mesmo índice de desaprovação de Dilma Rousseff – 74% – e apenas metade de sua aprovação (11% contra 23% de Dilma)!
Mais preocupante, para os tucanos, é que seus possíveis candidatos (Aécio e Alckmin) têm forte desaprovação entre os cidadãos com ensino médio e ensino superior. Alckmin é rejeitado por 64% da população. Percentual altíssimo para quem, no fim das contas, poderia ser rejeitado apenas por parte dos paulistas. Alckmin é um político conservador, um típico tucano do interior de São Paulo. Nada de errado com isso, mas não se sabe de uma política pública implementada em São Paulo que poderia ser exportada para o país. Considerando o domínio tucano no estado desde 1994, isto é uma façanha.
Essa forte desaprovação dos candidatos tucanos mostra que o gosto pela responsabilidade com gastos públicos – principal bandeira do partido ao menos desde 2000, com a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal – não será suficiente para impulsionar suas chances em 2018. Pensar o contrário é considerar que Dilma tem alta desaprovação por causa das pedaladas fiscais e não pela corrupção. É um equívoco. Ninguém entende as pedaladas e, agora, não é só o PT que tem se mostrado envolvido em escândalos.
Com tudo isso, sobram dois candidatos interessantes (do ponto de vista da análise política) até agora: Jair Bolsonaro (PSC) e Marina Silva (Rede). Bolsonaro é radical demais para aguentar um segundo turno, se chegar a tanto. Apesar de ter taxa de desaprovação menor do que os citados até aqui (49%, medida em dezembro de 2016), não podemos ignorar a intensidade dos sentimentos contrários à sua atuação política. Bolsonaro é muito mais conservador do que a média da população. Não parece ter capacidade de formar uma boa equipe nem de atrair apoio de empresários e outros partidos políticos.
Pelo visto até aqui, Marina Silva (Rede) será eleita presidente caso não haja reviravolta. Sua taxa de desaprovação tem oscilado nos últimos meses e é, atualmente, 57%. Taxa muito maior do que a dos juízes Joaquim Barbosa (32%) e Sérgio Moro (26%), mas eles não mostram vontade real de entrar para a política partidária – Moro menos do que Barbosa. Marina tem apoio de 28% (muito próximo de Lula, com 31%) e é bem distribuído regionalmente, ao contrário do ex-presidente. Ela errou bastante no primeiro turno em 2014, ao mudar de posição sobre assuntos delicados, mas tornou-se conhecida pela população. Parece, também, não ter envolvimento em nenhum escândalo. Marina tem aparecido pouco ultimamente, mas isto parece ser uma boa estratégia. Não tem nada a ganhar dividindo espaço com seus concorrentes num momento tão crítico para o sistema político. É provável, então, que em 2018 o Brasil eleja sua segunda mulher presidente.