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Conflito com Irã pode ser trunfo contra o Partido Democrata

Donald Trump terá que pedir ao Congresso para começar uma guerra – e isso é pior para os democratas do que para ele

Irã-EUA: crise atingiu o ápice nesta sexta-feira (Nazanin Tabatabaee/Reuters)
Irã-EUA: crise atingiu o ápice nesta sexta-feira (Nazanin Tabatabaee/Reuters)
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Sérgio Praça

Publicado em 3 de janeiro de 2020 às, 18h28.

Em tempos normais, o assassinato do general iraniano Qasem Soleimani seria comemorado nos Estados Unidos. Claro que alguns analistas diriam que haveria perigo de guerra, mas os norte-americanos costumam adorar esse tipo de ação.

O problema é que Donald Trump (Partido Republicano) não é um presidente típico. Está sofrendo um processo de impeachment em que será condenado pela Câmara dos Deputados (com maioria democrata) e, muito provavelmente, absolvido pelo Senado Federal (com maioria republicana).

Em vez de o impeachment unir os políticos tradicionais de ambos os partidos contra um outsider, serviu apenas para acirrar ainda mais a polarização política.

De acordo com o site FiveThirtyEight, do lendário analista Nate Silver, apenas 10% dos simpatizantes do Partido Republicano apoiam a destituição de Trump.

Os argumentos da presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi (Partido Democrata), estão convencendo quase todos os “convertidos” e dando em nada para quem é republicano. A chance de esse cenário mudar nos próximos meses é praticamente zero.

É nessa lógica que o presidente norte-americano optou por fazer o equivalente a uma declaração informal de guerra contra o Irã. Parlamentares democratas reclamam que não foram avisados sobre o assassinato do general, mas não seria um comportamento usual.

Se os iranianos responderem à altura e forçarem os Estados Unidos a iniciar uma guerra formal, os democratas ficarão em uma sinuca. Deixar de apoiar Trump seria considerado temerário, mas concordar com o presidente aumentaria suas chances de reeleição.

A essa altura, os líderes democratas devem estar mais confusos do que os iranianos.

Sérgio Praça, cientista político

(Foto/Exame)

(Este artigo expressa a opinião do autor, não representando necessariamente a opinião institucional da FGV.)