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Você também tem saudades do Steve Jobs?

Qual é o novo propósito da Apple?

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Relacionamento antes do Marketing

Publicado em 12 de setembro de 2016 às, 14h12.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 07h29.

Há quase 1 ano, em 14/09/2015, coloquei um artigo aqui neste blog logo após o evento anual da Apple para lançamento de produtos. Falei nele sobre os motivos pelos quais eu sentia que a Apple não era mais a mesma e havia “perdido a sua alma”. Pois bem, escrevo agora depois de ter assistido parte do mais recente evento de lançamento de produtos da Apple, realizado no último dia em 7 de setembro e novamente senti saudades da “alma” da empresa, que para mim e (acredito) para muitos, infelizmente, parece que estava mesmo apenas na figura do Steve Jobs. Logicamente não como pessoa, até porque ele não era fácil, mas sim como visionário.

Hoje, afirmo com certeza que a Apple não é mais a mesma porque, juntamente com o Steve Jobs, ela perdeu o seu propósito inicial. Aquilo que sempre a direcionou e a transformou no ícone que todos nós conhecemos e que não vejo mais refletido nos produtos atuais, como o iPhone 7 (será que Steve Jobs manteria este nome?) ou mesmo com os AirPods.

Eu havia terminado o artigo anterior com o seguinte parágrafo:

Design by Jonathan Mak (www.jonmak.com)

Design by Jonathan Mak (www.jonmak.com)

“Junto com a sua alma, vejo o propósito da empresa sumindo também. Talvez, se a minha sensação estiver correta, em alguns anos, todo diferencial sobre o qual ela foi imaginada e construída já terá se perdido, juntamente com o charme e o desejo que a marca causa em muitas pessoas, e ela será uma empresa igual às demais, buscando “diferenciais” simplesmente querendo fazer melhor o que os concorrentes fizeram primeiro. Talvez ela continue também uma empresa com um valor de mercado muito alto, mas ela não será mais a mesma. Espero estar errado.”

Mas, afinal, qual era o propósito da Apple?

Jonathan Ive, responsável pelo design da Apple, em uma entrevista ao Evening Standard em 2012, disse que Apple é o que é porque, entre outras coisas, o objetivo dela não é mais ganhar dinheiro, como foi no período em que Steve Jobs esteve afastado da direção, mas sim de fazer bons produtos. “Objetos simples, objetos que você não pode imaginar de outra maneira”, disse Ive, justificando a mudança de foco depois da volta do Steve Jobs ao comando da empresa, nos anos 90.

Depois de ler a biografia e outros livros sobre Steve Jobs, entendi que seu propósito maior era transformar a Apple em uma referência do mundo da tecnologia, mas não como as outras empresas da área. Ele queria que a Apple fosse referência de inovação, de design, que quebrasse o status quo e virasse um ícone cultural.

Simon Sinek, em sua palestra no TED explicando o Golden Circle, também usou a Apple e seu propósito como exemplo para mostrar como as pessoas se relacionam com uma marca.

A Apple de hoje mudou este propósito, mas entendo que nem sempre grandes mudanças de gestão nas empresas significam que elas necessariamente terão que mudar também o seu propósito inicial. Quando este propósito é maior do que o fundador e vira uma cultura interna, onde é sentido e praticado por todos os funcionários de todos os escalões, mesmo com a morte do fundador, ele sobreviverá.

Um exemplo clássico disso é o da Disney, que mantém ainda hoje os sonhos e propósitos do Walt Disney, que como Steve Jobs, era inovador, visionário e carismático. Mais do que isso, ela ainda transformou tudo em metodologia e ensina isso às outras empresas através do Disney Institute.

Mas não vejo ainda como certo ou errado as mudanças da Apple. São apenas escolhas que até podem gerar grandes lucros (ou não), mas com certeza ela se desconectou de muitos de seus clientes e fãs, aqueles que compravam não os produtos que ela fazia, mas sim o que estes produtos representavam na sociedade e que agora podem estar se perguntando mesmo incoscientemente: Qual é o novo propósito da Apple?