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Duas gotas bastam…

Você já observou como se dá sua relação com as marcas e produtos? É por opção, imposição ou na base da distração?

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Relacionamento antes do Marketing

Publicado em 17 de outubro de 2016 às, 08h00.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 07h27.

Às vezes me pergunto por que alguns produtos são feitos por tão poucos fabricantes.

Parece que a diversidade de escolha, em alguns, casos é restrita a uma ou duas marcas – quando muito.

Eventualmente, alguns produtos tem seu processo de produção tão caros e complexos que não faria muito sentido ter muitas empresas fabricando aquele produto. É o caso de algumas peças presentes nos carros – onde uma única empresa fornece para praticamente toda a indústria automobilística mundial – ou no caso dos extintos tubos de televisão onde haviam pouquíssimos fabricantes.

Acabamos por tornar a vida complexa demais e a forma de simplificar tem sido reduzir a diversidade. Padronizar é uma excelente forma de reduzir custos e aumentar os lucros. Padronizamos os carros, os alimentos, as moradias, a produção, a forma de consumo. Chegamos a padronizar a cultura e eventualmente as pessoas. Com o singelo discurso de ‘isto é bom’ e ‘aquilo é ruim’.

Dia destes meu filho chegou em casa com o resultado de um experimento feito na escola durante uma de suas aulas. Ele trouxe consigo uma pet de refrigerante de meio litro com um líquido viscoso laranja.

Sendo um garoto de quinze anos e de poucas palavras, apenas deixou o ‘produto’ na cozinha e disse que era o resultado da sua aula do dia e para usar pouca quantidade a cada vez. Ele disse: “Duas gotas bastam”. Com alguma insistência, minha esposa conseguiu ‘arrancar’ dele que tratava-se de um detergente feito com a formulação e a matéria prima fornecidos pelo professor de química.

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Vi nisto uma ótima oportunidade de compreender melhor nossa relação com as marcas e seus produtos.

Como não havia marca, minha primeira reação foi considerar como um produto de baixa qualidade, alguma ‘tentativa’ de detergente.

Considerando que em casa raramente a “limpeza automática” funciona, cada um busca cumprir parte das tarefas e, isto acaba responsabilizando a todos… inclusive a mim!

Decidi por fim experimentar o ‘novo produto’ e fiquei sinceramente espantado com a qualidade. O detergente produzido na aula demandava metade da quantidade para o mesmo resultado. Notei ainda que ele deixava menos resíduos de sabão na louça.

Resolvi conversar com meu filho e entender melhor sobre o que e como havia sido produzido. Ele me explicou que o detergente foi o resultado de uma experiência de química que o professor resolveu fazer em conjunto com os alunos. A proposta foi desenvolver em aula um produto biodegradável de alta qualidade. Como resultado do trabalho, o professor explicou que grande parte da indústria química deste segmento produz os produtos com uma baixa ‘performance’ para que se gaste mais e dure menos. Uma forma simples de aumentar o consumo.

Percebi com este experimento que a diversidade traz conhecimento e referências. Não falo de concorrência. Meu filho tinha a fórmula do que foi produzido e notei que não seria simples produzir o produto em casa – embora fosse possível. Acabamos trocando a baixa qualidade pela comodidade do produto pronto na prateleira do supermercado.

Me senti grato por todos os empreendedores que iniciam um novo negócio, dispostos a trazer melhores produtos e serviços para as pessoas e resolver verdadeiramente suas necessidades.

Percebi que grandes empresas tem o seu lugar ao sol, mas precisam ser continuamente questionadas pelos clientes sobre o que realmente estão agregando ao mercado.

Percebi ainda o poder de uma marca (ou da falta dela neste caso). Notei na prática o quanto estamos apegados à qualidade muitas vezes percebida de um produto apenas por ter colado em sua embalagem uma marca conhecida.