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Após troca de mensagens com Dallagnol, Moro precisa renunciar

Conversas reveladas mostram como o MPF e Moro trocavam informações de modo ilegal, desrespeitando a neutralidade do Judiciário

Ministro Sergio Moro (Rafael Marchante/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 9 de junho de 2019 às 21h03.

Última atualização em 11 de junho de 2019 às 17h59.

Quando era juiz federal, Sergio Moro combinou com Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato no Ministério Público Federal, estratégias de investigação para implicar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em atos criminosos.

Conversas mantidas por Moro e Dallagnol pelo aplicativo de mensagens Telegram – reveladas pelo site The Intercept, do jornalista Gleen Greenwald e equipe – mostram como o MPF e Moro trocavam informações de modo ilegal, desrespeitando a neutralidade do Judiciário.

O candidato derrotado às eleições presidenciais no ano passado pelo PT, Fernando Haddad, escreveu em seu Twitter que se trata do “maior escândalo institucional da história da República”. Não está errado.

A divulgação das mensagens não é um “ataque” à Operação Lava Jato. É o que permite a nós, cidadãos, termos acesso a como decisões de altíssima relevância pública são tomadas.

Em outubro de 2015 noticiou-se que Alexandrino Alencar, diretor da Odebrecht que era próximo a Lula, seria solto. Imediatamente Dallagnol mandou mensagem para Moro: “Caro, STF soltou Alexandrino. Estamos com outra denúncia a ponto de sair, e pediremos prisão com base em fundamentos adicionais na cota. […] Seria possível apreciar hoje?”. O juiz respondeu com um conselho: “Não creio que conseguiria ver hoje. Mas pensem bem se é uma boa ideia”.

Seis meses depois, em março de 2016, o povo foi às ruas pedir o impeachment de Dilma Rousseff (PT). Dallagnol creditou ao juiz o movimento da população. “Parabéns pelo imenso apoio público hoje”, escreveu o procurador. “Seus sinais conduzirão multidões, inclusive para reformas de que o Brasil precisa, nos sistemas político e de justiça criminal”.

Moro respondeu com um plural que indica mais do que autocongratulação “Fiz uma manifestação oficial. Parabéns a todos nós”. Continuou o juiz: “Ainda desconfio muito de nossa capacidade institucional de limpar o congresso. O melhor seria o congresso se autolimpar mas isso não está no horizonte. E não sei se o STF tem força suficiente para processar e condenar tantos e tão poderosos”.

“Há a tranquilidade de que os dados eventualmente obtidos refletem uma atividade desenvolvida com pleno respeito à legalidade e de forma técnica e imparcial”, diz a nota publicada há pouco pela assessoria de imprensa do Ministério Público Federal. A julgar por essa frase e o resto da nota, intitulada “Força-tarefa informa a ocorrência de ataque criminoso à Lava Jato”, os procuradores ainda não tiveram tempo de ler nada publicado pelo The Intercept.

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Quando era juiz federal, Sergio Moro combinou com Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato no Ministério Público Federal, estratégias de investigação para implicar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em atos criminosos.

Conversas mantidas por Moro e Dallagnol pelo aplicativo de mensagens Telegram – reveladas pelo site The Intercept, do jornalista Gleen Greenwald e equipe – mostram como o MPF e Moro trocavam informações de modo ilegal, desrespeitando a neutralidade do Judiciário.

O candidato derrotado às eleições presidenciais no ano passado pelo PT, Fernando Haddad, escreveu em seu Twitter que se trata do “maior escândalo institucional da história da República”. Não está errado.

A divulgação das mensagens não é um “ataque” à Operação Lava Jato. É o que permite a nós, cidadãos, termos acesso a como decisões de altíssima relevância pública são tomadas.

Em outubro de 2015 noticiou-se que Alexandrino Alencar, diretor da Odebrecht que era próximo a Lula, seria solto. Imediatamente Dallagnol mandou mensagem para Moro: “Caro, STF soltou Alexandrino. Estamos com outra denúncia a ponto de sair, e pediremos prisão com base em fundamentos adicionais na cota. […] Seria possível apreciar hoje?”. O juiz respondeu com um conselho: “Não creio que conseguiria ver hoje. Mas pensem bem se é uma boa ideia”.

Seis meses depois, em março de 2016, o povo foi às ruas pedir o impeachment de Dilma Rousseff (PT). Dallagnol creditou ao juiz o movimento da população. “Parabéns pelo imenso apoio público hoje”, escreveu o procurador. “Seus sinais conduzirão multidões, inclusive para reformas de que o Brasil precisa, nos sistemas político e de justiça criminal”.

Moro respondeu com um plural que indica mais do que autocongratulação “Fiz uma manifestação oficial. Parabéns a todos nós”. Continuou o juiz: “Ainda desconfio muito de nossa capacidade institucional de limpar o congresso. O melhor seria o congresso se autolimpar mas isso não está no horizonte. E não sei se o STF tem força suficiente para processar e condenar tantos e tão poderosos”.

“Há a tranquilidade de que os dados eventualmente obtidos refletem uma atividade desenvolvida com pleno respeito à legalidade e de forma técnica e imparcial”, diz a nota publicada há pouco pela assessoria de imprensa do Ministério Público Federal. A julgar por essa frase e o resto da nota, intitulada “Força-tarefa informa a ocorrência de ataque criminoso à Lava Jato”, os procuradores ainda não tiveram tempo de ler nada publicado pelo The Intercept.

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