“Dinheiro, eleições e poder” – o melhor livro de 2018
No livro, o advogado e economista Bruno Carazza explica as engrenagens que permitem a políticos como Romero Jucá acumular poder e dinheiro
Publicado em 31 de dezembro de 2018 às, 15h46.
Última atualização em 31 de dezembro de 2018 às, 15h51.
O senador Romero Jucá (MDB), não reeleito neste ano, voltou ao noticiário na semana passada. Aparentemente ele checava o conteúdo de projetos com a Odebrecht antes de apresentá-los. É um dos parlamentares mais influentes e corruptos do Congresso Nacional. É investigado em 12 inquéritos no Supremo Tribunal Federal. Sem mandato a partir do ano que vem, tem grande chance de ser preso. Mas como é possível que alguém tão complicado tenha acumulado tanto poder no Legislativo federal? Ótimas pistas para entender isso estão em Dinheiro, eleições e poder: as engrenagens do sistema político brasileiro (Companhia das Letras, 2018), de Bruno Carazza. É o melhor livro de política do ano.
Presidente nacional do MDB, Jucá há tempos concentra fortes poderes de distribuição de recursos para campanhas. Isso aumentou neste ano, quando o senador foi o principal responsável por definir o destino dos R$ 230 milhões do fundo eleitoral do MDB (diferente do fundo partidário, dinheiro destinado apenas para a manutenção das organizações partidárias). Líderes legislativos têm esse poder sobre recursos financeiros do partido porque as regras internas do Congresso Nacional lhes dão poder sobre a definição da agenda legislativa e a distribuição de cargos e atribuições relevantes para os demais parlamentares da bancada.
Esse insight, de Argelina Figueiredo e Fernando Limongi em Executivo e Legislativo na Nova Ordem Constitucional (Ed. FGV, 1999), recebe um ótimo complemento no livro de Carazza. É ele quem mostra, com base em extensa pesquisa sobre financiamento eleitoral e informações da Operação Lava Jato, como o poder institucional de líderes partidários os transforma em pombos-correios dos caixas 1 e 2 de empresas.
No melhor capítulo, intitulado “Os superpoderes do resolvedor-geral da República”, o autor mostra como Jucá concentrou a relatoria de medidas provisórias entre 2001 e 2017. Nesta posição, conseguiu intermediar interesses da Odebrecht (e outras empresas) sem ser questionado pelos colegas – seja por concordância com os objetivos do senador, seja pelo interesse natural em “seguir o relator” e assim não perder tempo se informando sobre o conteúdo da legislação.
Há muito mais no livro, que tem tudo para ser influente por um bom tempo.