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Como seria o Partido da Lava Jato?

Empresários à distância e “reflexões cristãs” dariam apoio organizacional ao projeto político de Dallagnol

DELTAN DALLAGNOL: pouco mais de 40% dos cidadãos que sabem o que é a Lava Jato (cerca de metade dos brasileiros) apoiam a manutenção de Deltan Dallagnol como seu chefe (Ueslei Marcelino/Reuters)
DELTAN DALLAGNOL: pouco mais de 40% dos cidadãos que sabem o que é a Lava Jato (cerca de metade dos brasileiros) apoiam a manutenção de Deltan Dallagnol como seu chefe (Ueslei Marcelino/Reuters)
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Sérgio Praça

Publicado em 3 de setembro de 2019 às, 14h01.

Última atualização em 3 de setembro de 2019 às, 16h05.

A Operação Lava Jato tem sido comparada a um partido político há tempos. Os procuradores do Ministério Público Federal teriam um objetivo partidário claro – eliminar o PT da competição política – e os meios judiciais para fazê-lo. Por isso a parceria com Sergio Moro era tão importante e sua ida para o Ministério da Justiça tão lamentada. Ao juntar-se ao bolsonarismo, o ex-juiz revelaria o projeto político por trás de todas as investigações.

Para sorte do MPF, as mensagens e áudios revelados até agora pelo Intercept, em parceria com diversos órgãos jornalísticos, não tiraram todo o apoio popular à força-tarefa. Se formassem um partido político, os procuradores não estariam mal. Pouco mais de 40% dos cidadãos que sabem o que é a Lava Jato (cerca de metade dos brasileiros) apoiam a manutenção de Deltan Dallagnol como seu chefe. São apoiadores intensos do projeto anticorrupção personificado pelo procurador. Dariam ao Partido da Lava Jato mais simpatizantes do que MDB, PSDB e PDT juntos. Mas apoio cidadão não basta. Partidos políticos precisam de recursos e organização.

As mensagens divulgadas hoje pelo Intercept com a Agência Pública mostram que Dallagnol já se adiantou. Usou o Instituto Mude como fachada para receber apoio empresarial (velado, é claro) e religioso à Lava Jato. A Igreja Batista de Bacacheri, em Curitiba, ajuda até com material didático para as iniciativas do Mude. Um curso gratuito sobre corrupção oferece roteiros para “reflexão cristã, diálogo e ação”. O site da igreja fecha o círculo divulgando dados bancários para depósito do dízimo.

O PLJ teria uma nota só: apoio irrestrito ao combate à corrupção, desde que feito pelo Ministério Público. Com métodos de PRB e messianismo petista, tendo Dallagnol como líder sem contestação, o PLJ teria sucesso inevitável. Estamos esperando.