Relacionamento do tipo Fast Food
O relacionamento que você estabelece com seu cliente é tipo Fast Food ou Slow Food? E o de sua empresa com os fornecedores e clientes?
Publicado em 15 de janeiro de 2018 às, 07h00.
Última atualização em 15 de janeiro de 2018 às, 07h00.
Recente minha filha pediu em casa um sanduiche através de um famoso aplicativo de delivery.
Embora o único costume em casa seja a boa e velha pizza, já fazia algum tempo que ela queria experimentar a ‘novidade’.
Por acaso, há alguns anos tive oportunidade de conversar com uma empresa do segmento que estava desembarcando no Brasil e acabei me cadastrando em alguns aplicativos e fazendo alguma pesquisa para compreender melhor como funcionava o segmento.
O cadastro que eu tinha era tão antigo que o padrão de usuário e senha já tinham sido alterados fazia tempo e meu acesso não era mais válido. Depois de “clica daqui, clica dali”, conseguimos ativar o cadastro e minha filha finalmente iniciou a busca para fazer seu primeiro pedido pelo celular.
Percebi de cara o quão importante é a construção visual e de navegação de um aplicativo. Diria que eles são o equivalente à qualidade da preparação visual e de treinamento de uma equipe presencial de atendimento de loja. Para o cliente digital, eles são a porta do Relacionamento.
Minha filha soltou então uma frase interessante:
- Pai, o que eu peço?
- (Risos). Você está com fome?
- Sim, mas estou um pouco perdida aqui no aplicativo.
- Acho que um sanduiche deve ser o menos arriscado para um primeiro pedido. O que acha?
- É... boa ideia. Vou pedir um cheeseburguer.
- Já sabe de onde?
- Tem algumas opções aqui, alguns lugares que eu nunca ouvi falar. Vou tentar este aqui. Pode ser?
- Vamos em frente!
Pedido feito. O aplicativo mostrou então o tempo estimado de entrega e um status do pedido.
Até o momento da entrega tudo me pareceu fair enough. Nada inesperado, sem grandes surpresas.
As surpresas aconteceram a partir do momento da entrega.
A noite estava calma, o porteiro de folga, então fiquei atento para ver se ouvia alguma moto parando na frente do prédio. O motoqueiro chegou, nos chamou pelo interfone e descemos correndo com aquela expectativa de presente chegando.
A primeira coisa que me chamou a atenção foi a embalagem. Notei que o saco de papel que guardava o sanduiche era de um aplicativo diferente do que eu havia pedido!
Para confirmar, assim que peguei o pacote, perguntei se era do “comida_no_aplicativo.com”.
- Ah, sim, é que a gente também atende através deste outro aplicativo. Esse aqui é até melhor do que o Sr. pediu (nesse momento vi os milhões que o aplicativo tem gasto em propaganda, irem pelo ralo). Mas o melhor mesmo é o Sr. pedir direto conosco. Aí o sanduíche sai até mais barato.
Um pouco assustado e confuso, fiz o pagamento e subimos.
O sanduíche era tão grande que minha filha acabou dividindo um pouco com minha esposa e com meu filho. A aceitação foi geral.
Como a comida acabou chamando a atenção, minha esposa resolveu passar na frente da loja e ter uma segunda impressão. Na visão dela, seria um lugar onde ela jamais compraria um sanduiche baseada na fachada do local.
Considerando a experiência toda, resolvi tirar algumas impressões com a família e cheguei a algumas conclusões/impressões que compartilho:
O aplicativo que usei (que compreendo seja um dos maiores), não está muito preocupado com o Relacionamento. Considerando que em uma venda em cadeia como é o caso, toda cadeia precisa estar em sintonia com o cliente. Minha visão é que o aplicativo está preocupado em fazer volume, o que criou um relacionamento com o seu canal do tipo ‘Fast Food’. O Relacionamento entre o aplicativo e a loja de sanduiches durou até a primeira venda.
Palavras da minha esposa: “A ideia do aplicativo é sensacional. Acho que eu nunca teria experimentado este sanduíche se não fosse o aplicativo. A impressão que eu tenho é que eles estão preocupados em mais restaurantes na carteira do que em vender uma ideia”.
Esta última frase me chamou profundamente a atenção. Notei que, em sua maioria, as empresas tentam vender somente o que é concreto e perdem o passo com isso. Vi na prática a repercussão da colocação estupidamente simples e direta de Simon Sinek de que as pessoas compram o Por que as empresas fazem o que o fazem e não o O Que as empresas vendem.
A ideia do aplicativo no final é fantástica. Na prática, ele está canibalizando a si mesmo.
Se por acaso o Por que do aplicativo fosse, por exemplo:
- Viabilizar novos negócio de comida a se colocarem e expandirem seus negócios no mercado., eles até podem fazer isso uma primeira vez, mas uma margem mal negociada e uma venda para adesão malfeitas fazem com que a loja vá embora na primeira oportunidade’;
- Ou ainda, se o Porque é facilitar para o cliente sua comida em casa, então eu pensaria duas vezes antes de passar novamente pelo constrangimento de fazer um pedido e receber a ‘propaganda de um concorrente’ de forma tão descarada.
Minha esposa ainda completou:
- Os aplicativos de comida são, no final, todos iguais, sob o ponto de vista de solução é tudo a mesma coisa. Todas as principais pizzarias da região já têm o seu. Então para que mais um?
Os aplicativos que suprem uma necessidade estão se tornando, sem perceber, o novo Middle Man, o que é perigoso. Ninguém gosta de estar na mão de um terceiro. Ou o intermediário agrega valor a cadeia ou ele está fora do jogo. Bom negócio é aquele onde todos ganham.
Na minha leitura, ser o intermediário não é uma tarefa fácil. Neste caso, Relacionamento do tipo Slow Food, talvez faça mais sentido!