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Com Queiroz e Weintraub, Centrão teve um grande dia

Com Bolsonaro sob pressão, parlamentares podem se aliar a funcionários públicos para ganhar espaço nos ministérios

Queiroz e Weintraub: ex-assessor de Flávio Bolsonaro foi preso e ministro pediu demissão nesta quinta-feira (Montagem/Exame)
Queiroz e Weintraub: ex-assessor de Flávio Bolsonaro foi preso e ministro pediu demissão nesta quinta-feira (Montagem/Exame)
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Sérgio Praça

Publicado em 18 de junho de 2020 às, 20h54.

Sob o olhar constrangido do presidente, Abraham Weintraub pediu demissão do Ministério da Educação em um vídeo de três minutos e doze segundos, publicado em seu perfil no Twitter com o título “Palavras do Coração”. Não é comum que um ministro saia dessa maneira.

Mas, nesse governo, alguns deles precisam prestar contas a uma plateia de ideólogos que se animam com essas coisas. Infelizmente, Weintraub tem pouco a comemorar. Sua passagem pelo ministério não resultou, sendo bastante generoso, em avanço algum para a política pública mais importante do país.

A briga para nomear seu sucessor se dá entre os ideólogos olavistas e os políticos do Centrão. Os primeiros oferecem a Bolsonaro defesa estridente nas redes sociais e uma gama de temas sobre os quais o presidente pode se distrair em suas lives às quintas-feiras.

Mais astutos, os representantes do Centrão dão ao presidente a oportunidade de indicar o que estudiosos chamam de “técnicos-políticos”. São funcionários públicos, concursados, que têm vínculos informais com a política partidária. Sabem que suas chances de ocupar cargos de confiança de alto nível (DAS-4, 5 e 6) aumenta caso se aproximem de partidos como o MDB, PP, PSD, PSDB, PT etc.

Para os parlamentares do Centrão, essa solução é incrível. Apoiam nomes “técnicos”, de ótima reputação, em troca de, no mínimo, informações sobre o cotidiano do ministério. Parece pouco? Não é. Portarias, instruções normativas e outras medidas “infralegais” afetam grupos de interesse, empresários – e, no caso da Educação, donos, professores e alunos de faculdades públicas e privadas.

O acesso às discussões internas desse ministério é valioso. O deputado federal Arthur Lira (PP) e seus colegas de Centrão sabem, muito mais do que os olavistas, quais cargos de confiança concentram poder real. No momento, a análise de currículos provavelmente está intensa.

(Este artigo expressa a opinião do autor, não representando necessariamente a opinião institucional da FGV.)