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Como transformar pressão em ação

"É preciso planejamento, o quanto antes, para garantir que a visão estratégica se concretize"

COP27 - Sharm El Sheikh /Egito - 2022 -  UNFCCC - Plenaria

Foto: Leandro Fonseca
Data: 11 / 2022 (Leandro Fonseca/Exame)
COP27 - Sharm El Sheikh /Egito - 2022 - UNFCCC - Plenaria Foto: Leandro Fonseca Data: 11 / 2022 (Leandro Fonseca/Exame)
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Rodrigo Santini

Publicado em 30 de novembro de 2022 às, 18h41.

Por Rodrigo Santini e Natalie Unterstell

Na COP 27, vimos uma euforia em torno da volta do Brasil para a arena das negociações climáticas. Após 4 anos sem uma voz oficial ativa na construção de "regras do jogo" que aceleram a transformação global para carbono zero e maior resiliência perante os impactos da mudança do clima, os sinais dados pelo discurso de Luíz Inácio Lula da Silva e pelos encontros do presidente eleito no Egito são promissores para a diplomacia e a política internacional.

Contudo, a expectativa positiva carrega também enorme carga de pressão para que o Brasil reverta o curso de carbonização atual na prática. Partindo para a ação, um dos primeiros passos para carimbar de vez o nosso passaporte da reentrada na arena diplomática é abrir espaço para a revisão da NDC do Brasil.

A NDC, sigla em inglês para Contribuição Nacionalmente Determinada, reúne os compromissos de cada país signatário do Acordo de Paris para contribuir com a meta global de redução de emissões de gases de efeito estufa. Aquilo que se inscreve em uma NDC tem efeito sinalizador para os agentes econômicos e políticos. Debatê-la, portanto, ajuda tanto a construir um sinal realista quanto preparar o terreno para que os atores nacionais aproveitem as oportunidades decorrentes.

Atualmente, as metas contidas na NDC do Brasil são confusas, ambíguas e não estimulam o setor privado a se organizar em torno de metas de curto prazo. Não à toa, o único sinal retido pelas empresas é que o Brasil almeja realizar uma transição para carbono zero no longo prazo.

Mas é preciso planejamento, o quanto antes, para garantir que a visão estratégica se concretize. Como disse Mark Carney, hoje líder da Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ) e antes banqueiro central da Inglaterra, é preciso uma transição suave ou podemos pular em desespero para o precipício. Isso pode ser muito ruim para os negócios: imagine o quebra-quebra se todos os agentes resolverem desinvestir de petróleo de uma vez só, juntos? Seria péssimo para as finanças públicas e a sociedade, que também dependem de uma transição do ponto de vista das suas fontes de arrecadação, emprego, e assim por diante. Portanto, quando ouvimos sobre "justiça climática", precisamos pensar nos passos concretos de trocar não apenas fontes de energia, como petróleo, gás e carvão, além de carros com motor a combustão, por fontes renováveis e tecnologias de baixo carbono. Estamos falando de transição de modelos de trabalho, renda e negócios.

A rede global de Empresas B trata essa questão desde a sua concepção. Somos um conjunto de empresas que buscam nos desafios impostos por anos de um sistema econômico falido, injusto e predatório oportunidades para gerar soluções e negócios. Entre as Empresas B brasileiras, temos representantes que estão investindo em soluções de energias renováveis como a ComBio, que desenvolve projetos de geração de vapor e cogeração de energia elétrica com biomassa, a Sunew, líder mundial na produção de filmes fotovoltaicos usados em painéis solares, a Órigo Energia, que oferece soluções de energia renovável por meio de fazendas solares e de biogás, e a Gerdau Summit, com fornece peças para a geração de energia eólica.

No ramo de bens de consumo, destacamos a atuação da  Natura, que além de privilegiar a sociobiodiversidade amazônica em seus produtos, há mais de uma década, quando o assunto não estava tão em voga como agora, lançou o Programa Natura Carbono Neutro, com o objetivo de reduzir e neutralizar as emissões de gases do efeito estufa decorrentes de suas atividades e em toda a sua cadeia de valor. A Patagônia, também engajada na pauta climática, neste ano anunciou que 100% de seu lucro futuro será destinado para o combate ao aquecimento global. E, com atuação local, a 100% Amazônia e a Manioca são Empresas B da Região Norte que apoiam o desenvolvimento de fornecedores locais e a comercialização de produtos cultivados na Amazônia, contribuindo para o desenvolvimento social e econômico da região.

Recomendamos que seja aberto um processo estruturado de revisão da NDC do Brasil, pelo governo e com toda sociedade, para definir com muita clareza o que podemos fazer como nação e qual o nível de ambição conjunta dos setores da nossa economia.

O Movimento B está à disposição para transformar os sinais de uma NDC com a potência do Brasil em oportunidades de negócios, parcerias e investimentos concretos, em todas as regiões do Brasil, focando na redução de emissões almejada para o ano de 2025.

Acreditamos que, assim, o terreno fértil do novo ciclo político irá abrir caminhos justos e amigáveis a quem realiza negócios de impacto no Brasil, com efeito não só para reduzir as emissões de carbono, mas também as desigualdades.

*Rodrigo Santini é Diretor Executivo do Sistema B, Natalie Unterstell é Conselheira do Sistema B Brasil.